Como foi vivido o
atentado a Salazar em Vila Franca do Campo
Em
edição anterior do Correio dos Açores publicámos um texto relativo ao atentado
ao Doutor Oliveira Salazar, onde para além de termos referido a obsessão das autoridades
por culpabilizar uma determinada força política, mencionamos o modo como alguns
jornais reagiram ao mesmo.
Neste
texto, vamos divulgar como foi sentido em Vila Franca do Campo o atentado ao
Doutor Oliveira Salazar, que ocorreu a 3 de Julho de 1937.
As
primeiras referências ao atentado surgiram, em Vila Franca do Campo, no dia 10
de Julho, no jornal “O Autonómico” e no dia seguinte, no jornal “A Crença”.
Com
o título “Salazar – nefando atentado”, o redator principal de “O Autonómico”, o
Padre João de Melo Bulhões, recordou outros atentados onde foram assassinados
D. Carlos, “um grande português, precisamente no momento em que mais se
empenhava por fazer sair o país do atoleiro da ignomínia em que as lutas
mesquinhas dos partidos políticos o tinham lançado”, Sidónio Pais, “que queria
inaugurar uma época de paz e tolerância, após o truculento domínio do
democratismo intolerante” e António Granjo, “quando intentava fazer da
república um regime para todos os portugueses”.
Sobre
o atentado propriamente dito, o Padre João Bulhões escreveu que “a perda de
Salazar era uma perda irreparável. Era lançar a nação nas incertezas dum futuro
tenebroso”. E termina o texto escrevendo: “Para trás bandoleiros!..Queremos que
governe Salazar, porque governando Salazar, sabemos para onde vamos e o futuro
que nos espera. Queremos que governe Salazar, porque, governando Salazar, é
Portugal que manda e nós somos portugueses.”
No
jornal “A Crença”, que era dirigido pelo Padre Ernesto Ferreira e que tinha
como proprietário e editor o padre João De Melo Bulhões, do dia 11de Julho de
1937, um pequeno apontamento dá conta que “a notícia do atentado contra o Dr.
Oliveira Salazar causou em toda a Ilha de S. Miguel a maior repulsa e
indignação, pois tal ato, além de ser vil e cobarde, representa um verdadeiro
crime da traição à Pátria, neste momento difícil que atravessamos”.
A
11 de Julho, o Núcleo de Vila Franca do Campo da Legião Portuguesa, organização
criada em 1936 com o objetivo de “defender o património espiritual da Nação e combater
a ameaça comunista e anarquista”, que mais tarde implementou uma rede de
informadores, os “bufos”, mandou rezar uma missa na Matriz de São Miguel
Arcanjo “acompanhando o movimento de repulsa que vai por todo o país”.
À
missa que foi celebrada pelo Padre João de Melo Bulhões assistiram todos os
legionários do núcleo local que era comandado pelo Dr. Luciano Machado Soares,
Conservador do Registo Predial da Comarca de Vila Franca do Campo, bem como por
“muitas senhoras, várias autoridades, funcionários públicos, cavalheiros de
representação e muito povo”.
A
24 de Julho, o jornal “O Autonómico” transcreve um artigo da “pena do Ilustre
Diretor de “A VOZ” onde este refere que quem lucraria com o atentado seria “em
primeiro lugar os elementos revolucionários portugueses, mais ou menos retintos
na vermelhidão, representantes do democratismo burguês ou do marxismo espanhol,
que aspira a converter a Península em agregado de republiquetas soviéticas
federadas sob a hegemonia de Moscovo”. Por último, a coordenar todas as forças,
segundo o citado autor, estaria a Maçonaria que “é pelos seus ensinamentos
hipócritas e pela sua sombria e ridícula liturgia, uma escola do assassínio
político.”
A
4 de Agosto, o Correio dos Açores divulga uma nota, datada de 21 de Julho, do
seu correspondente em Ponta Garça, que supomos ser o professor do ensino
primário António de Medeiros Rodrigues, onde este refere que “causou em Ponta
Garça a maior repulsa e indignação o vil e monstruoso atentado de que ia sendo
vítima, no dia 4 do corrente, em Lisboa, o nosso querido e prestigioso Chefe –
Dr. Oliveira Salazar”.
Por
último, a 30 de Outubro de 1937, “O Autonómico”, numa nota publicada na
primeira página, menciona que “O Sr. Dr. Oliveira Salazar quis ter a gentileza
de distinguir a Comissão Administrativa do nosso Município com um atencioso
cartão de agradecimentos pelos parabéns e protestos que esta lhe dirigiu contra
o vilíssimo atentado de que S. Exª ia
sendo vítima e milagrosamente escapou”.
Teófilo
Braga
(Correio
dos Açores, 2986, 1 Janeiro de 2014, p.15)
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