quarta-feira, 2 de março de 2016
A Festa da Árvore em 1923
A Festa da Árvore em 1923
“Plantar árvores é não só amar a natureza. Mas ainda ser previdente quanto ao futuro, e generoso para com as gerações vindouras. Cortá-las ou arrancá-las a esmo, sem um motivo justo, é praticar um acto de selvajaria” (Alice Moderno, A Folha, 16/2/1913).
Através da leitura do discurso, do Dr. Jacinto Gusmão de Vasconcelos Franco, proferido na Festa da Árvore realizada na Escola Normal Primária de Ponta Delgada, publicado no jornal Correio dos Açores, no dia 20 de maio de 1923, tomei conhecimento de que a primeira festa da árvore ocorreu em Portugal, na primeira quinzena de março de 1908, por iniciativa da Liga da Instrução Pública.
Através de pesquisas efetuadas cheguei à conclusão de que o nome correto da organização promotora da Festa da Árvore foi a LNI-Liga Nacional da Instrução, instituição fundada em maio de 1906, por proposta de Trindade Coelho, que tinha como objetivos, segundo Sara Pereira, a promoção da educação nacional, e em particular da escola primária, o combate ao analfabetismo e a promoção da educação cívica, através da divulgação da Festa da Árvore.
De acordo com Sara Pereira e Inês Queirós, a primeira Festa da Árvore, iniciativa da LNI não se realizou em 1908 mas sim a 26 de maio de 1907, no Seixal. Depois, foi o jornal O Século Agrícola a impulsionar as Festas da Árvore realizadas entre 1912 e 1915.
A Festa da Árvore realizada, em 1923, em Ponta Delgada, deve a sua existência, segundo uma nota publicada no Correio dos Açores de 3 de maio de 1923, a uma portaria governamental que estabeleceu “que se realizasse em todos os estabelecimentos de ensino do país a Festa da Árvore, dentro do mês de abril, em dia escolhido pelas direções dos referidos estabelecimentos”.
Na festa realizada naquele ano na escola oficial de São José, depois de um discurso proferido pela professora Maria Evelina de Sousa, os alunos recitaram poesias e em seguida dirigiram-se à Praça 5 de outubro onde “brincaram alegremente em volta das árvores que ensombram aquele aprazível local”.
Maria Evelina de Sousa, militante republicana convicta, depois de elogiar o facto da realização da festa se dever ao “carinho generoso” que merece a educação popular por parte do “Governo da nossa Pátria”, passou a enumerar alguns benefícios das árvores para a Humanidade.
Segundo ela, há os seguintes benefícios “utilitários”:
“Purificadoras da atmosfera, dando aos animais o oxigénio de que necessitam os seus pulmões, absorvem ainda o carbono que tão prejudicial é à espécie humana.
São elas, as boas árvores, que defendem os povoados das avalanches produzidas pela acumulação da neve e dos gelos; são elas que diminuem e quebram a velocidade dos ventos e a impetuosidade dos ciclones; são elas que distribuem e atraem as águas tão úteis à agricultura; elas ainda que obstam à invasão das dunas e constituem os mais primitivos para-raios”.
Maria Evelina de Sousa não se ficou por estes papéis “utilitários”, também referiu no seu discurso à sua beleza, tendo mencionado que não se pode ignorar o facto de as árvores constituírem um dos maiores encantos da Natureza.
Passados tantos anos, tantas comemorações do Dia da Floresta, tantas aulas de ciências da natureza e de biologia, tantas sessões de plantação de árvores nas escolas e não só, não se percebe por que razão continua a árvore a ser tão maltratada, quer pelo cidadão comum, quer por responsáveis autárquicos ou governamentais.
Será que nos Açores, tal como acontece com outras maleitas, há muita gente a sofrer de dendrofobia?
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30874, 2 de março de 2016, p. 13)
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