quarta-feira, 5 de setembro de 2012

A Quadratura da Bola



Um dia destes encontrei uma bola no meu quintal, em Vila Franca do Campo, e perguntei a uma vizinha se a mesma era do seu filho. A resposta foi afirmativa, tendo a mesma mencionado que o mesmo havia dado um coice com muita força na bola de modo que ela ultrapassou o muro que separa os dois quintais e acabou por cair no meu.
Esta conversa de circunstância levou-me a recordar a minha relação com o desporto, nomeadamente com o voleibol e com o futebol.
Ao longo dos tempos, a preferência pelas modalidades de desportos com bola foi-se alterando. Assim, no século passado, pelo menos na sua primeira metade, o voleibol era uma modalidade que atraia muitos adeptos, em Vila Franca do Campo, onde existiam vários clubes, como o “São Miguel” e o “Ribeirense” da Ribeira Seca, o “Pátria”, o “Esperança”, o “Casa do Povo”, o “Águia Azul”, o “Marítimo” e o “Senhora da Vida”.
Na localidade onde nasci, Ribeira Seca, existiram dois clubes, o “São Miguel” e o Ribeirense. Este teve uma duração de cerca de quatro anos, possuía o seu campo no início da Ribeira Nova e a direção esteve a cargo de Afonso Torres, Augusto Luís e José Furtado Salema.
De entre os jogadores do Ribeirense distinguiram-se: Caetano Ventura, Augusto Luís, José de Amaral, Ângelo Furtado Lima, Teófilo Braga (meu pai), Manuel Arsénio Moniz, António Teotónio, Urbano Furtado Lima, José Furtado Salema e Manuel Furtado Salema.
Quando frequentei o Externato de Vila Franca, no final da década de 60 e início da década de 70 do século passado, o voleibol era para o meu professor de Educação Física, o professor do 1º ciclo António dos Santos Botelho, a modalidade mais ensinada e jogada. Como tinha pouca “habilidade” para qualquer tipo de desporto, era, na maior parte das aulas, escolhido para fazer a contagem dos pontos.
Nasci e cresci na rua do Jogo e como o nome indica, durante a minha infância e juventude, a rua, na altura de terra batida, era palco para diversas partidas de futebol em que participava com os meus vizinhos e com outros rapazes da localidade.
Se não me falha a memória, da minha rua, apenas o meu irmão Daniel viria a ser desportista federado, tendo jogado futebol no Vale Formoso, das Furnas, e no Vasco da Gama, de Vila Franca do Campo.
Tal como todos os outros rapazes, tinha as minhas preferências clubísticas: fui adepto do Benfica, a nível nacional, e do Clube de Futebol Vasco da Gama, a nível regional. Na altura, com exceção do Ângelo Luís e do Vitorino Furtado, todos eramos benfiquistas e a grande maioria das pessoas, em toda a Ribeira Seca, simpatizava com o Vasco da Gama.
Do Vasco da Gama, recordo-me de jogadores que poderiam ter chegado longe no futebol se o tempo em que praticaram a modalidade fosse outro. Assim, entre outros, lembro-me do Balaia, do “Meio-Pote”, do “José da Amélia”, do “Catana”, do Manuel “Pataquinho”, do Miguel São Pedro e dos irmãos “Cândido”, o Zeca, o Duarte e o João de Brito.
Durante alguns anos fui sócio do Vasco da Gama e cheguei, em 1980, a ser contatado para me candidatar a presidente da sua direção, o que não veio a acontecer pois em Outubro daquele ano, por motivos profissionais, fui a residir para a ilha Terceira.
Contrariado, mas por insistência do Chicharrino, António José Inácio, que foi árbitro oficial de futebol, acabei por aceitar ser seu fiscal de linha num jogo amigável de futebol entre o Águia, dos Arrifes e o Valformoso, das Furnas, num desafio realizado no campo deste último.
Como eram mais do que muitas as minhas dúvidas, a maior parte das vezes levantava a bandeirola imediatamente após o árbitro ter assinalado a falta. Felizmente tudo correu bem e os adeptos só repararam na minha matreirice poucos minutos antes do jogo terminar.
Em síntese, embora gostasse do futebol, nunca tratei a bola muito bem, ou melhor se para quase todos ela era “redonda” para mim sempre se aproximou mais de um “quadrado”.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, nº 27227, 5 de Setembro de 2012, p.15)

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