quarta-feira, 7 de setembro de 2016
Maria Machado uma açoriana resistente ao Estado Novo
Maria Machado uma açoriana resistente ao Estado Novo
Maria Machado (1890-1958), que usou o pseudónimo de Rubina, foi uma professora primária natural da ilha de São Jorge, tendo sido, de acordo com Pedro Benjamim, um dos mais destacados dirigentes do PCP – Partido Comunista Português, oriundo dos Açores, durante o Estado Novo.
Maria Machado nasceu na Vila da Calheta, a 25 de Fevereiro de 1890, tendo-se destacado, segundo o jornal Avante, de 26 de fevereiro de 2015, “desde muito cedo pelo seu empenhamento no combate contra a ignorância e o obscurantismo, que grassava não só nos Açores como por todo o País. Assumindo o ensino como ferramenta essencial para a aquisição de consciência social e cultura integral, Maria Machado funda uma biblioteca para os alunos da escola, que logo abre à restante população”
De São Jorge Maria Machado ruma a Lisboa onde nas escolas onde trabalhou utiliza os mesmos métodos inovadores baseados nos princípios da «Escola Activa» que já utilizava na sua terra.
Foi detida pela PVDE pela primeira vez a 1 de agosto de 1936 por ser professora de Português na Liga dos Esperantistas Ocidentais, que segundo as autoridades era “considerada um baluarte do PCP e das Juventudes Comunistas”. Esteve presa na Cadeia das Mónicas entre Setembro e Dezembro daquele ano.
Depois de ter viajado para os Açores em 1937, no ano seguinte instala-se em Paris onde desempenha tarefas no Comité da Frente Popular Portuguesa e foi delegada do PCP junto do PCF – Partido Comunista Francês.
Regressou a Portugal em 1942, tendo a partir de então ficado ligada às tipografias clandestinas do Avante.
Maria Machado é conhecida na história do PCP pelo facto de ter conseguido queimar toda a documentação existente na casa onde estava instalada uma tipografia clandestina do órgão oficial daquele partido, o jornal Avante, na localidade de Barqueiro, perto de Alvaiázere.
No assalto à tipografia que ocorreu em 1945, Maria Machado sacrificou-se, permitindo que, para além da destruição de documentos comprometedores, se salvassem outos dois militantes clandestinos.
De acordo com Ana Barradas, Maria Machado no seu percurso até ao posto da GNR aproveitou para informar as pessoas que não eram gatunos, mas gente amiga do povo e honrada. Durante o interrogatório, recusou-se a prestar declarações “por dever de comunista e por respeito à sua própria pessoa”.
Fernando Gouveia, no seu livro “Memórias de um inspector da PIDE 1. A organização clandestina do PCP”, que desvaloriza a importância de Maria Machado, afirmando a dado passo que era uma “senhora já com boa idade para ter juízo”, não nega que ela enganou o cabo da GNR, permitindo assim a fuga de dois militantes.
Na sequência deste caso, Maria Machado foi no ano seguinte, 1946, condenada a vinte e dois meses de prisão.
Para além desta prisão, Maria Machado voltou a ser presa em dezembro de 1953, sendo libertada em janeiro de 1954, tendo ocorrido o mesmo em Abril de 1954, tendo sido libertada em outubro do mesmo ano.
Proibida de ensinar, para sobreviver teve de se empregar como governanta numa casa particular e bordar tapetes de Arraiolos.
Faleceu a 4 outubro de 1956, depois de ter visto a sua saúde muito debilitada como resultado de privações e torturas.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31031 de 7 de setembro de 2016, p.16)
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