A propósito das comemorações que se aproximam
No próximo dia 21 comemora-se o Dia Mundial da Floresta e no dia seguinte o Dia Mundial da Água.
A comemoração do primeiro dia da árvore iniciou-se em 1872 no estado do Nebraska, nos Estados Unidos da América, e expandiu-se para quase todo o mundo, tendo chegado a Portugal pela primeira vez em 1913. Mais tarde, foi estabelecido pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) a comemoração do Dia Mundial da Floresta, no dia 21 de Março, tendo o mesmo sido celebrado pela primeira vez, em Portugal, em 1972.
Por sua vez, o Dia Mundial da Água foi instituído pela Assembleia Geral da ONU e começou a ser comemorado a partir de 1993, de acordo com as recomendações constantes da Agenda 21, que nos Açores e não só nunca passou de letra de papel.
Neste momento, algumas entidades já estarão a elaborar os programas com vista à celebração daquelas datas. Assim, prevejo que no primeiro dia serão plantadas algumas árvores ou arbustos e no segundo serão distribuídos alguns folhetos a chamar a atenção para a escassez da água, sobretudo em África ou noutra qualquer região remota do Globo.
Como é hábito, não se costuma refletir sobre o que foi feito em anos anteriores, não se tirando, assim, lições do que falhou nem potenciando o que foi positivo. Assim, no que diz respeito ao dia da árvore vai-se continuar a plantar espécies em locais desadequados aos seus portes, vai-se continuar a plantar, sobretudo nas escolas, para abandonar as plantas no período de férias, acabando a esmagadora maioria delas por morrer.
Algumas autarquias vão continuar a fazer plantações nas bermas dos caminhos, sem fazerem caldeiras em redor das plantas, para depois estas acabarem por morrer vítimas das sedas ou das lâminas das roçadoras.
Já que fiz referência às autarquias, não podia deixar de mencionar a atitude arboricida que demonstram muitas delas e alguns serviços governamentais ao promoverem podas que transformam árvores bonitas e frondosas em postes telefónicos.
Perfeito disparate é importar, sem espírito crítico, algumas iniciativas que são implementadas noutras paragens, como por exemplo a instalação de ninhos artificiais, sem se ter estudado profundamente a necessidade dos mesmos. Com efeito, a instalação de ninhos para aves em zonas urbanas ou outras, não existindo nenhuma espécie com carência de locais de nidificação poderá ser contraproducente, pois poder-se-á estar a favorecer a propagação de uma espécie invasora, como é o pardal que, não sendo tonto, irá, quase de certeza, aproveitar a boleia.
Os atentados ao bom gosto e ao bom senso e ao património natural só são possíveis, entre outras, pelas seguintes razões:
- A grande massa das pessoas permanece apática face a todas as arbitrariedades e atentados cometidos por quem tinha a obrigação de atuar de outro modo;
- Os ditos responsáveis não seguem os pareceres técnicos ou não estão assessorados por técnicos devidamente preparados;
- Os responsáveis para além de não possuírem competências compatíveis com os cargos que desempenham não possuem a humildade democrática de ouvir opiniões idóneas;
- A educação ambiental, nos Açores, nunca foi uma opção assumida em pleno, sendo canalizada apenas para a camada etária mais jovem, a que estava em idade escolar;
- A educação ambiental foi desvirtuada e quase sempre substituída pela educação científica, isto é limitou-se ao ensino da componente biológica do ambiente;
- Apesar do referido, algum esforço que houve na promoção da educação ambiental foi, nos últimos anos, completamente colocado de parte pelas entidades que a deviam implementar.
Como considerações finais, aproveito para reafirmar o que tenho dito e escrito em várias ocasiões: embora seja importante não esquecer as comemorações desta ou daquela efeméride, o que verdadeiramente interessa é educar pelo e para o ambiente todos os dias. Além disso, não basta comemorar por comemorar, é importante não deseducar, como é o caso da plantação de árvores ou arbustos a cinco centímetros de paredes, a construção de ninhos para espécies que competem com as nativas dos Açores ou o lançamento de balões que não ficam na estratosfera até ao fim dos tempos.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, nº 30297, 12 de Março de 2014, p.11)
Sem comentários:
Enviar um comentário