quarta-feira, 8 de junho de 2016
As plantas do São João (da Vila)
As plantas do São João (da Vila)
Na noite de São João
Todas as ervas são bentas;
Só a milfurada não.
O padre Ernesto Ferreira no seu livro “A Alma do Povo Micaelense”, num texto intitulado “Noite de São João”, faz referência a algumas superstições relacionadas com bênçãos que as pessoas poderão receber se fizerem algo, na noite de São João, como por exemplo beber água antes do sol nascer, expor-se ao sereno, colocar favas e milho ao sereno, colocar, também, ao sereno, “cardos cujas flores elas [as donzelas] previamente queimaram e a cujas hastes prenderam papeis com nomes de jovens”, etc.
No mesmo texto, o Padre Ernesto Ferreira menciona a crença de que “a boliana procria ao fim se sete anos de união com o barbasco” e que na noite de São João, o “feito de Sam João” produz uma linda flor que nunca ninguém conseguiu pôr-lhe os olhos.
Francisco Arruda Furtado, no seu texto intitulado “Materiais para o estudo antropológico dos povos açorianos. Observações sobre o povo micaelense”, publicado em 1884, sobre a valeriana (desconhecemos a espécie) escreveu o seguinte: “o povo crê que de sete em sete anos, na noite de S. João, a boliana dá uma flor que é exatamente do feitio duma pena de pato e com que também: se pode escrever. Para a poder colher é preciso ir à meia-noite com um guardanapo de olhos pela cabeça, e a flor, ao ser cortada, dá um grito…”
Hoje, não se conhece qualquer uso da valeriana na medicina popular nos Açores, mas, segundo o livro “Plantas e Produtos Vegetais em Fitoterapia”, usam-se as raízes e os rizomas da Valeriana officinalis como relaxante muscular e para induzir o sono.
A espécie referida é nativa da Europa e de partes da Ásia, sendo muito cultivada noutras regiões o que também terá acontecido nos Açores.
Sobre o feto de São João, que segundo Arruda Furtado também se designa feto-real (Osmunda regalis), o povo também acreditava que dava “uma flor muito bonita, na noite de S. João, que nunca ninguém viu, mas que daria grandes tesouros àquele que a pudesse apanhar; quem a poderia encontrar mais facilmente, seria um padre indo ao sítio à meia-noite revestido como para dizer missa.”
O feto-real é nativo da Macaronésia, Europa, América, Asia e África, existindo em todas as ilhas dos Açores, exceto na Graciosa.
Apreciado como planta ornamental em diversos países da Europa, foi usado pelos médicos antigos com várias finalidades, não se conhecendo qualquer aproveitamento nos Açores.
Para além das plantas que foram referidas pelo padre Ernesto Ferreira, acrescentamos a carvalha cujo aroma apreciamos, na noite de São João, o ano passado.
A carvalha (Lithocarpus edulis), também conhecida como carvalho de jardim, é uma espécie, nativa do Japão, que pertence à família das Fagaceae. A carvalha produz frutos que apesar do seu sabor amargo são comestíveis.
Relativamente comum como ornamental em algumas bermas das nossas estradas, em Vila Franca do Campo, também aparece em jardins como o Antero de Quental, no centro da Vila, e no Dr. António da Silva Cabral, na freguesia de São Pedro.
O ano passado, como já mencionamos, fomos assistir ao desfile das marchas de São João e ao deslocarmo-nos da Avenida para umas barraquinhas existentes junto à Rotunda dos Frades notamos um forte e agradável perfume que não sabíamos de onde provinha. Na ocasião, estávamos acompanhados pelo Doutor Raimundo Quintal que nos chamou a atenção para o facto de o perfume ter origem em duas carvalhas que estavam floridas ao lado do Convento de São Francisco.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30953, 8 de junho de 2016, p.16)
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