A
propósito do aniversário da morte de Alice Moderno
No
próximo dia 20, do corrente mês de fevereiro, fará 68 anos que faleceu Alice
Moderno, personagem ímpar que marcou a sua época e que continua a inspirar
todos os que lutam por uma sociedade melhor, nomeadamente para quem se bate
para que o bem-estar animal e os direitos dos animais sejam reconhecidos na
prática e não passem de meras palavras para embelezar discursos de
circunstância.
Um
trabalho importante, talvez o de maior envergadura até ao momento, para a
perpetuação da memória de Alice Moderno foi feito pela professora Doutora Maria
da Conceição Vilhena que, para além de vários textos, foi autora dos livros “Alice Moderno: a mulher e a obra”, editado
pela Direção Regional dos Assuntos Culturais e “Uma Mulher Pioneira” editado pelas Edições Salamandra.
Nos
nossos tempos livres, temos procurado pesquisar e compilar, nos jornais de
Ponta Delgada onde ela colaborou ou chegou a dirigir, como o “Correio dos
Açores”, onde manteve durante muitos anos a seção “Notas Zoófilas” “A Folha”,
“O Recreio das Salas”, o “Diário dos Açores” e o Académico”, os seus escritos
relativos à questão animal, com vista a conhecer melhor a sua vultuosa obra, a
aprender com os erros do passado e a divulgar, sobretudo junto das pessoas que
hoje, nos Açores, estão a prosseguir a luta por ela abraçada durante uma parte
significativa da sua vida.
Conhecendo
relativamente bem a sua personalidade, tal como já esperávamos, temos
encontrado textos de Alice Moderno que com ligeiras adaptações mantêm-se
perfeitamente atuais. De entre os exemplos possíveis, destacamos “Animais
nossos amigos…”, texto de um discurso proferido por Alice Moderno numa reunião
da SMPA - Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, que foi publicado, no
Correio dos Açores, a 30 de Janeiro de 1934.
No
referido texto, Alice Moderno depois de mencionar que “em todos os países
cultos, a proteção e assistência aos animais constitui um dever cívico, a que
ninguém se exime, e pelo cumprimento do qual as leis olham cuidadosamente,
rigorosamente, mesmo”, lamenta que, “em São Miguel, com sincera mágoa” pouco
havia sido feito.
Sabendo-se
que a SMPA foi fundada em 1911 e que uma vintena de anos depois a situação,
segundo ela, estava muito longe de ser a ideal interessa-nos saber a razão?
As
autoridades não colaboravam com a SMPA, as propostas da SMPA eram muito
avançadas para a época, em que as dificuldades económicas de uma parte
significativa da população eram enormes, ou os próprios dirigentes da sociedade
pela sua apatia não foram capazes de implementar as suas ideias/propostas?
Hoje,
em que uma parte crescente dos cidadãos se empenha em movimentos de
solidariedade, não só para com humanos que vivem em regiões com poucos recursos
naturais ou são governados por dirigentes corruptos, mas também para com quem
na nossa terra foi espoliado do seu direito a ter um trabalho digno e uma
remuneração justa, e onde a causa animal ganha, dia a dia, cada vez mais
seguidores, é indispensável conhecer a vida e a obra de uma mulher que
despendeu muitas das suas energias em várias causas humanitárias, como é a
proteção dos animais, que segundo ela “sofrem muitas vezes estoicamente, sem um
queixume, os maus tratos que a crueldade humana lhes inflige”.
Desafiamos
as entidades oficiais a organizar um ou mais eventos que contribuam para dar a
conhecer a obra de Alice Moderno, na literatura, no ensino, na luta pelos
direitos das mulheres, na defesa dos animais e das plantas, às gerações que
hoje a ignoram por completo.
Se
nenhuma entidade oficial se mostrar disponível para tal, as associações de
proteção dos animais deviam juntar esforços para o fazer, pelo menos no que diz
respeito à causa que abraçaram.
Outro
grande passo para perpetuar a sua memória será a luta pela concretização do
grande sonho da SMPA e de Alice Moderno que era “estabelecer um Lazareto para
tratamento dos animais achados quando abandonados pelo dono” e que hoje deve ser
o de “criar” um moderno Hospital Veterinário “Alice Moderno”.
Teófilo
Braga
(Correio
dos Açores, nº 3023, 19 de Fevereiro de 2014, p.11)
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