A Pátria, 12 de novembro de 1923
Maria Evelina de Sousa condenada ao esquecimento?
Desconhecemos a razão do desprezo a que sido votada, por parte das mais diversas entidades, Maria Evelina de Sousa (1 de janeiro de 1879 – 12 de fevereiro de 1946) que foi uma distinta professora primária e jornalista micaelense. Com efeito, não conhecemos nenhuma rua com o seu nome e não recebeu qualquer “condecoração”, nem mesmo a título póstumo.
Nasceu em Ponta Delgada, cidade onde frequentou a Escola Distrital de Habilitação ao Magistério, tendo concluído o curso em 1900 (?) com a classificação de 17 valores.
A partir de 1904 começou a lecionar na Escola de Santa Clara, tendo, quatro anos mais tarde, em 1908, sido responsável pela criação da primeira biblioteca escolar do círculo, iniciativa muito comentada na sociedade micaelense e na comunicação social da altura.
No âmbito do ensino, Maria Evelina de Sousa, procurou introduzir inovações nos Açores, tendo aprendido o método de leitura e escrita, Método Legográfico-Luazes, com a sua autora, a professora, pedagoga e escritora Maria Amália Luazes, que foi a fundadora do Instituto do Professorado Primário Oficial Português, em 1916. Assim, Maria Evelina de Sousa ofereceu-se para explicar, a título gratuito, o método a todos os professores que o quisessem aprender. Foi, também, por sua iniciativa que se realizou em Ponta Delgada uma conferência de propagando do método de João de Deus.
Em matéria de ensino, ainda durante a monarquia, Maria Evelina de Sousa defendeu que nos estabelecimentos escolares não devia ser permitido o ensino de matéria religiosa, o que veio a acontecer com a implantação da República.
Pouco depois da implantação da República, Maria Evelina de Sousa escreveu uma carta aberta ao Dr. Francisco d’Ataíde Machado de Faria e Maia, presidente da Comissão Administrativa Republicana, onde apresentou um plano de remodelação do ensino primário oficial para a cidade de Ponta Delgada, tendo entre outras medidas defendido a criação de quatro escolas centrais e a criação de uma rede de escolas que deveria incluir “as diferentes associações que, trabalhando isoladamente, têm o mesmo objetivo” e que eram a Associação Século XX, as Comissões de Beneficiência e Ensino e a Associação das Filhas de Maria.
Como jornalista é de destacar a sua colaboração, entre 1904 e 1907, no jornal portuense dedicado aos interesses da instrução e do professorado “O Campeão Escolar” e a fundação e direção e redação da “Revista Pedagógica”, que se apresentava como órgão do professorado oficial açoriano e que, entre 1909 e 1915, esteve ao serviço da educação e dos professores, tendo sido distribuída a nível nacional. Para além de colaborar no jornal “A Folha”, fundado em 1922 pela sua amiga Alice Moderno, foi, a partir de 12 de maio de 1915, secretária de redação daquele jornal e colaboradora do jornal “Correio dos Açores”, onde publicou alguns artigos de opinião e poesia diversa.
Fez parte da comissão organizadora da Escola Industrial de Rendas de Bilros que funcionou em Ponta Delgada sob a regência da professora D. Hortense de Morais.
No âmbito da defesa dos Animais, foi com Alice Moderna uma das principais dinamizadoras da criação da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, em 1911, tendo sido ela a responsável pela redação dos estatutos e mais tarde, criada a associação, assumido vários cargos nos órgãos sociais da mesma.
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