quinta-feira, 19 de maio de 2016
Antero de Quental e o seu ativismo socialista
Antero de Quental e o seu ativismo socialista
Antero de Quental (1842-1891) muito conhecido, entre nós, sobretudo pela sua poesia, sendo considerado um dos maiores poetas portugueses de todos os tempos, esteve ligado ao movimento socialista, tendo pertencido a várias organizações de tendência socialista e ao Partido Socialista, o qual nada tem a ver com as várias organizações socialistas que surgiram durante o Estado Novo nem com o atual partido que ostenta o mesmo nome.
Antero de Quental pertenceu ao Centro Promotor - Centro Promotor de Melhoramentos das Classes Laboriosas, fundado em 1852, e onde coabitavam liberais, republicanos, socialistas e maçons. Em 1872, o Centro Promotor opta pelo socialismo, tendo publicado um manifesto onde “aconselha os trabalhadores dos campos e das cidades que se abracem fraternalmente e que se constituam numa sociedade nacional como solidariedade das classes; que se formem cooperativas de consumo e de produção; que se ilustrem pelo trabalho e desenvolvimento da inteligência; que se regenerem pela sua economia e pelos seus próprios esforços, fundando a iniciativa na moral, na verdade e na justiça”.
Entre os pontos constantes do novo Programa do Centro Promotor, destacamos os seguintes:
a- Suspensão do exército permanente e a sua substituição pelo armamento geral da população;
b- Ensino primário gratuito e obrigatório;
c- Expropriação dos terrenos incultos e sua integração nos municípios que serão obrigados a cultiva-los e a empregar os produtos em utilidade pública;
d- Troca de serviços e produtos entre sociedades, evitando-se nela o uso da moeda.
Com o desaparecimento do Centro Promotor, em 1872, surgem a APTN- Associação Promotora do Trabalho Nacional e a Fraternidade Operária, duas organizações de que Antero de Quental foi um dos fundadores.
De acordo com os seus estatutos, os fins da Fraternidade Operária eram “socorrer-se e auxiliar-se criando para isso, por meio de quotização, um fundo monetário” e “tratar, por meio da cooperação, dos desenvolvimentos intelectuais e morais das classes operárias”.
Antero de Quental esteve também ligado à secção Portuguesa da AIT- Associação Internacional dos Trabalhadores, que teve como primeiro secretário José Nobre França, tendo sido da sua autoria do opúsculo “O que é a Internacional”, cuja primeira edição foi da Typographia do Futuro, em 1871, sem indicação do autor.
Ao contrário do que é afirmado por algumas pessoas que insistem que Antero de Quental foi um dos fundadores do Partido Socialista, a sua adesão formal àquele partido, segundo Maria Filomena Mónica e Fernando Catroga, só ocorreu em 1877, dois anos depois da sua fundação. Dos seus principais dirigentes destacaram-se Nobre França que redigiu o primeiro programa do partido e José Fontana, que terá sido um dos principais dinamizadores do movimento operário em Portugal, tendo estado ligado ao Centro Promotor e à Federação de Lisboa da Associação Internacional dos Trabalhadores, tendo posteriormente sido expulso desta organização.
Em 1878, o Partido Socialista muda de nome após fundir-se com as associações sindicais da AIT, passando a designar-se POSP- Partido dos Operários Socialistas de Portugal. Antero de Quental, depois de algum afastamento das associações socialistas, adere ao POSP, tendo sido várias vezes seu candidato a deputado.
Sobre o objetivo da sua participação nas eleições, em 1879. Antero de Quental foi claro quando escreveu: “Não pretendo ser deputado…A candidatura, neste caso, é apenas um pretexto, uma ocasião”.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30937, 19 de maio de 2016, p.14)
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