Atentado a Salazar
A
4 de Julho de 1937, o Doutor António de Oliveira Salazar (1889
- 1970), presidente do Conselho de Ministros, foi
alvo de um atentado perpetrado por anarquistas, sendo o mais conhecido de entre
eles o anarco-sindicalista Emídio Santana (1906 - 1988), autor de diversos
ensaios sobre o anarco-sindicalismo e o mutualismo, que depois da queda do
Estado Novo, em 25 de Abril de 1974, foi um dos fundadores do Movimento
Libertário Português e da “Cooperativa Editora A Batalha” e diretor do Jornal
“A Batalha”, que ainda hoje se publica.
Emídio
Santana, que fugiu de Portugal por via marítima foi detido em Southampton, no
Reino Unido, e entregue à polícia portuguesa em Outubro de 1937, no seu livro
“História de um atentado: o atentado a Salazar”, publicado em 1976, relata com
pormenor o ocorrido. Na referida obra nada lhe escapa, desde a preparação até
às peripécias ocorridas depois do atentado, passando pelo ocorrido no dia.
O
jornalista Valdemar Cruz, no seu livro “Histórias secretas do atentado a
Salazar”, editado pela primeira vez em 1999 e reeditado em Abril deste ano, por
sua vez, dá-nos a conhecer os segredos da investigação policial, os falsos
autores do atentado que depois de torturados confessaram o que não fizeram e as
duas mortes que nunca ninguém explicou.
Curioso,
ou talvez não, foi o papel desempenhado pela comunicação social que, como
acontece nas ditaduras sejam elas quais forem, foi na sua maioria fiel aliada
ou porta-voz do regime, divulgando todas as mentiras que eram sopradas pela
PYDE, que obcecada com o Partido Comunista e em mostrar serviço, quarenta e
oito dias depois noticiou a prisão de cinco falsos implicados no atentado.
Em
São Miguel, a comunicação social foi unânime na condenação do atentado e na
divulgação das várias manifestações de apoio ao Doutor António de Oliveira
Salazar, embora o tema que mais preenchesse diariamente as páginas dos jornais,
sobretudo do Correio dos Açores, fosse a guerra civil espanhola, entre
republicanos e partidários de Francisco Franco, general que liderou um governo
de orientação fascista de 1936 a 1975.
Com
grande destaque na primeira página, no dia 6 de Julho de 1937, o jornal Correio
dos Açores, dirigido por José Bruno Carreiro, refere que “a notícia do atentado
contra Salazar …- causou em toda esta nossa ilha de S. Miguel, como não podia
deixar de ser – as mais profundas e as mais justas indignações” e acrescenta
“com verdade se pode dizer que este momento é uma encruzilhada da história em
que se encontram frente a frente, embora pareça um paradoxo, Portugueses
portugueses e portugueses que o não são. Para os primeiros vive
Portugal, para os segundos vive Moscovo.
A
18 de Julho, o Correio dos Açores transcreve a notícia, publicada no Diário da
Manhã oito dias antes, que menciona como culpado o “ignóbil facínora” António
Conrado Júnior e como cúmplices, “iguais facínoras de igual jaez: Francisco
Horta Catarino e José dos Santos Rocha”.
O
Açoriano Oriental, dirigido por Ferreira d’Almeida, no dia 10 de Julho de 1937
apresenta na sua primeira página um texto intitulado “Salvé Salazar! Garantia
do Império” onde são feitos elogios ao presidente do Conselho de Ministros e
são referidas as manifestações de cariz religioso e cívico de condenação do
atentado, realizadas em São Miguel.
A
28 de Agosto, o Açoriano Oriental divulga os nomes dos “autores do execrando
crime”: Jacinto Carvalho, António Pires da Silva, Aires do Ascensão Eloy, José
Hota e Manuel Francisco Pinhal. No mesmo texto são divulgadas declarações dos
investigadores, segundo os quais a responsabilidade do crime era atribuído a
organizações terroristas estrangeiras, “o partido comunista português era de
nulo valor antes da guerra em Espanha” e os seus “chefes”, José de Sousa e
Bento Gonçalves que estiveram na Rússia e receberam instruções do Komintern”
eram “de baixa categoria”.
Não
deixa de ser estranha a insistência das autoridades em atribuir a culpa aos
comunistas quando o PCP, através do jornal “Avante”, saído no final do mês de
Julho de 1937, já se havia pronunciado “contra o terrorismo individual porque
esta tática só serve os interesses da contrarrevolução – do fascismo”.
Estranho,
também, não deixa de ser o facto de os verdadeiros responsáveis pelo atentado,
opositores ao regime e ao Partido Comunista, entre os quais Emídio Santana,
Francisco Damião e Raul Pimenta, só começarem a ser presos nos últimos dias do
mês de Setembro de 1937.
Teófilo
Braga
(Correio
dos Açores, nº2983, 27 de Dezembro de 2013, p.21)
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