quinta-feira, 20 de março de 2008
PASSEIO PEDESTRE AO PICO DA VELA
No passado dia 12 de Setembro, a Associação Ecológica Amigos dos Açores promoveu um passeio pedestre ao Pico da Vela. Os participantes concentraram-se pelas 9h e 30 minutos na Estação de Camionagem de Vila Franca do Campo e um quarto de hora depois, partiram em caravana automóvel em direcção à Ribeira Seca. No Largo de São João tomaram a chamada estrada do Carreiro e dirigiram-se para o Sanguinhal, tendo estacionado as viaturas no local onde a estrada bifurca em duas direcções: uma rumo ao Espigão do Salto e a outra ao Pico da Cruz. Neste local existe um fontenário de pedra lavrada datado de 1962.
A estrada do Carreiro não é mais do que um caminho municipal que foi projectado para ligar a Ribeira Seca à Lagoa do Fogo. Em Outubro de 1961 já estavam rompidos mais de sete quilómetros, a maior parte deles pavimentados. Hoje, volta-se a falar na sua pavimentação até às cumieiras da Lagoa do Fogo, o que discordamos. Com efeito, a partir do Pico da Cruz o caminho deixa de ter qualquer utilidade para a lavoura e será um contributo para a descaracterização da Reserva Natural da Lagoa do Fogo. Aliás, de acordo com o Decreto Regional n.º 10/82/A, de 18 de Junho que cria aquela reserva tal obra será ilegal. No que diz respeito ao desenvolvimento turístico, acreditamos que ele ganhará com a organização de passeios pedestres a partir das unidades hoteleiras ou de agências de viagens sediadas em Vila Franca.
À nossa frente, no local de início do percurso pedreste podemos observar, a par de matas de criptoméria, alguns exemplares da nossa floresta primitiva: azevinhos, louros, folhados, urzes, queirós, tamujos, etc. Neste local, de desagradável apenas o cheiro nauseabundo da lixeira municipal. Esperemos que seja por pouco tempo e que as autarquias de S. Miguel, com a colaboração do Governo Regional dos Açores, encontrem uma solução aceitável para o problema dos resíduos na nossa ilha.
A subida fez-se pelo caminho do Espigão do Salto. O tempo totalmente descoberto tornou possível uma vista à nossa direita, destacando-se, a curta distância, o Pico da Dona Guiomar, metade coberto com vegetação primitiva. Curiosamente é neste pico que conhecemos o único exemplar de sanguinho, planta endémica dos Açores e da Madeira, a qual, provavelmente, estará na origem do nome Sanguinhal. Na cratera do Pico da Dona Guiomar está situada uma pequena lagoa denominada Lagoinha do Areeiro. Ainda à nossa frente e à direita avistamos o Espigão da Ovelha e o Monte Escuro.
Ao chegarmos ao ponto mais alto, no cruzamento com o caminho que vem do Monte Escuro, o panorama é encantador. Daqui podemos ver o Pico da Vara. O Pico Bartolomeu, a depressão do Vale das Furnas, o Pico da Barrosa, as costas Norte e Sul da ilha de S. Miguel, etc. A vegetação é bastante rasteira, resultado de uma recuperação, muito lenta, de extracções maciças de leivas.
Prosseguimos o nosso passeio caminhando para a esquerda em direcção a uma elevação de 881 metros chamada Cumieira. Deste ponto, Vila Franca reduz-se a um aglomerado muito pequeno de casas e o ilhéu aparece com outra fisionomia.
Após a observação do majestoso vale da Ribeira de Água d`Alto, dirigimo-nos para o Pico da Vela, elevação com 863 metros de altitude. Circundamos o pico pela direita e ficamos por cima da Lagoa do Fogo que dali parece-nos outra.
A seguir ao almoço nas cumieiras, depois de darmos a volta completa ao Pico da Vela, regressamos pelo caminho que vai da Cumieira e passa ao lado do Pico da Cruz. Na descida, à nossa frente avistamos todo o concelho de Vila Franca do Campo.
Neste percurso pedestre, com duração aproximada de três horas, podemos observar algumas espécies da nossa avifauna das quais destacamos o pombo torcaz, o milhafre, o tentilhão e a alvéola.
(Publicado no jornal “A Vila”, 15 de Outubro de 1992)
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