segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Encontro com uma profissão de Eduardo Calisto de Amaral (2)


Encontro com uma profissão de Eduardo Calisto de Amaral (2)

“A vida só é bela quando é uma empresa em benefício de outros homens e do mundo” (Agostinho da Silva)

Hoje, divulgamos a segunda parte da nota introdutória que fizemos ao livro “Encontro com uma profissão” da autoria do professor Eduardo Calisto de Amaral.

Embora por vezes contando a colaboração da Direção de Obras Públicas e da Câmara Municipal de Vila Franca do Campo, todas as melhorias feitas na Escola da Ribeira Seca não seriam possíveis sem o muito trabalho voluntário de professores, contínuos e alunos, de muitos donativos e de receitas obtidas através de várias iniciativas.

Para além da lição que dá às presentes gerações e às futuras, o de contar sempre com as próprias forças, outra lição se pode tirar do que foi feito na Escola da Ribeira Seca e que mostra o pioneirismo e a ousadia de quem lá trabalhava, isto é, tendo sempre em conta o supremo interesse da educação e dos direitos das crianças, como sempre aconteceu, por vezes houve necessidade de desobedecer, como ocorreu quando foi decidido fechar os alpendres para “ver as crianças abrigadas em dias de chuva e vento” e fazer e manter uma ligação entre os recreios masculino e feminino, apesar de um vereador da Câmara Municipal de Vila Franca do Campo ter dito que tal era ilegal e afirmado: “Vocês têm de fechar isso novamente”.

O professor catedrático Rogério Fernandes escreveu que depois do 25 de abril o professor deveria não só ser um transmissor de conhecimentos, mas também um dinamizador cultural do meio onde estava inserido. Sobre as funções dos professores, quer pela leitura do texto, quer pelo conhecimento pessoal, já que fui aluno da Escola da Ribeira Seca e morador na localidade, confirmo que o professor Eduardo Calisto não esperou pela instalação do regime democrático, nem pela nomeação do ministro Veiga Simão, onde segundo ele “tudo começaria a mudar, nesta altura, quer a nível pedagógico, quer até de ordenado”, para dinamizar o desporto e a cultura nas escolas e comunidades por onde passou. Com efeito, no Porto Formoso dinamizou o teatro e o voleibol, em Ponta Garça, colaborou nos ensaios “cujos números eram apresentados em Festas Escolares no salão ao lado da Igreja”, e na Ribeira Seca, através de uma peça de teatro e um ato de variedades que esteve em cena, para além do ensaio geral destinado às famílias, cinco vezes.

Não sei se o professor Eduardo Calisto alguma vez leu algum texto do pedagogo Álvaro Viana de Lemos, mas por aquilo que fez nas escolas e nas comunidades sou levado a concluir que para ele ser professor era muito mais do que ensinar a ler, a escrever e a contar pelo que seria capaz de subscrever a frase que aquele um dia proferiu: “A educação é tudo; a instrução quase nada!”

Para além da educação para a responsabilidade e para o gosto em cultivar e amar a terra, o professor Eduardo Calisto refere no seu livro que o prazer das crianças era tanto que preferiam “o amanho da terra”, esquecendo-se de “toda a sorte de brincadeiras” e acrescenta que “um dos pequenos, de nome Teófilo Feitor de Andrade chegava em férias a ir sozinho arranjar os terrenos, sem que para tal tivesse sido mandado por alguém”. Este relato lembra-me um dos grandes objetivos de quem quer verdadeiramente educar, que é o de promover a autonomia das crianças e recorda-me a frase de Rui Grácio: “os mestres são os que criam, ou libertam, a autonomia dos discípulos”.

Recomendo a leitura deste livro que é importante para a história do ensino na nossa Vila e apelo a todos os seus colegas para que também partilhem as suas memórias.

Depois de, por duas vezes, ter lutado para que o professor Eduardo Calisto Soares de Amaral fosse homenageado por tudo o que fez pela sua terra, destacando a obra realizada na minha freguesia, a Ribeira Seca, termino, reafirmando a minha profunda admiração pelo cidadão, pelo educador e pelo humanista que estará sempre entre nós.

Teófilo Braga

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