quarta-feira, 27 de julho de 2016

O vegetarianismo é uma moda?


O vegetarianismo é uma moda?

“Embora eu tenha sido impedido pelas circunstâncias exteriores de observar uma dieta estritamente vegetariana, eu tenho sido desde há muito um adepto da causa, em princípio. Além de concordar com os objetivos do vegetarianismo por motivos estéticos e morais, é a minha opinião de que uma forma de vida vegetariana, pelo seu efeito puramente físico no temperamento humano, seria mais benéfica influência no destino da humanidade. (Albert Einstein)
Neste texto tento explicar o que é o vegetarianismo e depois procuro demonstrar que tenho fortes razões para pensar que a opção por aquele regime alimentar não é uma moda dos tempos atuais.
De acordo com o Centro Vegetariano, associação cujo fim é a “divulgação e promoção do vegetarianismo e veganismo, nas suas vertentes éticas, de saúde, ecológicas e económicas” um vegetariano é uma pessoa “que se alimenta basicamente de grãos, sementes, vegetais, cereais e frutas, com ou sem o uso de lacticínios e ovos. Os vegetarianos excluem o uso de todas as carnes animais, incluindo peixe”.
Entre os vegetarianos existem várias subcategorias, como os ovo-lacto-vegetarianos, os lacto-vegetarianos, os ovo-vegetarianos, os vegetarianos puros, os veganos, os frugívoros e os crudívoros.
Como através da designação da maioria das diversas categorias é fácil identificarmos os alimentos que são “autorizados” para os seus seguidores, apresentamos, a seguir, apenas a diferença entre vegetarianos puros e veganos. Assim, enquanto os vegetarianos puros apenas excluem da sua alimentação todos os produtos de origem animal, os adeptos do veganismo seguem um filosofia e estilo de vida que busca excluir todas as formas de exploração e crueldade contra animais não só na alimentação, mas também no vestuário, etc. Alem do referido, também não usam produtos testados em animais e condenam todos os espetáculos onde os animais são explorados (torturados) para divertimento (circos, touradas, delfinários, etc.)
Relativamente ao facto da opção por uma dieta vegetariana ser uma moda e como tal passageira, recorda-se que, segundo alguns autores, o vegetarianismo surgiu há cerca de 5 milhões de anos atrás e ao longo da história tem sido seguido por muitas pessoas.
Tal como acontecia em Portugal continental onde, segundo Sílvia Ferreira e Nuno Metello, num texto intitulado “O vegetarianismo ao longo da história da humanidade”, os habitantes das aldeias continuavam a ser principalmente vegetarianos, consumindo produtos de origem animal apenas ocasionalmente (geralmente em ocasiões especiais), entre nós tal também acontecia pelo menos até meados do século passado, onde por exemplo a carne de vaca só era comida aos domingos ou por ocasião das festas religiosas.
Como movimento cívico organizado, em Portugal, o vegetarianismo teve alguma divulgação através da Sociedade Vegetariana de Portugal, fundada em 1911, que tinha sede na cidade do Porto. A sua revista mensal, de excelente qualidade para a época, intitulada “O vegetariano”, chegava aos Açores onde viviam meia dúzia de assinantes em várias ilhas.
Alguns autores referem que não há, a nível mundial, estatísticas confiáveis que permitam afirmar com alguma segurança quantos vegetarianos existem. No nosso país apenas conhecemos os resultados de um estudo encomendado pelo Centro Vegetariano que apontava para a existência, em 2007, de 30 000 vegetarianos.
Não havendo dados atualizados, acreditamos que o número de pessoas que optam pelo vegetarianismo/veganismo está a aumentar pois têm vindo a crescer o número de estabelecimentos comerciais que se dedicam a vender produtos para vegetarianos/veganos, há cada vez mais restaurantes com pelo menos uma opção vegetariana nos seus menus, a comunicação social anunciou recentemente a intenção de uma empresa de refeições veganas, dos EUA, de instalar em Santa Maria da Feira uma unidade industrial que criará 600 postos de trabalho, onde haverá um investimento de 60 milhões de euros.
Para além do referido, entre nós, já está legalizada e em fase de instalação uma associação vegana, a Vegaçores – Associação Vegana dos Açores, que no passado dia 9 de julho conseguiu a proeza de juntar num jantar, em São Miguel, 80 pessoas.
Face ao exposto, penso que, sendo uma moda “uma maneira ou costume mais predominante em um determinado grupo em um determinado momento”, quando se fala em vegetarianismo/veganismo está-se a falar num regime alimentar/filosofia de vida em expansão.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30995, 27 de julho de 2016, p.12)

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