quarta-feira, 5 de junho de 2013

João Jacinto Januário Júnior (1896-1962)

João Jacinto Januário Júnior (1896-1962)



O cantador e improvisador popular João Jacinto Januário Júnior nasceu, viveu e faleceu na Rua Caminho do Mato, na Ribeira Seca de Vila Franca do Campo.

Filho de João Jacinto Januário e de Maria da Glória, frequentou a escola primária, onde concluiu o primeiro grau, João Jacinto Januário Júnior desde muito novo mostrou uma grande facilidade para a poesia, sendo as suas quadras de um lirismo acentuado e por vezes de carácter humorístico, sobretudo nos desafios,

Como escrevia com bastante facilidade foi muito procurado para versejar comedias, escrever letras para fados e para canções de cunho regional.

De todo o seu labor muito pouco ficou registado. Temos conhecimento da publicação de um opúsculo, onde narrou o fatídico acidente, ocorrido nas Furnas em Agosto de 1939, que vitimou o Dr. Arsénio Moniz Furtado.

Entre 1960 e 1961, pela mão do senhor padre José Luís de Fraga, foram publicados, no semanário "A Crença", oito trabalhos de temática religiosa. Em 1985, a associação Amigos dos Açores editou a brochura “Os Reis Magos", com o texto integral do cortejo dos Reis Magos, iniciativa que teve início na Ribeira Seca em 1937 e que ainda perdura.

Conhecido, em toda a ilha de São Miguel e fora dela, como um bom repentista, João Jacinto Januário teve duros desafios com outros cantadores populares, como o Barbeiro, o Furtado, o Tenrinho, o Virgínio, o Charrua, o Ferreirinha das Bicas, o Bravo e a Trulu,

Em 1934, deslocou-se à ilha Terceira, juntamente com o Barbeiro, de Nordeste, o Valério, da Achada e o Duarte, da Povoação, para representar o Distrito de Ponta Delgada no Torneio Artístico e Literário Açoriano, organizado, em Angra do Heroísmo, pelo distinto escritor Gervásio Lima.

Reprimida por alguma legislação monárquica a poesia popular tem sido, marginalizada por quem julga que o povo, muitas vezes sem qualquer preparação escolar, não tem capacidade para criar. Sobre o facto de que para muitos dos poetas populares a sua escola ter sido a experiência da vida, o grande improvisador terceirense, José de Sousa Brasil, o Charrua, de que João Januário foi um grande admirador, escreveu a seguinte quadra:
“Tive a enxada por caneta
Por lápis o alvião
Por papel a terra preta
- Foi esta a minha instrução.

Contudo, sempre houve pessoas que valorizaram a cultura popular, hoje ameaçada devido aos vários mecanismos de massificação e de consumo da nossa sociedade. Entre elas destacaria o Dr. Oliveira San-Bento que num texto intitulado “Água límpida em fonte pura", publicado em 1937, a dado passo refere:

"Para eles, pois, para os cantadores populares, vão as minhas saudações e aminha aberta simpatia. É que eu gosto de ver correr, dos seus lábios afeitos à fala vigorosa que brada aos bois e ao arado, que reza ao sacho rasgador fecundo da gleba ou que palra em outros diversos misteres rurais, o fio cristalino e desartificioso da sua poesia, que cheira a acácias e giesteiras floridas, a urze bravia, ao ondoso faval em flor, ao odor do trigo novo na eira ou ao perfume ténue e indizível da terra revolvida de fresco pela relha ou pelo gume da enxada.”

A 30 de Abril de 1995, o Lions Clube de Vila Franca do Campo homenageou o poeta popular João Jacinto Januário Júnior, colocando na fachada da casa onde nasceu uma placa.

Hoje, com a crescente massificação da nossa vida, onde se sobrevaloriza tudo o que vem de fora, cada vez mais se compreende que só teremos futuro se soubermos salvar toda a riqueza do passado.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, nº 2814, 5 de Junho de 2013, p.16)

Sem comentários: