sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Os Reis Magos na Ribeira Seca de Vila Franca do Campo




A religiosidade dos habitantes da Ribeira Seca sempre fez com que estivessem na linha da frente em todas as iniciativas relacionadas com a comemoração de datas festivas ligadas à igreja católica. Assim, ao contrário do que se passa hoje, eram muitas as atividades realizadas, de que destaco a sinalização do Dia de Santo Antão com arraial e fogueira, a participação na procissão de São Miguel, com as imagens de Santo Antão, de Santa Catarina e de Nossa Senhora do Egito, e as festas em honra do Divino Espirito Santo, que, já em 1923, de acordo com Armando Cortes Rodrigues, para além de se estarem a paganizar, estavam associadas a “um culto supersticioso e incoerente”.
Há mais de vinte anos, recolhi um conjunto de documentos e informações sobre a Ribeira Seca de Vila Franca do Campo com o objetivo de elaborar uma monografia sobre a minha terra natal, o que até hoje não concretizei nem sei um dia terei disponibilidade para o fazer.
De entre a informação recolhida através da consulta de vários jornais de Vila Franca, como “A Vila” e o “ O Autonómico” e junto dos seus habitantes, a maioria já falecida e os mais novos emigrados, consegui salvar presumo que todos os versos relativos à “Embaixada dos Reis Magos” cuja tradição, até prova em contrário, terá começado, no concelho, na Ribeira Seca, pela mão de trabalhadores rurais com poucas habilitações literárias e fracos recursos económicos.
Embora não haja a certeza acerca da autoria dos versos que eram declamados pelos figurantes, tudo leva a crer que sejam da autoria do improvisador e cantador ao desafio local, João Jacinto Januário. Com efeito, para além de um dos participantes se lembrar de ouvir o Sr. João Januário declamar algumas partes do texto ao senhor prior José Luís de Fraga, eram da sua autoria a maioria dos versos que eram usados nas várias festividades da localidade, como nas folias do Espírito Santo.
Foi graças ao cuidado em guardar algumas folhas soltas com a maioria do texto por parte do senhor José da Costa Bolarinho, antigo barbeiro da localidade, à memória do senhor Manuel de Andrade, que recitou algumas partes que estavam em falta, que foi possível que o mesmo chegasse aos nossos dias.
Também, não posso garantir em que data terá começado o cortejo dos Reis Magos na Ribeira Seca, mas nas pesquisas então efetuadas a primeira notícia encontrada foi publicada no jornal “O Autonómico” de 9 de Janeiro de 1937, sendo o seu conteúdo o seguinte: “Um grupo de pessoas da Ribeira Seca, representando os Magos com suas comitivas, veio trazer à Matriz desta Vila várias ofertas. Tanto no Largo Bento de Goes, onde deitou fala uma das figuras representativas, como em volta da Matriz, reuniu-se uma enorme multidão.”
Através da consulta do jornal mencionado acima, também, é possível concluir-se que o Dia de Reis era celebrado antes de ter saído o primeiro cortejo. Assim, em 1928, noticia “O Autonómico”: no dia de reis saiu a 2ª festa da Migalha, a favor da conclusão das obras da Matriz. Na Ribeira Seca e Hortas foi acompanhada pela “Lyra Camponeza”. Esta filarmónica foi mais um “milagre” surgido na Ribeira Seca, tendo estado ativa de 1915 a 1928.
De acordo com as informações orais, colhidas na Ribeira Seca, os principais integrantes nos primeiros cortejos, no final da década de trinta do século passado, foram os senhores João Jacinto Januário, Virgínio Branco, Manuel Caetano Ventura (Manuel Libório), José Nicolau, José de Andrade, João de Andrade e António Couto.

Depois de um interregno, o cortejo ter-se-á realizado pelo menos em 1958, 1960, 1961 e 1973. Neste último ano, entre outros, foram figurantes os senhores Manuel da Costa Esteves, António Jardim, António Andrade, José Fernando Andrade, Artur Bolota e José Agostinho Ventura.

Em 1998, depois de um quarto de século esquecida, a tradição foi retomada pelas mãos da juventude local organizada na associação “Jovens Unidos da Ribeira Seca” que depois “esqueceu-se” de dar continuidade alegadamente por razões “partidárias”.

Este ano foi com alguma tristeza que verifiquei que o já tradicional presépio que costumava estar na Escola da Ribeira Seca não foi feito, pelo que faço votos para que sejam ultrapassadas todas as divergências de modo a que não seja esquecida a tradição dos Reis Magos.

As boas tradições devem ser mantidas a todo o custo!

Teófilo Braga

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Caiotas da Ribeira Seca





“O chuchu (Sechium edule) é uma hortaliça-fruto, ou seja, um vegetal da categoria dos frutos; também é conhecido como machucho, caiota (Açores) ou pimpinela (ilha da Madeira). Existe em abundância na ilha da Madeira, principalmente junto aos cursos de água (ribeiras e nascentes). Em países latinos é conhecido como Chayote, enquanto em países de língua inglesa é conhecido por christophene, vegetable pear, mirliton, choko, starprecianté, citrayota, chow chow (India) or pear squash.

Apesar de ser uma hortaliça, ou seja, poder ser cultivada na horta caseira, é considerada um fruto, tal como o tomate (devido ao fato de suas sementes estarem dentro, resultado da fecundação do óvulo da flor, envolvidas pela parte comestível ...”

Ler mais aqui: http://pt.wikipedia.org/wiki/Chuchu

Pode ler uma receita de um pudim da caiota aqui: http://pratacasas.blogspot.pt/2012/12/pudim-de-caiota.html

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

O REGRESSO DOS BURROS

De vez em quando, minha tia que tem mais de 80 anos pergunta-me se me recordo de meu avô, Manuel Soares, que morava na rua do Jogo, na Ribeira Seca de Vila Franca do Campo, ter uma burra. Minha tia esquece-se de que, sendo ela ainda jovem, na sequência de uma doença que atingiu vários membros da família, por conselho médico meu avô foi aconselhado a retirar a burra que pernoitava no rés-do-chão da sua casa. À semelhança de meu avô outras pessoas na localidade também usaram burros para transporte de cargas, nomeadamente canados de leite, lenha ou sacas de milho para os moinhos. Se bem me lembro, lá na rua possuíam burros o senhor Ernesto que possuía meia dúzia de cabeças de gado e que para reforçar o seu orçamento familiar também se dedicava ao comércio de alguns produtos agrícolas, tendo ficado com a alcunha de “Ernesto das mónicas” por as (nêsperas) ter vendido e o senhor José Cabral que foi o último moleiro da Ribeira Seca, cuja moagem elétrica foi musealizada. Para além das pessoas já mencionadas, também me recordo de terem possuído burros, na Ribeira Seca, três outros moleiros: José Estevão, Manuel Verdadeiro e Ângelo Verdadeiro. O senhor José Estevão, que foi último moleiro que usou um moinho movido pela água da ribeira que atravessa a localidade e que, segundo o senhor Manuel Soares Ferreira, chegou a alimentar 21 moinhos, desde a nascente, na Granja, até à foz onde se localiza o moinho da “tia” Leopoldina, era um grande conhecedor da história de Portugal, tal como foi transmitida pelo Estado Novo. O meu tio Manuel, irmão de minha avó Maria Verdadeiro, primeiro teve um moinho de água, localizado nos Moinhos, hoje em ruínas, e depois um já movido a eletricidade, localizado na rua Nova, também possuía uma burra que depois foi herdada, tal como o moinho, pelo seu filho Ângelo que morou na rua da Cruz. Este meu primo Ângelo que foi casado com uma prima minha afastada, Isaura Braga, era o que se pode chamar um doente pelo futebol, mais propriamente pelo Sport Lisboa e Benfica. Assim, sobretudo às segundas-feiras, sempre que o “glorioso” ganhava os jogos no dia anterior, quando o Ângelo ia buscar mais milho para moer, para além de muitos vivas ao Benfica que ia distribuindo pelas ruas, apresentava a burra bem aperaltada e com as unhas pintadas de vermelho. Com o passar do tempo, os burros deram lugar aos cavalos de modo a que na minha rua, a Rua do Jogo, depois de tirado o leite da manhã, em frente de muitas casas, amarrados a uma argola que então existia ou completamente livres encontravam-se vários cavalos que transportavam o leite para os três postos de recolha, um da Lacto Açoriana, outro da Laticínios Loreto e outo da Unileite, situados no centro da Ribeira Seca. Com o progresso, desapareceram os cavalos que foram substituídos pelas carrinhas de tração às quatro rodas, pelos jipes e pelos tratores e ao mesmo tempo foram desaparecendo os pequenos lavradores que não tiveram capacidade para modernizar-se e que ou emigraram ou foram forçados a abandonar atividade, pois não tinham terras suficientes para aumentar o número de cabeças de gado para incrementar a produção de leite, a única maneira de aumentar os rendimentos face à desvalorização daquele e ao aumento dos custos de produção. Há alguns dias estive a conversar com um familiar de uma das pessoas mencionadas neste texto e qual não foi o meu espanto quando fiquei a saber que, hoje, para algumas famílias a situação é muito semelhante à vivida no final da década de 60 e no início da década de 70 do século passado. Desempregado da construção civil, vai sobrevivendo de alguma ajuda governamental e do leite de duas vacas que usa para fazer queijos ou para beber. Para tratar dos animais desloca-se a pé. A pobreza, embora modernizada, voltou. Para quando o regresso dos burros? Teófilo Braga (Correio dos Açores, nº 27307, 19 de Dezembro de 2012)

sábado, 15 de dezembro de 2012

Fernando Branco Amaral

Faleceu recentemente Fernando Amaral cujos pais, se não estamos em erro, são naturais da Ribeira Seca.