Lagoas,
Lagoeiros e Charcos de Vila Franca do Campo
Não há consenso acerca da classificação das diferentes massas
de água, nomeadamente lagos, lagoas e charcos. Contudo, podemos dizer, citando
a Campanha “Charcos com Vida”, que “os charcos diferenciam-se dos lagos e das
lagoas pela sua baixa profundidade, penetração total da luz na água,
possibilidade de ocorrência de plantas em toda a sua área e ausência de
estratificação da temperatura da água e de formação de ondas”.
O concelho de Vila Franca do Campo é,
não temos dúvidas, um dos mais ricos dos Açores no que diz respeito à presença
de diferentes massas de água de dimensões diversas, às quais está associada a
beleza paisagística e a riqueza em termos de fauna e flora.
A Lagoa do Fogo, implantada na caldeira
de colapso do Vulcão do Fogo, é a única cuja área envolvente mantém, apesar de
algumas introduções voluntárias ou não, muitos exemplares da flora primitiva
dos Açores que a todo o custo devem ser preservados.
A Lagoa do Congro, assim denominada por
ter pertencido a André Gonçalves, cognominado de “o congro”, de acordo com
Gaspar Frutuoso, “por em seu tempo ser o mais rico homem da terra, como dizem
ser o congro, entre os peixes que se comem, o maior peixe do mar”, está
implantada numa cratera de explosão que se terá formado há cerca de 3 900 anos.
José do Canto (1820-1898), grande
proprietário e intelectual açoriano, amante da jardinagem e distinto botânico
amador, mandou plantar nos terrenos circundantes da lagoa matas de
criptomérias, pinheiros, eucaliptos e acácias, tendo também ajardinado a parte
sul da sua propriedade e construído uma casa de campo, recentemente demolida.
Durante muitos anos os seus
proprietários mantiveram os acessos à lagoa em muito boas condições e procediam
à manutenção de toda a área, nomeadamente da antiga mata ajardinada. Mais
recentemente a área foi sendo progressivamente abandonada, tendo-se degradado
quase por completo.
Depois de sete anos de espera, a
proposta de classificação das Lagoas do Congro e dos Nenúfares por parte da
Associação Ecológica Amigos dos Açores como área protegida foi aprovada. Assim,
em 2007, a cratera do Congro foi classificada como Área Protegida para a gestão
de habitats ou espécies (Decreto Legislativo nº15/06/2007) e no ano seguinte
parte da bacia hidrográfica foi adquirida pelo Governo Regional dos Açores.
A Lagoa dos Nenúfares, também denominada
Lagoa do Conde Botelho, localiza-se na mesma cratera da Lagoa do Congro e
encontra-se neste momento bastante assoreada e as suas margens estão cobertas
por plantas exóticas. Toda a área envolvente merecia ser alvo de trabalhos de
recuperação, nomeadamente o trilho que a bordeja e o caminho de acesso.
Localizada numa cratera de explosão
existente no Pico da Dona Guiomar, a Lagoa do Areeiro é de uma beleza
paisagística invulgar. No lado sudoeste do pico existe um mato jovem de
vegetação endémica que merecia a todo o custo ser conservado.
A Lagoinha, situada na cratera de
explosão do Pico da Lagoa, localiza-se a norte da Lagoa do Congro. Como
curiosidade regista-se a presença nas suas águas do peixe mosquito. Neste
momento, é muito difícil o acesso à mesma já que toda a área envolvente foi
replantada recentemente e encontra-se completamente coberta por vegetação,
nomeadamente silvas.
Para além destas, há a registar outras
massas de água mais pequenas como os lagoeiros do Pico do Frescão, do Pico d’El
Rei e dos Espraiados, bem como alguns charcos que antes foram usados para
bebedouros do gado bovino.
Para além do valor científico e
educativo, do valor estético e paisagístico, as massas de água constituem um
poderoso recurso turístico que não está a ser suficientemente explorado no
concelho de Vila Franca do Campo.
Há
que por mãos à obra!
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, nº 2963, 4 Dez
de 2013, p.11)
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