segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Os Moinhos da Ribeira Seca
Desde pequeno, conheço “Os Moinhos”, localidade da freguesia da Ribeira Seca de Vila Franca do Campo, que se localiza no prolongamento para Norte da Rua da Cruz, pois várias vezes me deslocava com o objectivo de ir para a Ribeira Nova, onde a minha família possuía uma quinta. Nos primeiros anos, nas minhas andanças, apenas passava por quatro moinhos, entre eles, o do Sr. José Esteves, o último moleiro da localidade a moer usando um moinho de água e o da Sra. Hortênsia “Viola” que servia de moradia.
Mais tarde, andava já eu na Escola Primária quando se terá falado na existência de um sobreiro, na Ribeira da Granja, muito perto da chamada nascente do Galego. Um dia, penso que na companhia do Virgínio Carvalho, fui ver a árvore que fornecia a cortiça e que me era familiar apenas através das rolhas. No trajecto, tive a oportunidade de passar por outros moinhos, onde ainda viviam várias famílias, dois dos quais vieram a ser adquiridos por meu pai e um que pertencia a familiares da minha avó, Maria Verdadeiro.
O senhor Manuel Soares Ferreira, em 1988, no jornal “A Crença”, num artigo intitulado “Os Moinhos dos Tios (1)” mencionou a existência de 22 moinhos ao longo do curso da Ribeira Seca, desde a Granja até ao mar. Vou recorrer ao seu texto para enumerá-los de Norte para Sul, indicando, sempre que possível, o seu ocupante ou proprietário no final da década de sessenta ou princípio da de setenta do século passado.
O primeiro moinho era do moleiro Tio Joaquim, a seguir do Tio João Couto e o Terceiro do Tio Zurrão. Se não estou em erro, já não me lembro destes moinhos estarem ocupados.
O quarto moinho era do Tio Arsénio e o quinto do Tio Verdadeiro. Recordo-me de um Sr. Arsénio, quase de certeza familiar do anterior e o Tio Verdadeiro seria ou o meu tio-avô Manuel Verdadeiro ou o seu pai.
O sexto moinho era do Tio Bonecas, o sétimo do Tio Moleirinho, o oitavo do Tio Sousa, o nono do Tio Escaler, o décimo do Tio Lima, o décimo primeiro do Tio Sardinha, o décimo segundo do Tio Pacheco, o décimo terceiro do Tio Vareda e o décimo quarto do tio Parola. Não sendo possível identificar estes moinhos, por me parecerem em número superior aos que conheci, aqui ficam os nomes ou alcunhas de pessoas ou famílias que em alguns deles viviam: “Estorno”, Miguel Andrade, “Polícia”, João “Viola”, Hortênsia “Viola” e José Esteves.
Depois destes e antes da Ponte da Ribeira Seca localizavam-se mais dois moinhos, o do Tio Stº Cristo e da Viúva Andrade e, depois daquela, mais três. Num destes três, localizados perto da Ponte da Ribeira das Tainhas, adquirido por uma suíça de nome Edite, se não me falha a memória, em 1972, cheguei a pernoitar.
Depois da Ponte da Ribeira das Tainhas, existiam mais dois moinhos, um deles quase junto ao mar. Neste último, viveu durante muitos anos uma senhora de nome Leopoldina que terá dado o nome à praia existente no local.
Tal como se pode depreender através da leitura do texto, os moinhos não estavam confinados a um troço da ribeira ou ao lugar dos Moinhos, mas ao longo daquela, desde a Granja até à foz. Hoje, dos vinte e dois moinhos de água que existiram, nenhum desempenha a função para que foi construído. Apenas um moinho está a servir de moradia para uma família, estando a maioria em ruínas.
Para além dos moinhos de água, existiram, também, dois eléctricos. Um, situado na Rua Nova, que pertenceu a meu tio Manuel Verdadeiro e depois, a meu primo Ângelo Verdadeiro e o outro localizado na Rua do Jogo, hoje transformado em Museu, que pertenceu a José de Sousa.
(1) De acordo com o senhor Manuel Soares Ferreira, “Tio” era o termo usado para designar uma pessoa de mais idade.
Ribeira Seca, 29 de Julho de 2010
Teófilo José Soares de Braga
(Publicado no jornal "A Vila", nº412, 1 a 15 de Agosto de 2010)
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