sexta-feira, 5 de setembro de 2014
Em 1938 era assim
A proteção dos animais em 1938
Para a elaboração deste texto recorri apenas ao jornal Correio dos Açores que pesquisei com o objetivo de conhecer melhor o labor de Alice Moderno em defesa dos animais.
Para além de textos de temática diversa, em 1938, Alice Moderno publicou, no Correio dos Açores, onze “Notas Zoófilas”, nas quais foram abordados, entre outros, os seguintes temas: o reconhecimento a cidadãos amigos dos animais, como os senhores António de Sousa Manteiga, Manuel Albano Botelho e José Caetano de Sousa; o elogio às qualidades de cães e gatos; o tratamento de animais nos Zoos em vários países; os gatos na literatura; a assistência veterinária aos animais e outros animais de companhia.
No mês de Maio, numa pequena nota, o Correio dos Açores dá a conhecer que na montra do estabelecimento comercial do sr. Manuel Machado Botelho, secretário da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, encontram-se em exposição “dezenas de aguilhões, arma com que os condutores de carroças costumam estimular o zelo dos infelizes quadrúpedes que lhes granjeiam arduamente o pão nosso de cada dia, e recebem em recompensa magras rações e abundantes maus tratos”. Os mencionados aguilhões eram por ele “apreendidos aos selvagens carroceiros” durante as suas várias e contínuas digressões no campo”.
Também em Maio, o jornal divulgou um texto, possivelmente de Alice Moderno, onde é denunciado o envenenamento de um cão nas Furnas, “que foi sair a estrebuchar em frente ao Hotel Terra Nostra!”, chamando a atenção para o ato de crueldade e para “ as consequências que pode ter para o futuro turístico” de São Miguel.
No mês de Junho do ano mencionado, o senhor Martim Faria e Maia, da Lagoa, publicou “uma nota zoófila interessante”, onde relatou o caso de uma cadela sua “A Francesa” que amamentou dois gatinhos, um dos quais passou a ser “seu inseparável companheiro”.
A história da “Francesa” acaba com a sua morte por velhice e doença. Segundo Martim Faria e Maia, após o ocorrido, “o gato miou durante dias à procura da mãe adotiva e quinze dias passados morreu também.
Ainda, em Junho, o jornal divulgou que em resultado das queixas apresentadas às autoridades pela SMPA:
- um indivíduo das Calhetas que maltratou um cão foi remetido para a cadeia da Comarca da Ribeira Grande;
- havia sido preso um cidadão dos Fenai da Luz que atirou uma cabra do alto de uma rocha;
- estava a decorrer uma investigação para apurar quem, na Bretanha, havia cortado a cauda a três novilhos.
No mesmo texto é divulgada a colaboração entre o Posto Zootécnico e a SMPA – Sociedade Micaelense Protetora dos Animais. Assim, a SMPA havia fornecido ao referido posto, para tratamento de animais, vomitivos, clorofórmio e algodão.
No mês de Setembro, o jornal volta a referir-se ao assunto dos animais de tiro, vítimas das aguilhadas, elogiando o senhor José de Medeiros Mota, residente no Ramalho, que por ser “alto e de empenado, consegue submetê-los e corta-lhes a extremidade da aguilhada, que é, como quem diz, do instrumento de tortura”.
No mesmo mês, a propósito do envenenamento de peixes do tanque do Campo de São Francisco, a Sociedade Protetora dos Animais de Lisboa mandou dois ofícios, um dirigido ao Governador Civil e o outro à Presidente da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais.
No ofício dirigido à SMPA, transcrito na íntegra pelo Correio dos Açores, a dado passo, pode ler-se:
“Há muito terreno inculto a desbravar e muita consciência a imbuir nas máximas divinas de Cristo. E é para isso que trabalhamos – nós, os zoofilistas – sem descanso sem um momento de fadiga, para que Portugal possa ser visto e encarado lá fora como Nação próspera e grandiosa sob o ponto de vista humanitário”.
O leitor faça um paralelo entre a situação atual e a de 1938 e tire a suas conclusões.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, nº 30428, 3 de Setembro de 2014, p.14)
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