terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

A pedagogia libertária de Tolstoi


A Pedagogia Libertária de Tolstoi

Penso que só a liberdade total, ou seja, a ausência de coerção, ou de vantagens tanto para os que são ensinados como para os que ensinam, libertaria as pessoas de um grande número de males que origina agora a instrução coercitiva e egoísta aceite em todo o lado… (Tolstoi)

Tendo como fim estimular a autonomia dos alunos e a participação de todos no processo educativo, a pedagogia libertária tem, de acordo com alguns autores, três princípios básicos: o antiautoritarismo, a educação integral e a autogestão pedagógica.

No que diz respeito ao antiautoritarismo, há correntes pedagógicas que excluem qualquer tipo de autoridade exercida sobre os educandos e há outras que consideram que os educadores, inevitavelmente, exercem sobe os educandos uma autoridade moral.

Em relação à educação integral, para além de estar associada à igualdade de oportunidades para todos, exige-se que o trabalho manual seja tão valorizado como o intelectual.

Por último, em relação à autogestão pedagógica, defende-se que os espaços educativos/escolas devem ser autónomos, sendo dirigidos pelas pessoas que deles fazem parte.

De entre os difusores das pedagogias libertárias estão pensadores como Proudhon, Freinet, Ferrer e Guardia, Tolstoi e Alexander Sutherland Neill.

Neste texto, apenas fazermos referência a algumas ideias defendidas por Tolstoi, um dos maiores escritores de todos os tempos, cuja obra no campo do ensino e da educação das crianças é quase desconhecida.

Tolstoi que nunca reivindicou a sua adesão ao anarquismo, pelo seu pensamento em relação à escola e não só, foi integrado por alguns autores na corrente libertária, tendo segundo outros sido “precursor do que se entende por anarquismo cristão”. Segundo Gustavo Ramus, “Os seguidores dessa vertente defendem o cristianismo primitivo e as primeiras comunidades cristãs, que viviam de forma alheia ao Estado romano, realizando o princípio da ajuda mútua. Avessos à constituição de propriedade, praticavam a divisão de bens e o alimento compartilhado”.

Tolstoi dedicou uma parte importante da sua vida ao ensino, tendo aos 19 anos criado uma escola para camponeses na sua aldeia natal que durou pouco tempo. Contudo, retomou a iniciativa em 1859, aos 31 anos, e prosseguiu a sua atividade pedagógica até ao fim da vida.

Tolstoi não acreditava na instrução proporcionada pelos governos. Segundo ele, “a força do governo repousa na ignorância do povo; o governo sabe disso; assim, ele será sempre um adversário da instrução” e acrescentou” nada de mais nocivo do que permitir ao governo simular disseminar a instrução, quando de facto, propaga a ignorância”.

De acordo com Lipiansky, Tolstoi não aceita a “instrução oficial por impor um modelo pré-estabelecido, por fundamentar-se sobre um saber absoluto que escapa a toda a crítica, por negligenciar totalmente as necessidades do povo e, em definitivo, por trabalhar “para as necessidades do governo e das classes superiores””.

Ainda segundo o mesmo autor, para Tolstoi o único critério da pedagogia é a liberdade e o único método é a experiência..

Por último, Tolstoi dava grande importância ao trabalho manual. Numa carta dirigida a Romain Rolland, escrita em outubro de 1887, sobre o assunto escreveu: “Na nossa sociedade viciada (na chamada sociedade civilizada) tem de se falar antes de tudo do trabalho manual, porque a falta principal da nossa sociedade foi e continua a ser hoje o desejo de se libertar do trabalho manual e de utilizar, sem o intercâmbio mútuo, o trabalho das classes pobres, ignorantes e deserdadas”.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30856, 10 de fevereiro de 2016, p.13)

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