terça-feira, 22 de setembro de 2015
O vegetariano
O Vegetariano
O texto de hoje é sobre uma revista, “O Vegetariano”, que durante alguns anos divulgou, em Portugal, o vegetarianismo, o qual segundo alguns não é mais do que uma modernice que, tal como as outras, tem os seus dias contados e segundo outros é um regime alimentar que existe desde sempre e que está em expansão em todo o mundo.
Embora não pretenda fazer a apologia de qualquer dieta alimentar, estou de acordo com quem considera que a dieta vegetariana continuará a expandir-se não só por questões relacionadas com a saúde, mas devido aos impactos que o regime alimentar dominante atualmente, que inclui carne em excesso, tem na destruição da natureza e às questões relacionadas com o bem-estar e direitos dos animais.
Um sinal inequívoco de que as coisas estão a mudar é a publicação, este ano, pelo Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável, da Direção-Geral da Saúde das “Linhas de orientação para uma alimentação vegetariana saudável” que foi recebido com satisfação pelos praticantes do vegetarianismo em Portugal.
A revista O Vegetariano- mensário naturista ilustrado foi o órgão da Sociedade Vegetariana de Portugal que terá sido fundada no Porto, em 1908, pelo médico Dr. Amílcar de Sousa, especialista em dietética e nutrição.
A Sociedade Vegetariana de Portugal cuja sede se localizou na Avenida Rodrigues de Freitas, nº 379, na cidade do Porto, a 20 de Novembro de 1914 possuía 3364 sócios, divididos pelas categorias de sócios efetivos (vegetarianos) e sócios protetores., espalhados pelas várias regiões do país, incluindo os arquipélagos dos Açores e da Madeira, pelas antigas colónias ultramarinas, pelo Brasil e por outros países, sobretudo da América Latina.
De acordo com os números da revista a que tivemos acesso, relativos ao ano de 1914, nos Açores existiam 12 membros da SVP, 2 efetivos, Pedro José Correia, do Faial, e João Batista Machado Bettencourt, do Pico e 10 protetores. Destes, em São Miguel viviam os associados António Medeiros Estrela Rego, João Pereira Abreu de Vasconcelos, Urbano Botelho do Rego, Joaquim Arruda e António de Medeiros Frazão, no Pico vivia Francisco Augusto Ramos da Silveira, na Terceira residia o Dr. Martiniano Dias da Silveira, na Graciosa residia Carlos Leão e no Faial, António Maria Martins e Joaquim Rocha Bettencourt.
Outra curiosidade muito interessante é que nos 11 números consultados do ano de 1914, entre a publicidade publicada figurava um anúncio da Água das Lombadas. Sobre a mesma pode-se ler o seguinte: “Água de mesa perfeitamente natural. O ácido carbónico que contém não é introduzido artificialmente. Nasce na Ilha de São Miguel num terreno vulcânico, no alto duma serra, longe do povoado, a 510 metros de altitude, onde o ar é puro”. Através do mesmo anúncio, é possível sabermos que a Água das Lombadas tinha um depósito geral na Avenida da Liberdade, em Lisboa, e estava à venda em todo o país, nas principais farmácias, drogarias, hotéis e restaurantes.
Para além da publicidade à Água das Lombadas, a revista recomendava a leitura de vários livros que eram vendidos com descontos para os membros da Sociedade. Entre eles, destacamos os seguintes: Vivamos de frutos, sobre o frugismo, O Naturismo, livro que versava “todos os assuntos relacionados com a vida humana. Análise e soluções naturistas às questões alimentares, higiénicas, médicas, educativas, sociais e humanitárias”, Partos sem dor, onde o autor faz uma “exposição clara e pormenorizada” e “demonstra e apresenta conselhos que a mulher deve seguir para dar à luz sem sofrimento” e Contra o Alcoolismo, onde são apresentadas “histórias verdadeiras e conselhos a toda a gente”.
Na revista nº12, relativa ao mês de Dezembro de 1914, também publicitava, entre outros, calçado higiénico, fruteiras, e plantas ornamentais, suco de uvas do Douro – Vinho sem Álcool, um hotel de descanso e de regímenes, um “Grande Hotel Fruti-vegetariano”, sabonetes naturistas ingleses, uma fábrica de guarda-sóis e um consultório médico naturista que oferecia “tratamento pelos regimes e métodos naturais: “vegetarismo, frugivorismo, fisioterapia e psicoterapia”. Este consultório, pertença do Dr. João de Vasconcelos, aceitava “chamadas a toda a hora” e disponibilizava “serviço gratuito às pessoas pobres”.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, nº 30739 de 23 de setembro de 2015, p. 17)
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