quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015
O desamor pelas árvores
O desamor pelas árvores
1- As podas de hoje e as de ontem
Há alguns dias passei em frente à chamada Escola da Mãe de Deus e deparei-me com uns “objetos” que mais pareciam postes de eletricidade ou de telefone do que os seres vivos que conhecemos como sendo árvores.
Como se não bastasse o mau podar ao longo nas estradas e caminhos em várias ilhas dos Açores, a decapitação das árvores também ocorre no interior dos próprios estabelecimentos escolares, de que a escola referida, infelizmente, não é um caso isolado.
Há escolas onde árvores que produzem bonitas flores nunca chegam a florir, há escolas onde, com o pretexto da segurança, todos os anos as árvores são decepadas, não ficando um único ramo para amostra, há escolas que possuem cursos profissionais ou afins onde não se ensina as técnicas de bem podar.
Em suma, se tomássemos a árvore pela floresta, diríamos que nas escolas apenas se deseduca.
Mas, o que faz com que as coisas sejam assim e não se alterem os (maus) hábitos?
Sinceramente desconhecemos, mas poderá estar relacionado com a má preparação ou desmotivação/desleixo dos professores, com a insensibilidade ou falta de informação dos dirigentes escolares, com a falta de bom senso dos autarcas responsáveis pelos edifícios escolares, com a ignorância dos podadores ou com a maldita tradição que nos impede de remar contra a corrente, apesar de por vezes termos consciência de estarmos a caminhar para o abismo.
De acordo com o que nos é dado conhecer, a arte de má podar já é antiga e ao longo dos tempos tem sido denunciada na comunicação social dos Açores, como foi o caso de “um amigo das árvores” que numa carta, datada de Fevereiro de 1930, dirigida ao jornal Correio dos Açores, reclamou contra o modo como foram podadas várias árvores junto à Matriz de Ponta Delgada.
Segundo o colaborador do Correio dos Açores que teve a paciência de descrever como deviam ser feitas as podas, a situação era tal que causava “ horror ver como foram dados os cortes, parecendo mesmo que o podador não tem a mínima noção da forma de fazer uso do serrote”.
2- Plantar em vão
Há mais vinte anos, pelo menos duas vezes por dia, passo no caminho da Giesta, que liga a Estrada da Ribeira Grande à freguesia do Pico da Pedra, e verifico que já foram mais do que muitas as tentativas feitas pelos autarcas de arborizar aquela artéria.
Apesar, creio, da boa vontade dos responsáveis os resultados estão à vista, isto é poucas são as árvores existentes e as que lá estão não têm o crescimento que era suposto que tivessem.
Muitas poderão ser as razões apontadas, mas uma possível causa, não temos dúvidas, estará relacionada com o facto de as árvores não estarem no interior de uma caldeira ou então protegidas de modo a evitar que a seda ou a lâmina das roçadoras fira o seu tronco.
Com o esquecimento da função do sacho e com a pressa de apresentar trabalho feito, o recurso à monda manual também deixou de ser moda e os novos métodos não são devidamente aplicados tanto nos caminhos como nas escolas.
Nos estabelecimentos escolares as roçadoras, também, são rainhas em mutilar troncos de árvores e arbustos as quais também são vítimas de algumas comemorações, de que são exemplo os dias da Árvore, da Terra e do Ambiente.
Nos dias referidos, uma das atividades prediletas é a plantação de espécies diversas com destaque, nos últimos anos, para as nativas e endémicas, que regra geral acabam por morrer no mesmo ano. Com efeito, a época tardia em que é feita a plantação faz com que com a entrada do período de férias as plantas fiquem ao abandono, não sendo devidamente regadas.
Será interessante sabermos quantas plantas são cedidas anualmente a todas as escolas dos Açores e quantas sobrevivem ao longo do tempo.
Mas, mais importante será repensarmos o modo como voluntariamente ou não tratamos as plantas e como é feita a sensibilização para a sua proteção.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30554, 11 de fevereiro de 2015)
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