sábado, 1 de maio de 2010

Maios 2010



Maio no Aldeamento da Rua Nova



Maio na Rua da Cruz



Maio na Estrada Nova

Como todos sabemos, o modo de vida das nossas gentes tem-se alterado muito, deixando cair no esquecimento muitos dos ensinamentos e tradições que eram característicos dos nossos antepassados.
Já no início do século passado, o padre Ernesto Ferreira se referia aos Maios como uma “simples manifestação da poesia com que a alma popular celebra a sua comunhão com o renovamento da natureza” e manifestava o seu desejo de que os mesmos não desaparecessem “da rica mina dos costumes micaelenses”.
Lembro-me, desde criança, que alguns vizinhos meus faziam os seus Maios e a maioria os colocava à janela acompanhados sempre de um prato de papas de carolo (farinha grossa de milho). De acordo com o padre Ernesto Ferreira também era usual muitas famílias confeccionarem no primeiro dia de Maio aquelas papas “para significar que Abril vendeu um dia a Maio por um prato de papas, alusão ao facto de Abril ter menos um dia do que Maio”.
Outra tradição que, hoje, quase terá caído em desuso e que ouvia de minha mãe era a recomendação de me levantar cedo no primeiro dia de Maio, pois se tal não acontecesse o Maio entrava no corpo.
Este ano decidi ver se a tradição ainda é o que era e no primeiro dia de Maio percorri a Ribeira Seca, de Vila Franca do Campo, com o objectivo de ver os Maios, não dando por perdido o meu tempo. Com efeito, embora fossem apenas três os Maios encontrados, notei que houve algum investimento por parte das pessoas no sentido de tentar ilustrar como era a vida noutros tempos.
Na Rua da Cruz, encontrei uma reconstituição de uma cozinha antiga, do tempo em que não se falava no uso do gás e a iluminação eléctrica era ainda uma miragem. Na Estrada Nova, encontrei a representação de uma actividade já desaparecida, um homem a forrar uma casa com palha. Por último, no Bairro situado no fim da Rua Nova, para além da representação de uma pescaria, vi uma maia a fazer, se não estou em erro, bolo de sertã.
Para terminar, depois de recomendar a leitura do Livro “A Alma do Povo Micaelense”, do padre Ernesto Ferreira reeditado pela Editora Ilha Nova, aqui deixo um conto que faz parte do texto “Os Maios” da publicação referida:
“Certa vez, em um primeiro de Maio, encontraram-se junto de uma fonte dois namorados: uma rapariga, que já ia retirar-se com o seu cântaro cheio de água à cabeça, e um lavrador, que caminhava para o trabalho, com o seu arado às costas. Falaram, falaram muito. E tam enlevados estiveram na sua conversa, tam alheios às misérias deste mundo, que a noite chegou sem darem por isso. Quando despertaram do seu sonho de felicidade, exclamou a casta donzela sentidamente:
Dia de Maio
De má ventura
Mal amanhece
É noite escura”

Rua do Jogo, Ribeira Seca, 2 de Maio de 2010
(Publicado no Jornal “A Vila”, nº 406, 1 a 15 de Maio de 2010)

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