sábado, 28 de dezembro de 2013

Atentado a Salazar visto pelos jornais de Ponta Delgada



Atentado a Salazar

A 4 de Julho de 1937, o Doutor António de Oliveira Salazar (1889 1970), presidente do Conselho de Ministros, foi alvo de um atentado perpetrado por anarquistas, sendo o mais conhecido de entre eles o anarco-sindicalista Emídio Santana (1906 - 1988), autor de diversos ensaios sobre o anarco-sindicalismo e o mutualismo, que depois da queda do Estado Novo, em 25 de Abril de 1974, foi um dos fundadores do Movimento Libertário Português e da “Cooperativa Editora A Batalha” e diretor do Jornal “A Batalha”, que ainda hoje se publica.
Emídio Santana, que fugiu de Portugal por via marítima foi detido em Southampton, no Reino Unido, e entregue à polícia portuguesa em Outubro de 1937, no seu livro “História de um atentado: o atentado a Salazar”, publicado em 1976, relata com pormenor o ocorrido. Na referida obra nada lhe escapa, desde a preparação até às peripécias ocorridas depois do atentado, passando pelo ocorrido no dia. 
O jornalista Valdemar Cruz, no seu livro “Histórias secretas do atentado a Salazar”, editado pela primeira vez em 1999 e reeditado em Abril deste ano, por sua vez, dá-nos a conhecer os segredos da investigação policial, os falsos autores do atentado que depois de torturados confessaram o que não fizeram e as duas mortes que nunca ninguém explicou.
Curioso, ou talvez não, foi o papel desempenhado pela comunicação social que, como acontece nas ditaduras sejam elas quais forem, foi na sua maioria fiel aliada ou porta-voz do regime, divulgando todas as mentiras que eram sopradas pela PYDE, que obcecada com o Partido Comunista e em mostrar serviço, quarenta e oito dias depois noticiou a prisão de cinco falsos implicados no atentado.
Em São Miguel, a comunicação social foi unânime na condenação do atentado e na divulgação das várias manifestações de apoio ao Doutor António de Oliveira Salazar, embora o tema que mais preenchesse diariamente as páginas dos jornais, sobretudo do Correio dos Açores, fosse a guerra civil espanhola, entre republicanos e partidários de Francisco Franco, general que liderou um governo de orientação fascista de 1936 a 1975.
Com grande destaque na primeira página, no dia 6 de Julho de 1937, o jornal Correio dos Açores, dirigido por José Bruno Carreiro, refere que “a notícia do atentado contra Salazar …- causou em toda esta nossa ilha de S. Miguel, como não podia deixar de ser – as mais profundas e as mais justas indignações” e acrescenta “com verdade se pode dizer que este momento é uma encruzilhada da história em que se encontram frente a frente, embora pareça um paradoxo, Portugueses portugueses e portugueses que o não são. Para os primeiros vive Portugal, para os segundos vive Moscovo.
A 18 de Julho, o Correio dos Açores transcreve a notícia, publicada no Diário da Manhã oito dias antes, que menciona como culpado o “ignóbil facínora” António Conrado Júnior e como cúmplices, “iguais facínoras de igual jaez: Francisco Horta Catarino e José dos Santos Rocha”.
O Açoriano Oriental, dirigido por Ferreira d’Almeida, no dia 10 de Julho de 1937 apresenta na sua primeira página um texto intitulado “Salvé Salazar! Garantia do Império” onde são feitos elogios ao presidente do Conselho de Ministros e são referidas as manifestações de cariz religioso e cívico de condenação do atentado, realizadas em São Miguel.
A 28 de Agosto, o Açoriano Oriental divulga os nomes dos “autores do execrando crime”: Jacinto Carvalho, António Pires da Silva, Aires do Ascensão Eloy, José Hota e Manuel Francisco Pinhal. No mesmo texto são divulgadas declarações dos investigadores, segundo os quais a responsabilidade do crime era atribuído a organizações terroristas estrangeiras, “o partido comunista português era de nulo valor antes da guerra em Espanha” e os seus “chefes”, José de Sousa e Bento Gonçalves que estiveram na Rússia e receberam instruções do Komintern” eram “de baixa categoria”.
Não deixa de ser estranha a insistência das autoridades em atribuir a culpa aos comunistas quando o PCP, através do jornal “Avante”, saído no final do mês de Julho de 1937, já se havia pronunciado “contra o terrorismo individual porque esta tática só serve os interesses da contrarrevolução – do fascismo”.
Estranho, também, não deixa de ser o facto de os verdadeiros responsáveis pelo atentado, opositores ao regime e ao Partido Comunista, entre os quais Emídio Santana, Francisco Damião e Raul Pimenta, só começarem a ser presos nos últimos dias do mês de Setembro de 1937.
Teófilo Braga

(Correio dos Açores, nº2983, 27 de Dezembro de 2013, p.21)

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Gente da nossa terra

Da esquerda para a direita: Emanuel Pacheco, João Pacheco, Vitor Salema
(A Vila, 13 de Julho de 1995)

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

A Furna do Tetim

(A Vila, 13 de Julho de 1995)

Não nos lembramos das pessoas referidas no texto, mas contaram-nos que uma das pessoas que lá trabalhava era o pai do mestre Artur Couto. Também se dizia que a Furna chegava oa Canto da Ponta Garça, o que nos parece exagerado.
TB

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Memória: moleiro José de Sousa

A Vila, 21 de Julho de 1994

Lagoas, Lagoeiros e Charcos de Vila Franca do Campo



Lagoas, Lagoeiros e Charcos de Vila Franca do Campo

Não há consenso  acerca da classificação das diferentes massas de água, nomeadamente lagos, lagoas e charcos. Contudo, podemos dizer, citando a Campanha “Charcos com Vida”, que “os charcos diferenciam-se dos lagos e das lagoas pela sua baixa profundidade, penetração total da luz na água, possibilidade de ocorrência de plantas em toda a sua área e ausência de estratificação da temperatura da água e de formação de ondas”.

O concelho de Vila Franca do Campo é, não temos dúvidas, um dos mais ricos dos Açores no que diz respeito à presença de diferentes massas de água de dimensões diversas, às quais está associada a beleza paisagística e a riqueza em termos de fauna e flora.

A Lagoa do Fogo, implantada na caldeira de colapso do Vulcão do Fogo, é a única cuja área envolvente mantém, apesar de algumas introduções voluntárias ou não, muitos exemplares da flora primitiva dos Açores que a todo o custo devem ser preservados.

A Lagoa do Congro, assim denominada por ter pertencido a André Gonçalves, cognominado de “o congro”, de acordo com Gaspar Frutuoso, “por em seu tempo ser o mais rico homem da terra, como dizem ser o congro, entre os peixes que se comem, o maior peixe do mar”, está implantada numa cratera de explosão que se terá formado há cerca de 3 900 anos.

José do Canto (1820-1898), grande proprietário e intelectual açoriano, amante da jardinagem e distinto botânico amador, mandou plantar nos terrenos circundantes da lagoa matas de criptomérias, pinheiros, eucaliptos e acácias, tendo também ajardinado a parte sul da sua propriedade e construído uma casa de campo, recentemente demolida.

Durante muitos anos os seus proprietários mantiveram os acessos à lagoa em muito boas condições e procediam à manutenção de toda a área, nomeadamente da antiga mata ajardinada. Mais recentemente a área foi sendo progressivamente abandonada, tendo-se degradado quase por completo.

Depois de sete anos de espera, a proposta de classificação das Lagoas do Congro e dos Nenúfares por parte da Associação Ecológica Amigos dos Açores como área protegida foi aprovada. Assim, em 2007, a cratera do Congro foi classificada como Área Protegida para a gestão de habitats ou espécies (Decreto Legislativo nº15/06/2007) e no ano seguinte parte da bacia hidrográfica foi adquirida pelo Governo Regional dos Açores.

A Lagoa dos Nenúfares, também denominada Lagoa do Conde Botelho, localiza-se na mesma cratera da Lagoa do Congro e encontra-se neste momento bastante assoreada e as suas margens estão cobertas por plantas exóticas. Toda a área envolvente merecia ser alvo de trabalhos de recuperação, nomeadamente o trilho que a bordeja e o caminho de acesso.

Localizada numa cratera de explosão existente no Pico da Dona Guiomar, a Lagoa do Areeiro é de uma beleza paisagística invulgar. No lado sudoeste do pico existe um mato jovem de vegetação endémica que merecia a todo o custo ser conservado.

A Lagoinha, situada na cratera de explosão do Pico da Lagoa, localiza-se a norte da Lagoa do Congro. Como curiosidade regista-se a presença nas suas águas do peixe mosquito. Neste momento, é muito difícil o acesso à mesma já que toda a área envolvente foi replantada recentemente e encontra-se completamente coberta por vegetação, nomeadamente silvas.

Para além destas, há a registar outras massas de água mais pequenas como os lagoeiros do Pico do Frescão, do Pico d’El Rei e dos Espraiados, bem como alguns charcos que antes foram usados para bebedouros do gado bovino.

Para além do valor científico e educativo, do valor estético e paisagístico, as massas de água constituem um poderoso recurso turístico que não está a ser suficientemente explorado no concelho de Vila Franca do Campo.

 Há que por mãos à obra!
Teófilo Braga

(Correio dos Açores, nº 2963, 4 Dez de 2013, p.11)