terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Antero de Quental, Lassale e Proudhon


Antero de Quental, Lassale e Proudhon

“Os grandes só nos parecem grandes porque estamos de joelhos. Levantemo-nos.” (Proudhon)

Antero de Quental, segundo Alberto Sampaio, no período mais “belo da sua vida”, “desprezando altivamente as grandezas e honras oficiais, que com tanta facilidade conseguiria, continua ao lado do povo, combatendo agora pelos seus direitos, pela renovação social que tinha sido e era ainda o seu ideal”.

Sobre este período, o próprio Antero de Quental escreveu: Ao mesmo tempo que conspirava a favor da União Ibérica, fundava com outra mão sociedades operárias e introduzia, adepto de Marx e Engels, em Portugal a Associação Internacional dos Trabalhadores. Fui durante 7 ou 8 anos uma espécie de pequeno Lassale…”

Neste texto, procurarei apresentar algumas ideias de Antero de Quental que normalmente são voluntariamente esquecidas por quem devia ter a obrigação de, querendo dar a conhecer o Maior dos açorianos, não omitir nenhum dos aspetos da sua vida e da sua obra. De relance, também, farei referência a alguns dois vultos que terão sido referência para Antero ou foram por ele mencionados. Embora muitas vezes o seu pensamento seja, por ignorância ou por má-fé, deturpado, não farei qualquer menção a Marx e Engels por serem os mais conhecidos e considerados os pais do socialismo real ou comunismo que deturpados acabaram por não passar de uma miragem.

De acordo com vários autores, o socialismo que Antero de Quental preconizou pouco tinha a ver com o defendido pelos criadores do chamado socialismo científico já referidos, Marx e Engels. Pelo contrário, o próprio Antero de Quental mencionou que foi fortemente influenciado pelo filósofo Pierre-Joseph Proudhon, considerado, por alguns, o fundador do movimento anarquista.

João Príncipe, num texto publicado no Jornal “A Batalha”, de novembro-dezembro de 2013, escreve que foi muito grande a influência de Proudhon em Antero de Quental nomeadamente nas Odes Modernas ou no texto de 1871, “O que é a Internacional”.

De acordo com o referido autor, para Antero de Quental “a questão social era mais importante que a questão política” e na sociedade por ele preconizada era admitida “a propriedade individual e a liberdade de trabalho” e preconizada “a constituição de corporações livres, possuidoras dos instrumentos de trabalho que devem ser postos ao dispor dos seus membros. Estas coletividades entendem-se fraternalmente, concedendo-se mutuamente crédito, trocam diretamente os produtos, suprimindo os intermediários, estabelecendo federações e um sistema universal de bancos e de circulação e troca (…). Por esta via elimina-se simultaneamente o capitalismo e o Estado…”

Sobre o filósofo francês, num texto intitulado “O Socialismo e a moral”, Antero escreveu o seguinte: “O grande Proudhon, depois de 30 anos de trabalho e martírio, desenganado da política das revoluções, chegava finalmente, numa das últimas páginas que escreveu, a esta conclusão: “O mundo só pela moral será libertado e salvo””.

Ferdinand Lassale, referido por Antero de Quental, foi um advogado alemão que se inspirou em Karl Marx e também contatou com Proudhon. Apesar de conhecer bem as ideias de Marx e de ter convivido com ele, o seu pensamento divergia do de Marx, pois era fortemente nacionalista e defendia a ação política para mudar o sistema e não a via revolucionária.

Lassale foi um grande agitador, tendo participado ativamente na revolução alemã de 1848, onde foi preso. Foi, também, um grande organizador do movimento operário alemão, tendo fundado um partido político de orientação socialista.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31132, 18 de janeiro de 2017, p. 16)

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