quarta-feira, 19 de junho de 2013
Lagoas do Congro e dos Nenúfares
Lagoas do Congro e dos Nenúfares abandonadas
Visito as lagoas do Congro e dos Nenúfares, regularmente, desde o início da década de setenta do século passado.
Na altura, toda a zona envolvente era ajardinada e os trilhos apresentavam uma limpeza idêntica à que hoje encontramos no Parque Terra Nostra, nas Furnas, ou no Pinhal da Paz, na Fajã de Cima. A manutenção do espaço era assegurada pelos seus proprietários, através de um caseiro que era natural da Ponta Garça e que residiu durante muitos anos na rua Nova, na Ribeira Seca de Vila Franca do Campo.
Mais tarde, depois de ter tomado consciência de que para vivermos bem, para além de assegurarmos um conjunto de bens materiais, era fundamental não destruir o património natural, bem como conservar e valorizar o património cultural que nos foi legado pelos nossos antepassados, preocupei-me com o abandono a que foram votadas as lagoas do Congro e dos Nenúfares.
Considerando que ninguém protege o que não conhece e como forma de chamar a atenção para a situação, ao longo dos anos fui organizando, no âmbito das atividades dos Amigos dos Açores, passeios pedestres com passagem pelas duas lagoas mencionadas, bem como pela lagoa do Areeiro, implantada no Pico da Dona Guiomar.
Como forma de promover o pedestrianismo, o desporto dos que andam a pé, elaborei um texto de um roteiro pedestre, que em 1996, foi editado pelos Amigos dos Açores como título “Percurso Pedestre das Três Lagoas”.
Em 1997, os Amigos dos Açores publicaram o livro Lagoas e Lagoeiros da Ilha de São Miguel que, para além do seu “propósito de divulgação numa perspetiva de conservação”, reuniu informações que não só permitiam “ajudar a conhecer e interpretar uma realidade natural” e a “servir de ponto de partida para ações concretas de proteção e recuperação”.
No mencionado livro, da autoria de João Paulo Constância, Teófilo Braga, João Carlos Nunes, Emanuel Machado e Luís Silva, para além da descrição das lagoas do Congro, Nenúfares e Areeiro, também foram mencionados os seguintes lagoeiros existentes no concelho de Vila Franca do Campo: Espraiados, localizado a Norte do Pico d’El Rei, lagoa do Pico d’El Rei, lagoeiro do Pico do Frescão e três pequenas “lagoas” implantadas no pico do Hortelão (ou Pico da Três Lagoas).
No mês de Fevereiro do ano 2000, os Amigos dos Açores apresentaram ao Governo Regional dos Açores uma “Proposta de Classificação das Lagoas do Congro e dos Nenúfares como Área Protegida”.
Na mencionada proposta, depois de uma caraterização sob diversos aspetos, designadamente históricos, geográficos, geológicos, biofísicos, paisagísticos e socioeconómicos, são sugeridas, como primeiras medidas de recuperação, a limpeza dos dois trilhos que levam às duas lagoas, a limpeza e identificação do trilho que liga as duas lagoas, o corte de algumas invasoras e a identificação das espécies vegetais existentes, tendo em vista o aproveitamento pedagógico da área.
Sete anos depois da proposta apresentada pelos Amigos dos Açores, em 2007, a cratera das lagoas do Congro e dos Nenúfares foi, finalmente, classificada como “área protegida para a gestão de habitats ou espécies (Decreto Legislativo nº 15/06/2007) e no ano seguinte, em 2008, parte da bacia hidrográfica foi adquirida pela Secretaria Regional do Ambiente e do Mar.
Em 2010, os Amigos dos Açores editaram a brochura “Lagoas do Congro e dos Nenúfares- Proposta de recuperação e gestão da cratera”, cujo texto resultou de um trabalho de estágio (Estagiar L) que foi entregue, em Julho de 2008, à Secretaria Regional do Ambiente e que pretendia ser uma “ideia base a desenvolver em plano de pormenor” com o objetivo de “recuperar o património “perdido” e restituir ao local parte do seu antigo esplendor”.
A autora dessa proposta, Malgorzata Pietrak, considera, do meu ponto de vista muito bem, que para a garantia da sustentabilidade ecológica terá de ser pensada a sustentabilidade económica e esta só se atingirá se não for descurada a integração do espaço na oferta turística. Também partilho a sua opinião quando afirma que “a recuperação e a futura gestão da cratera deverão ser exemplares, envolvendo tanto a comunidade local, que chegou a celebrar o feriado municipal à volta destas lagoas, como diversas entidades públicas e privadas, através de sinergias que ajudem a “ressuscitar” o carácter que esta zona teve outrora”.
Os vilafranqueses não podem deixar que o espaço, que é propriedade da região, fique, tal como está, ao abandono.
Teófilo Braga
Correio dos Açores, nº 2824, 19 de Junho de 2013, p.16
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