quarta-feira, 22 de junho de 2016

O São João da Vila de outros tempos


O São João da Vila de outros tempos

Ó meu S. João da Vila,
Ó meu santo marinheiro
Levai-me na vossa barca
Para o Rio de Janeiro.
(Do Cancioneiro Popular Açoriano)

O culto de São João Batista, segundo alguns autores, vem do século IV e as festas em sua honra ter-se-ão iniciado em Portugal com a conquista da nacionalidade, passando a oficiais com D. João II, no século XV.

Nos Açores, as festas de São João chegaram com os primeiros povoadores e a devoção ao santo fez com que, ao longo dos séculos, fossem erguidas varias igrejas e ermidas em todo o arquipélago, uma das quais na freguesia da Ribeira Seca, em Vila Franca do Campo.

De momento, a data mais antiga que possuímos referências escritas sobre as festas de São João em Vila Franca do Campo é a do ano de 1930, mas as festas são muito mais antigas.

Em 1930, os festejos de São João não tiveram o brilho que costumavam ter em anos anteriores, pois na véspera do dia faleceu o senhor João Teotónio da Silveira Moniz que foi um benemérito vila-franquense muito estimado na vila e um protetor das duas filarmónicas. Por este motivo aquelas não tocaram a alvorada e foram retiradas todas as ornamentações das respetivas sedes e das torres da Matriz e da Câmara Municipal, onde as filarmónicas costumavam tocar.

Na vila, no ano referido, poucas casas foram ornamentadas e poucas pessoas acorreram ao ilhéu e aos sítios à beira-mar, como era habitual. Salvou-se a concentração de pessoas na Lagoa do Congro que foi muito concorrida, tendo havido “bailes e descantes populares muito animados”.

Em 1934, o dia de São João começou com a alvorada tocada pelas duas filarmónicas, a União Progressista que tocou na torre da Câmara Municipal e a Lealdade que fez mesmo na torre da Matriz. De seguida, as duas bandas de música percorreram as principais ruas da vila, tocando o ordinário de São João.

Durante o dia as pessoas deslocaram-se para as margens da Lagoa do Congro, onde houve bailaricos. Ao entardecer, alguns vila-franquenses visitaram o ilhéu, onde tocou a banda União Progressista, e concentraram-se no litoral, nomeadamente no Poço Largo.

Em 1938, não se conhecem alterações à tradição do toque da alvorada, do desfile das bandas pelas ruas da vila, dos convívios na Lagoa do Congro, no ilhéu e no litoral da vila. Assim, tal como aconteceu em anos anteriores a Câmara Municipal transferiu o feriado municipal de 8 de maio para 24 de junho. Sobre a romaria à Lagoa do Congro, o jornal Correio dos Açores, de 8 de junho, escreveu o seguinte: “é das mais populares que há nesta ilha; ali se reúnem em alegre convívio pessoas de todas as condições e de todos os pontos da ilha, não faltando os bailaricos com descantes, desafios de voleibol, etc.”

Em 1969, no dia de São João ainda se mantinha a tradição da alvorada tocada nas torres, ainda se realizavam os convívios no ilhéu e nas matas da Lagoa do Congro. Como novidade, em relação ao que se passava na década de 30 do século passado, surgem as verbenas com a exibição de “todos os grupos de variedades” e surge o “Dancing com a atuação do apreciado grupo musical “Os Lords”, de Ponta Delgada, bem como um concurso livre de quadras alusivas às festas.

No dia 23, do referido ano, houve a concentração das marchas no Largo Bento de Góis, seguida de desfile por algumas ruas da vila até ao Campo de Jogos da Mãe de Deus, onde atuaram. No mesmo dia houve a tradicional visita às “fontes machas- as de São Miguel, são Pedro e São Francisco e às ruas que se encontravam enfeitadas e onde se realizavam bailes populares.

Hoje, parece que há menos espontaneidade, menor participação ou envolvimento das famílias, perderam-se algumas boas tradições, mas a festa continua.

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 30965, 22 de junho de 2016, p.18)

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