terça-feira, 30 de outubro de 2018

“Encontro com uma profissão” de Eduardo Calisto de Amaral (1)



“Encontro com uma profissão” de Eduardo Calisto de Amaral (1)


Embora apresente na capa a data de 2017, foi editado este ano um livrinho, da autoria do professor Eduardo Calisto Soares de Amaral, intitulado “Encontro com uma profissão”.

Com uma tiragem pequena e com uma distribuição restrita, o que é uma pena, o último trabalho daquele professor que marcou não só os seus alunos, mas todos os que com ele conviveram, merecia, pelos ensinamentos que dele se poderá extrair, uma maior divulgação. Contudo a decisão da família não foi esta e deve ser respeitada.

A pedido da família, o que muito me honrou, escrevi uma nota introdutória que achei por bem dar a conhecer aos leitores do Correio dos Açores. Dada a sua extensão, nesta semana divulgo a primeira parte e na próxima a segunda.

Este livro, tal como sugere o seu título, aborda parte da vida do professor Eduardo Calisto Soares de Amaral, com destaque para o período que vai desde 1955, ano em que iniciou a sua carreira profissional, na Escola Velha da Ribeira Seca, na Calçada, até 1992, ano em que se aposentou, estando também colocado na mesma localidade, mas no edifício do Plano dos Centenários.

Nesta nota introdutória, que escrevo com todo o gosto a pedido da sua família, é-me impossível fazer referência a todos os assuntos que o professor Eduardo Calisto aborda no seu livro, como o serviço militar que teve de cumprir por duas vezes, a aquisição e as alterações sofridas na sua casa, onde acabaria por habitar ainda antes de chegar a luz elétrica, a frequência de um curso de Orientação Pedagógica, as romarias à Senhora da Paz, as visitas de estudo anuais, o cantar à Estrelas, as festividades em honra de São João, etc., etc.. Assim, apenas destacarei as questões relacionadas com a educação.

Embora o professor Eduardo Calisto nunca esqueça, ao longo do texto, todas as pessoas que com ele cooperaram, com destaque para a sua “companheira de toda a vida”, a professora Adelaide da Conceição Soares, e para o seu cunhado, o professor Valter Soares Ferreira, que possuía uma destreza tal que era capaz de “reparar, melhorar, construir tudo e qualquer coisa que pudesse, de certo modo, melhorar o nível do ensino, no aspeto prático e visualizado”, esta pequena obra é muito mais do que uma despretensiosa autobiografia. Com efeito, através da sua leitura atenta é possível conhecer um pouco do estado da educação em dois regimes políticos diferentes, o Estado Novo, distinguindo-se dentro deste o período que foi até 1970, ano em que o Professor Catedrático José Veiga Simão assumiu o cargo de Ministro da Educação Nacional, e o regime democrático instituído a 25 de abril de 1974.

No que concerne às escolas, as descrições do Prof. Eduardo Calisto mostram que, sobretudo antes do Plano dos Centenários (1941-1969), que surgiu para, entre outras razões, acabar com o mau estado das instalações existentes nas várias escolas e para suprir a falta de salas para a separação dos sexos, não eram as mais dignas tanto para os docentes como para os alunos. A título de exemplo refiro o caso da Escola Velha da Ribeira Seca onde numa das salas “o professor, se sentado, não tinha visibilidade nenhuma para uma parte da sala” e as retretes sobretudo a masculina onde “por vezes as fezes chegavam a sair pela porta fora”.

Mas mais importante do que a apresentação do estado lastimável em que encontravam as instalações escolares, o mérito do Professor Eduardo Calisto está em não se ter conformado com a situação e, quer com ajuda exterior, quer recorrendo aos próprios meios, isto é, ao seu trabalho, ao dos colegas, e ao dos alunos, como no caso da escola referida, transformou o recreio desprezado num “belíssimo campo de mini-futebol “e “num pequeno jardim rústico”.

Relativamente à Escola Nova da Ribeira Seca, embora o edifício já apresentasse melhores condições, ao longo do tempo foi sofrendo melhoramentos, dos quais destaco o arranjo da latada da frente, a construção do tanque-piscina, o fecho dos alpendres, a instalação de alto-falantes e de intercomunicadores nas diversas salas, as alterações na cozinha e no refeitório e a construção dos anexos com duches e vestiários, etc. etc.

Teófilo Braga

sábado, 20 de outubro de 2018

Jogos infantis (1)

Ahhhhh Rolha!

Trata-se de um jogo de equipas, em que uma delas fica num determinado local de olhos fechados para não observar os movimentos da outra que se vai esconder num determinado local.

O objetivo da equipa que se escondeu é chegar com todos os elementos ao sítio onde a outra esteve e o desta é apanhar os elementos da outra equipa, bastando para tal apanhar um.

Na Rua do Jogo, o local que servia de base era a chamado “Cimento da Amélia”, zona cimentada que ficava em frente à casa de uma senhora já idosa chamada Amélia e os locais preferidos para esconderijos eram os terrenos situados no Canto da Ponta Garça.

Não encontrámos qualquer referência bibliográfica a este jogo que tem semelhanças com o Ferro Quente, pelo que o nome que escolhemos é o do grito que a equipa que se escondia dava para dar sinal que o jogo podia começar, isto é, já podia ser procurada.

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

A Casa Azul de Natividade Ribeiro


A Casa Azul de Natividade Ribeiro

Depois de alguns anos de procura, foi no passado mês de julho que, na Ilha da Madeira, consegui adquirir o livro “A Casa Azul” da autoria da minha conterrânea Natividade Ribeiro.

Tal como muitos outros jovens vila-franquenses, Natividade Ribeiro estudou no antigo Externato de Vila Franca, tendo mais tarde ido para Lisboa, onde se licenciou em Filosofia. Foi durante muitos anos professora de português em Macau e depois lecionou (ou ainda leciona?) em Lisboa.

Da autora, para além do livro que abordo neste texto, já tive a grata oportunidade de ler “Os Três Lugares de uma Mulher” que também recomendo.

Neste livro que, também, pode ser considerado autobiográfico, Natividade Ribeiro retrata a vida em Vila Franca do Campo no final da década de 60 e início da de setenta do século passado.

Estando por escrever a história da Vila daquele período, este livro, embora de carácter literário, dá a conhecer a vida de um camponês com terra e da sua família, retrata a vida de jovens estudantes pertencentes a um estrato social médio e aborda ainda que levemente a política nos últimos anos do fascismo e o entusiasmo nos primeiros anos após o 25 de abril de 1974.

Para além das pessoas da família da autora, penso que não será difícil identificar os seus professores no Externato de Vila Franca e o ex-professor que era um “bufo amigo”.

O livro apresenta outra originalidade que é a descrição de vários locais onde a autora fazia piqueniques com os colegas estudantes e outros amigos. Assim, através da sua leitura fica-se a conhecer um pouco a geografia do concelho, como o Ilhéu, a Lagoa do Fogo, a Vinha d’Areia, a Lagoa do Congro, etc..

Sobre o Externato de Vila Franca, Natividade Ribeiro recorda o professor de Francês que “adorava fazer chamadas individuais a alunos que não tivessem estudado, quase como um prazer sádico”, o de Matemática que dizia que nos testes ninguém copiava pois ele sabia sempre mais uma cábula do que o aluno e o de “Ciências que tinha a mania que só os testes difíceis provavam a sua competência” e que fazia perguntas sobre conteúdos que não tinha ensinado, estando as respostas “nas notas de rodapé, em letra muito miudinha, nos manuais dos nossos irmãos mais velhos”.

Não se tratava do mero uso da pedagogia tradicional, para a qual foram treinados. Eram verdadeiros atos de malvadez de pessoas que, acabaram por ser, injustamente, homenageados em Vila Franca do Campo como grandes professores. Enfim, deviam ser reconhecidos por outros serviços prestados à comunidade, se os prestaram, e não como pedagogos.

A propósito da Casa Azul, hoje em ruínas, que era um mirante, Natividade Ribeiro apresenta as preocupações dos agricultores. Era a elevada produção de batata que não tinha venda, era a produção do vinho que não era boa, era a preocupação com a vinda de açúcar do continente que poderia prejudicar a cultura da beterraba que era “uma cultura que continua a ser rentável e pouco trabalhosa”.

Sobre a cultura do ananás os agricultores preocupavam-se com a eventual proibição da apanha de leiva. Sobre este assunto pode-se ler: “Dizem que já há picos muito devastados. Mas hão-de arranjar um substituto que não prejudique tanto a natureza”.

No capítulo intitulado “Piquenique na Vinha d’Areia”, a autora recorda que a mesma era conhecida por “Praia das Francesas”, que “fora comparada por umas francesas extravagantes que faziam nudismo nas varandas, para grande escândalo dos naturais”. Sobre as alterações sofridas pode-se ler: “A Vinha d’Areia actual é outra praia. É uma praia do progresso, do consumo. Igual a tantas outras que se foram descaracterizando pela construção do parque automóvel, balneários, bares, “Aqua Park”, marina.”

Muito ficou por dizer, daí que recomendo uma leitura e valia a pena uma reedição.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31640, 4 de outubro de 2018, p. 22)