quarta-feira, 20 de maio de 2015
Com o nome de Alice Moderno
Com o nome de Alice Moderno
No passado dia 6 de Maio, o diretor Regional da Agricultura, Fernando Sousa apresentou, na Escola Básica Integrada dos Arrifes, o projeto “Alice Moderno” que tem por objetivo a luta “contra o abandono e maus tratos a animais”.
De acordo com as notícias publicadas o projeto limita-se à “colocação de 'outdoors' nas ruas, distribuição de cartazes e folhetos informativos nas escolas e postos da RIAC”. Não percebi se no âmbito do mesmo será instalado no chamado Hospital Alice Moderno o tão reclamado, pelos ecologistas, Centro de Recuperação de Aves Selvagens do Grupo Oriental.
Em primeiro lugar queria felicitar todos os que, a nível oficial, contribuíram para que este primeiro passo tenha sido dado, mas não queria que passasse despercebido que para se chegar aqui houve o empenho de muitos cidadãos, através de petições à ALRA, artigos de opinião e de muito trabalho, no dia-a-dia, em defesa de uma sociedade melhor para todos, humanos e não humanos.
A notícia oficial da apresentação do projeto refere “a presença de cães da Associação Animais de Rua” que é uma entidade que me merece todo o respeito pelo notável trabalho que está a fazer na ilha de São Miguel em prol dos cães e sobretudo dos gatos maltratados e abandonados por seres que se dizem humanos. Contudo, estranhei a referência aos cães e nenhuma menção às pessoas que são quem implementa as atividades, bem como a não alusão às demais associações de proteção das animais sedeadas na ilha de São Miguel e que, na medida das suas possibilidades, trabalham para a mesma causa. Será que foi apenas esquecimento do redator da notícia ou a APA- Associação de Proteção dos Animais dos Açores, a Cantinho dos Animais dos Açores e a AVIPAA- Associação Vilafranquense de Proteção dos Animais e do Ambiente foram esquecidas?
Um projeto como o que vimos referindo não terá o sucesso que é exigido se se ficar pelos cartazes e “outdoors” e pelos gabinetes do RIAC e ignorar os principais agentes da defesa animal que são os cidadãos sensíveis e as diversas associações existentes, bem como os educadores e professores que trabalham nas escolas açorianas.
A propósito do parágrafo anterior, já que se está a invocar o nome de Alice Moderno, é importante não esquecer que, logo que assumiu a presidência da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, em 1914, uma das primeiras medidas por ela tomada foi o envio de uma comunicação aos professores “pedindo-lhes para que, mensalmente, façam uma prelecção aos seus alunos, incutindo no espírito dos mesmos a bondade para com os animais, que não é mais do que um coeficiente da bondade universal”.
Outra iniciativa no âmbito do referido projeto é a criação, em parceria com a Delegação dos Açores da Ordem dos Médicos Veterinários, do “Voucher Alice Moderno” que não sabemos se será a adaptação de uma iniciativa que já existe a nível nacional ou se se trata de algo novo. Sobre este, pouco temos a dizer, mas tudo o que vier por bem é bem-vindo.
Por último, é preciso não esquecer que, em 2012, os subscritores da petição “ Por uma nova política para com os animais de companhia” reivindicavam mais, muito mais, do que foi agora anunciado.
Para que não caia no esquecimento aqui vai o pretendido:
“Solicitamos que a Região Autónoma dos Açores tome as devidas medidas legislativas no sentido da promoção, por um lado, da esterilização dos animais errantes, como método eficaz do controlo das populações, e, por outro lado, do incentivo à adoção responsável.
Solicitamos ainda que, seja respeitada a memória de Alice Moderno, pioneira da proteção dos animais nos Açores, transformando o atual Hospital Veterinário Alice Moderno, em São Miguel, em hospital público, onde os animais temporariamente a cargo de associações de proteção ou de detentores com dificuldade ou incapacidade económica possam ter acesso a tratamentos a preços simbólicos. Nas restantes ilhas, a função do Hospital Alice Moderno poderia ficar a cargo de um Centro de Recolha Oficial.”
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30634, 20 de maio de 2015, p.14)
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