terça-feira, 1 de agosto de 2017
Ainda sobre o Eng.º Fernando Monteiro da Câmara Pereira
Ainda sobre o Eng.º Fernando Monteiro da Câmara Pereira
No passado dia 19 de julho, o Correio dos Açores publicou um texto sobre o Eng.º Fernando Monteiro da Câmara Pereira. Hoje daremos a conhecer mais um pouco da sua vida/obra.
No texto anterior, fizemos referência a uma intervenção na Assembleia Nacional sobre algumas carências da função pública, a qual ocorreu no dia 17 de abril de 1974. Através da leitura do seu discurso, publicado na íntegra no jornal “A Ilha”, no dia 27 de abril de 1974, constata-se que o Engº Fernando Monteiro não discriminava categorias profissionais, como se deduz através das interrogações que levantou: “Mas quanto ganha um chefe de serviço, um professor, um escriturário-dactilógrafo, um cantoneiro, um contínuo, etc.? E a falta dum ordenado mínimo humano e dignificante?”.
Depois do 25 de Abril de 1974, entre 7 de novembro de 1980 e 30 de novembro de 1983, o Eng.º Fernando Monteiro foi deputado na Assembleia Regional dos Açores, eleito em lista do CDS, pelo círculo de Santa Maria.
Durante o período em que foi deputado, em maio de 1982, publicou, através do Instituto Fontes Pereira de Melo, o livro “Agricultura Açoreana…um caminho para a Europa. Os handicaps açoreanos na directiva 75/268/CEE”, que foi, segundo ele, a concretização de um “estudo que tinha encetado em ordem à caracterização da R.A.A. no quadro das directivas da modernização da agricultura e sobretudo da das Zonas Desfavorecidas”.
Depois da sua passagem pelo CDS, o Engº. Fernando Monteiro foi o dirigente máximo do Partido Socialista no concelho da Ribeira Grande, tendo sido vereador e candidato, derrotado, daquele partido à Presidência da Câmara Municipal da Ribeira Grande, nas eleições que se realizaram no dia 15 de dezembro de 1985.
Podemos ficar a conhecer um pouco sobre o seu pensar, em 1985, através do que ele escreveu em setembro daquele ano, em relação à Junta de Freguesia do Pico da Pedra, então eleita pelo partido socialista: “Se não houvesse uma dinâmica partidária de forte pendor socialista, humanizado e cristão e por isso respeitador de todas as ideologias outras entidades não teriam o sucesso que têm apesar de fortemente apoiadas…”.
Noutro texto, que a seguir se transcreve, publicado em outubro do mesmo ano, o Eng.º Fernando Monteiro, não desvalorizando as ideologias, coloca as pessoas em primeiro lugar: “…a vitalidade do Poder Local Regional e da Democracia só poderá ser encontrado na alternância do mando e consequentemente na responsabilização dos partidos, mas o sucesso depende ao nível do município ou da freguesia das pessoas que se empenham” e conclui: “…Assim votar nas autarquias deverá ser votar nos homens que servem a terra e que nunca se servirão dela”.
Sobre as questões ambientais, a leitura de vários textos da sua autoria leva-nos à conclusão de que o Engº Fernando Monteiro era um homem que investigava e que andava a par do que de mais avançado se publicava, como o livro, de E. F. Schumacher, “Small is Beautiful”, que é “um estudo de economia em que as pessoas também contam” e que apesar de ter sido publicado, pela primeira vez, em 1973, ainda hoje devia ser de leitura obrigatória para políticos e autarcas com mania das grandezas e que continuam a pensar que é possível crescer infinitamente em territórios pequenos e frágeis como são as nossas ilhas.
Sobre as questões energéticas, num texto publicado em 1991, o Engº Fernando Monteiro refere-se à eficiência energética do seguinte modo: “Poupar energia será só não gastar o produto de cada fonte energética ou quantas acções em ordem à minimização das suas perdas? ...Serão os lixos, ou resíduos sólidos e líquidos, produtos totalmente degradados e irrecuperáveis na complexidade energética, sabendo que a natureza orgânica ou inorgânica é a própria fonte da energia bioquímica?”.
Por último, ao terminar o texto referido, o Engº Fernando Monteiro apresenta uma sugestão que se não tivesse caído em saco roto não chegaríamos à degradante situação atual no que diz respeito à gestão dos resíduos sólidos. Aqui ficam as suas palavras:
“As ilhas não podem deixar-se poluir sob pena de perderem a sua beleza e afectarem a qualidade de vida do seu povo. A associação das finalidades consubstanciadas em preservação do ambiente, reciclagem orgânica dos lixos e diminuição das importações de inputs fertilizantes organominerais para o solo açoriano justifica a instalação de uma unidade, pelo menos, de tratamento e reciclagem de resíduos sólidos”.
Por falta de espaço, não foi feita qualquer referência à sua obra poética. Sobre o assunto recomenda-se a leitura do seu livro “Mar Branco”.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31294, 2 de agosto de 2017, p.13)
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