domingo, 7 de setembro de 2008

Filarmónica Lira Camponesa



A Filarmónica Lira Camponesa foi criada em Maio ou Junho de 1915, sendo um dos seus fundadores o senhor António de Medeiros Agostinho.

A primeira notícia que temos é do semanário vilfranquense “O Autonómico” que no dia 5 de Junho de 1915 publica a seguinte nota: “Vae por diante, e parece que com enthusiasmo, a sociedade philarmonica ha pouco creada na Ribeira Seca. É seu regente o sr. António da Silva”.

A primeira participação em festividades que temos conhecimento ocorreu durante as festas do senhor Bom Jesus da Pedra. Naquele ano, 1915, a Lira Camponesa fechou a procissãoe as filarmónicas União Fraternal, de Ponta Delgada, e Lealdade, de Vila Franca do Campo, seguiram após a imagem. Como curiosidade, registe-se a atitude pouco digna da União Progressista que, por não fechar a procissão, decidiu não participar nela.

Ainda em 1915, a Lira Camponesa participou nas procissões de Nossa Senhora da Piedade, em Ponta Garça, Nossa Senhora do Rosário, na Matriz de Vila Franca, e Imaculada Conceição, na Ribeira das Tainhas.

O ano de 1916 foi, pensamos, um ano de muita actividade para a Lira. Desde o dia 1 de Janeiro, em que foram cumprimentados os sócios, foi um nunca mais parar de actuações nas mais diversas manifestações religiosas realizadas em todo o concelho. Entre elas destacamos: a procissão dos Terceiros, a expensas da Ordem Terceira de São Francisco, a procissão dos Passos, por iniciativa da Santa Casa da Misericórdia de Vila Franca, a procissão em honra de São Miguel Arcanjo, a procissão de Santo António, realizada na Igreja de São Francisco, a mudança do Senhor da Pedra, a procissão do Santíssimo Sacramento, em Água d’Alto e a de Nossa Senhora da Piedade, em Ponta Garça.

A partir de Setembro/Outubro de 1916, a Lira passou a ser regida “temporariamente” pelo sr. Manuel Victor d’Almeida, regente da Fanfarra Lealdade, situação que só foi resolvida um ano depois com a vinda da Ribeira Grande do sr. Herculano de Lima.

A 25 de Fevereiro de 1917, por ocasião da procissão dos Terceiros, a Lira Camponesa estreou alguns instrumentos novos, adquiridos com o produto de donativos até àquela data recolhidos. A iniciativa partiu do senhor António Ernesto da Costa San Pedro Esteves, seu “activo e zeloso director”, aspirante de Finanças em Vila Franca do Campo.

Foi a 1 de Julho de 1917 que a Lira actuou, pela primeira vez, fora do concelho. A sída foi para a Lomba da Maia e com o objectivo de ir acompanhar uma coroação do Divino Espírito Santo.

Solucionado o problema da regência, que levou a Direcção da Filarmónica a suspender a cobrança de quotas por dois meses, nos fins de 1917, em 1918 a Lira voltou a ter um ano pleno de actividades, como podemos concluir através da leitura dos três extractos do “Autonómico” que abaixo se transcreve:

“A philarmonica “Lyra Camponeza” da Ribeira Secca, no dia de S.João foi à Lomba da Maia assistir ao festejo d’ um “Imperio”, indo novamente lá no domingo ultimo. A mesma philarmonica vae caindo muito no agrado do publico pelo seu progresso, pontualidade e bom porte dos respectivos socios tocantes” (O Autonomico, 6 de Julho de 1918)

“Aquando da festa de Santo António realizada (domingo) na igreja de S. Francisco e de tarde, durante a procissão, a “Lyra Camponeza” estreou “uns bonnets de muito bom gosto e que andaram por cerca de 200$000 reis” (O Autonomico, 20 de Julho de 1918)

“Está contractada para ir tocar nas festas da Senhora dos Anjos em Agua de Pau, nos dias 14,15 e 16 do corrente, a philarmonica “Lyra Camponeza”, que cada dia progride mais e melhores sympatias vae conquistando” (O Autonomico, 3 de Agosto de 1918)

O ano de 1919 foi marcado, no início, pela substituição, na Direcção da Lira, do sr. António Ernesto da Costa San Pedro Esteves pelo sr. José Furtado Pacheco, pela chegada, em Abril, de uns novos instrumentos, e presumivelmente pela substituição na regência do sr. Herculano Lima pelo sr. Fortunato Soares de Lima, que em Junho ou Julho foi nomeado “proposto do Thesoureiro de Finanças do nosso Concelho”.

1920 foi um ano rotineiro na actividade da filarmónica, não havendo nada a registar, para além das participações em diversas procissões realizadas no concelho.

Em 1921 regista-se a realização, em Abril, de dois espectáculos em benefício da filarmónica, no Salão Orion.

O primeiro foi “um espectáculo de variedades, que constou de música, monologos, scenas cómicas e cançonetas, estando a casa à cunha e reinando sempre nela a melhor ordem e animação. Tomaram parte nelle a beneficiada, o seu habil regente (Fortunato Alvaro de Lima), os srs. Francisco Botelho Costa, Manuel Francisco d’Almeida, José Pacheco do canto, Félix Dias, o menino Joaquim de Melo e as meninas Ignez d’Andrade, Natalia Medeiros e Clotilde da Costa, sendo todos muito aplaudidos no desempenho dos seus papéis” ( O Autonómico, 9 de Abril de 1921). O segundo constou de uma comédia intitulada “Ouro sobre Azul”.

Em 1922, no dia de Ano Novo, por motivo de doença do seu regente e ao contrário do que era costume, a Lira viu-se impossibilitada de cumprimentar os seus sócios contribuintes. Naquele ano, a Lira participou, entre outras, nas seguintes festividades: Senhor dos Passos, em Ponta Garça, procissão dos enfermos em Vila Franaca, nos festejos do Senhor da Pedra e cumprimentou, em Agosto, o novo médico, Dr. Augusto Botelho Simas e o senhor João Bento dos Reis, aquando da sua nomeação como contador.

Após prolongada doença, devido à qual foi obrigado a deslocar-se a Lisboa a fim de se submeter a uma operação cirúrgica, o sr. Fortunato Álvaro de Lima deixa, em Julho de 1923, a regência da Lira. O Autonómico comentava a notícia do seguinte modo: “É pena, pois aquella corporação desempenhava-se bem e prestava bons serviços”.

Desconhece-se o nome do seu substituto, mas sabe-se que a Lira teve vários regentes militares, um deles, segundo o sr. Manuel Medeiros Bolota que residiu na rua da Palmeira, tinha apelido Castro e terá trazido consigo o barítono, muito conhecido em Vila Franca, de nome Salvador. Ao Castro que partiu para África sucedeu um de apelido Costa que se encontrava de “castigo” a prestar serviço militar no Nordeste.

A partir de 1923, a sua actividade diminuiu de modo que, para além da participação habitual nas festividades realizadas no oncelho, destaca-se apenas a sua ida à Ribeira Grande, a 4 de Setembro de 1927, para tocar na procissão do Coração de Jesus.

Em 1928, ano em que encerrou as suas actividades, a Lira teve uma actuação brilhante durante as festas do Senhor Bom Jesus da Pedra. Na ocasião a Lira apresentou , um excelente programa que mereceu o seguinte comentário:
“A briosa direcção da Lyra Camponeza tambem merece n’esta altura os nossos maiores louvores pela tenacidade com que procurou remover os grandes obstáculos que impediam aquella philarmonica de abrilhantar as nossas principais festas. Honrou-se asim, muito ao patriotico povo da Ribeira Secca e à nossa terra” ( O Autonomico, 8 de Setembro de 1928)

Relativamente às suas sedes, a Lira teve três: uma na Rua da Cruz à Ribeira, até muito recentemente moradia de José da Costa Bolarinho, outra na Rua da Palmeira, que pertenceu a Maria José “Branquinha” e, por último, na Rua da Cruz, numa casa que pertenceu a Berta Simões (do Capitão).

Outras curiosidades que me foram contadas pelo sr. Manuel Medeiros Bolota dizem respeito à farda, ao local de ensaio e ao chamamento para os enterros. Assim, segundo a referida fonte, uma das fardas da filarmónica era toda branca com boné azul ferrete, que no Verão era substituido por um branco.O mestre ensinava a marcar o passo na estrada, no local denominado por São João, deslocando-se depois para o centro da Ribeira Seca de “char-à-bancs” ou de burro com andilhas. Quando havia algum enterro e como os músicos eram, na sua maioria, camponeses, o mestre ia chamá-los, deslocando-se para um ponto alto (Eira) onde com um cornetim tocava o “toque de chamada”.

Por último aqui se apresenta uma lista, ainda que incompleta, de músicos da Lira Camponesa:
- José da Costa Branco (Libata)- pratos
- José de Medeiros Agostinho – baixo
- José de Medeiros (Zurrão)- baixo
- António Furtado Garoupa- cornetim
- Manuel Medeiros Bolota- clarinete
- João (Carqueija)- requinta
- Jacinto Furtado Vinhateiro (Maninho)- bombo
- Manuel do Rego- trombone
- António Carreiro Eugénio (Capitoa)- bombo
- Alfredo Cabral- barítono
- João carreiro eugénio (Machinho)- caixa
- Manuel Martins- clarinete
- José Medeiros Bolota- cornetim
- João Medeiros Bolota- caixa
- João Lima Carvalho- clarinete
- António Furtado Braga- clarinete
- José Braga- trompa
- Manuel Carreiro Eugénio- barítono
- Alfredo (Moleque) do Canto- trmbone
- João da Mota Botelho- cornetim
- José do Couto- clarinete
- José de Agostinho- clarinete
- José Miguel- clarinete
- José de Sousa Arruda- clarinete

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Os Reis Magos


“Um grupo de pessoas da Ribeira Seca, representando os Magos com suas comitivas, vieram trazer à Matriz desta Vila várias ofertas.Tanto no Largo Bento de Goes, onde deitou fala uma das figuras representativas, como em volta da Matriz, reuniu-se uma enorme multidão.”
(O Autonómico, 9/Jan/1937)


Esta foi a primeira notícia que encontramos nos jornais, referente ao cortejo dos Reis Magos que se realiza no lugar da Ribeira Seca, em Vila Franca do Campo.

Embora não se tenha a certeza acerca da autoria dos versos que são declamados pelos diversos figurantes, tudo leva a crer que sejam da lavra do João Jacinto Januário, improvisador local.

Terão sido pioneiros dos primeiros cortejos realizados na Ribeira Seca, entre outros, os senhores João Jacinto Januário, Virginio Branco, Manuel Caetano Ventura (Manuel Libório), José Nicolau, José de Andrade, João de Andrade e António Couto.

O texto da Embaixada, com o qual os Amigos dos Açores editaram uma brochura, foi copiado, na íntegra, de umas folhas soltas pertencentes ao senhor José da Costa Bolarinho, antigo barbeiro da localidade, e algumas das estrofes que faltavam foram recitadas por Manuel de Andrade, um dos participantes numa das últimas embaixadas realizadas na década de setenta.

Quando saiu à rua, antes de um interregno de vinte e cinco anos, em 1973, eram figurantes, entre outros, os seguintes senhores: Manuel da Costa Esteves, António Jardim, António Andrade, José Fernando Andrade, Artur Bolota, José Agostinho Ventura.

Na altura, o jornal “A Vila”, publicado no dia 6 de Janeiro, noticiava o evento nos seguintes termos:
“Amanhã, pelas 20 horas, descerá da laboriosa Ribeira Seca, desta Vila, um curioso cortejo dos Reis que trará até à Igreja Matriz as ofertas da boa e generosa gente daquela localidade.
Precedido de uma estrela, firmada por uma criança em figura de anjo, o cortejo vindo das bandas da Calçada, deter-se-à junto do antigo Convento de Santo António, no Largo Bento de Góis, que figurará, para o, efeito, o palácio de Herodes.
Prosseguindo o seu caminho, o extenso cortejo dirigir-se-á para a Igreja Matriz pela rua Teófilo Braga, onde os Reis Magos, depois da fala do Embaixador, descerão dos cavalos e irão até junto do presépio entregar as suas ofertas ao Deus-Menino.
À saida do adro, surge, em montaria, um anjo a avisar os Magos do Oriente para não voltarem ao palácio de Herodes, devido às suas sinistras intenções.
Eis como a população da Ribeira Seca marca presença honrosa nesta quadra do Natal juntando-se, como se uma só família fosse, para trazer a sua generosa contribuição para as obras em que a sua paróquia anda empenhada, principalmente na construção do Salão Paroquial que nos parece ir entrar agora na fase final de acabamento.
O nosso aplauso para o povo da Ribeira Seca, pois, como é de ver não basta dizer-se que se gosta das coisas, sem contribuir para elas.

Bem haja tão boa gente.
Que Deus a ajude.”


Em 1998, depois de um quarto de século esquecida, a tradição foi retomada pelas mãos da juventude local organizada na associação “Jovens Unidos da Ribeira Seca”.

Reconstrução da histórica Ermida de São João

Abaixo, insiro dois recortes do jornal "A Vila", com um texto sobre a Ermida de São João.





(para uma melhor leitura deverá clicar sobre cada um dos recortes)