O São João da Vila
A devoção a São João em Vila Franca do Campo perde-se nos tempos, tendo vários autores, de que destaco o Padre Ernesto Ferreira, a ela feito referência nas suas obras ou em vários jornais. Mais recentemente, em 2010, Eduardo Furtado publicou um monumental trabalho de compilação sobre os festejos em sua honra.
Neste texto, não pretendo mais do que fazer referência a algumas tradições ligadas ao São João, mais concretamente sobre as que foram mantidas até há alguns anos na Ribeira Seca.
Assim, na toponímia da Ribeira Seca há um local que é dedicado a São João. Trata-se do chamado Redondo de São João, onde existe um nicho com uma imagem que, curiosamente, não é dedicada àquele santo mas sim a Nossa Senhora da Conceição.
Relativamente perto do mesmo, localiza-se a Ermida de São João, que terá escapado à destruição de Vila Franca do Campo pelo “terramoto” de 1522. Do outro lado da estrada, localizou-se uma antiga instalação militar, o Quartel de São João.
No dia 24 de Junho, alguns habitantes da Ribeira Seca costumavam deslocar-se para o Redondo de São João e aí confraternizavam e organizavam “balhos”.
Para além do mencionado, o dia de São João era festejado, com piquenique e “balhos” na Lagoa do Congro, sendo o principal trajecto utilizado pelos moradores, que se deslocavam a pé, de cavalo ou de carros de bois, o mencionado por Manuel de Amaral Brum, em artigo publicado, em 1961, no jornal “A Vila”: “depois de percorrido o caminho do Mato, chegava-se à Terra Corrida, subia-se o Calvário, também chamado Outeiro da Terra Corrida, na Grota das Freiras, virava-se à direita em direcção ao Pauzinho de Água e andando um pouco mais chegava-se à cancela das casas da Lagoa do Congro”.
Estas tradições foram desaparecendo, lentamente, de modo a que já na década de sessenta do século passado praticamente não existiam. Apenas permanecia o hábito de enfeitar as “fontes” nas casas particulares e os fontanários públicos, como o que se situava na rua da Palmeira e o que existia no Canto da Ponta Garça (Sul da Rua do Jogo).
Se não estou em erro, a Câmara Municipal de Vila Franca, na década de 70 do século passado, terá começado a organizar as festas de São João, concentrando as marchas no Campo de Jogos da Mãe de Deus, depois das primeiras verbenas e marchas terem sido realizadas por iniciativa do padre Lucindo Mendes de Andrade, pároco de São Pedro, no final da década anterior.
Esta iniciativa camarária foi interrompida, de modo que em 1975 foi a Ribeira Seca que, graças ao dinamismo dos professores do primeiro ciclo, como Eduardo Calisto e Valter Soares, não deixou cair no esquecimento as manifestações de devoção a São João. A prova do afirmado, está escrito no seguinte texto publicado no jornal “A Crença”, de 29 de Julho de 1975:
“Eis um dia que a tradição consagra ao santo Precursor com festejos e cantorias nesta nossa Vila, mas que este ano decorreu sem o entusiasmo dos anos transactos…
Contudo, quem salvou a honra da Terra foi o lugar da Ribeira Seca, graças à esforçada dedicação dos srs. Professores do Ensino Básico daquela localidade, que não se pouparam a canseiras esgotantes para levarem a efeito as brilhantes festas de S. João que realizaram no recreio da sua Escola com três vistosas marchas populares…”
E já que fiz referência às Escolas, deixo aqui um excerto da letra das Marcha das Escolas da Ribeira Seca, de 1992, que copiei de uma folha A4 que tem a seguinte referência “Dact. – V.S.”:
Ribeira Seca serena,
Vem para a nossa verbena,
Trazendo animação.
Lá do alto vem o fogo,
E então o povo todo,
Dá vivas a São João.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, nº 2819, 12 de Junho de 2013, p.15)
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