A ATUALIDADE DE ALDO LEOPOLD
Na procura de
respostas para ultrapassar a situação em que nos encontramos, vários autores apontam
a incapacidade ou insuficiência da ética tradicional para responder às questões
levantadas pela atual crise, advogando a necessidade do homem adotar uma nova
ética na sua relação com os outros e com o planeta.
Aldo Leopold
(1887-1948), engenheiro florestal norte-americano, é um nome incontornável quando
se fala de ética ambiental, sendo “Pensar como uma Montanha” (tradução
portuguesa de A Sand County Almanac), para alguns autores, o “livro mais
importante alguma vez escrito”.
Na primeira
parte de “Pensar como uma Montanha”, Aldo Leopold apresenta, mês após mês, um
registo das suas observações (e reflexões a propósito do que via e das
alterações que aconteciam) sobre a região onde passava os fins de semana com a
família numa quinta que recuperou a que chamava A Choupana. Na segunda parte do
livro, é-nos apresentado um conjunto de capítulos de índole mais filosófica
“deste engenheiro dos bosques e das planícies, que soube ver mais fundo que a
esmagadora maioria dos filósofos profissionais do seu tempo” (Soromenho-Marques).
Em todo o livro
perpassa a ideia da grande importância do contacto com a natureza, para o homem
poder viver em harmonia com a terra e com os outros homens. Os seguintes extratos,
elucidam bem o atrás exposto:
“Há dois perigos espirituais em não
possuir uma quinta. Um é o perigo de supor que o pequeno-almoço vem da
mercearia, e o outro que o calor vem da caldeira.”
“Choramos apenas aquilo que
conhecemos. O desaparecimento do Silphium do oeste da circunscrição de Dane não
é caso para luto se o conhecermos apenas como um nome num livro de botânica.”
Outra das questões abordadas é a da educação e
do ensino que, de acordo com Emanuel Medeiros, docente da Universidade dos
Açores, para além “de ser uma tarefa de lucidez e um compromisso com a
verdade”, tem de “desenvolver a interdisciplinaridade, no contexto escolar, e o
diálogo interpessoal em todos os contextos educativos”. A propósito da educação
e dos professores escreveu Leopold:
“A educação, é esse o meu receio,
consiste em aprender a ver uma coisa tornando-nos cegos para outra”.
“Cada um deles [professores] seleciona
um instrumento e passa a vida a separá-lo dos outros e a descrever-lhe as
cordas e teclados….Um professor pode tanger as cordas do seu próprio
instrumento, mas nunca as de um outro, e se conseguir ouvir a música nunca
deverá admiti-lo junto dos seus pares ou dos seus alunos. Pois todos estão
coibidos por um tabu férreo que decreta que a construção dos instrumentos é do
domínio da ciência, ao passo que a deteção da harmonia é do domínio dos
poetas”.
Há cerca de 60 anos, Aldo Leopold já
considerava desequilibrado “um sistema de conservação da natureza baseado
apenas no interesse económico próprio” porque tendia a “ignorar, e por isso
eventualmente a eliminar numerosos elementos da comunidade da terra desprovidos
de valor comercial, mas que são (tanto quanto sabemos) essenciais para que ela
funcione saudavelmente” e acrescentava que as instituições de educação para a
conservação não ensinavam nenhuma obrigação ética para com a terra.
No mais conhecido e debatido texto de Pensar como uma
Montanha intitulado A Ética da Terra, Leopold, depois de referir que “a
relação com a terra é ainda estritamente económica, implicando privilégios mas
não obrigações”, afirma que “a ética da terra apenas alarga os limites da
comunidade de forma a incluir nela os solos, as águas, as plantas e ou os
animais, ou, coletivamente: a terra”
Com a ética da terra, não é impedida a alteração e gestão
do solo, das águas, das comunidades vegetais ou dos animais mas é alterada a
postura do homem que deixa de ser conquistador e passa a ser membro de uma
comunidade alargada.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, nº 2853, 24 de Julho de 2013, p.16)
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