terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Canil de Vila Franca



Sobre o “canil” de Vila Franca do Campo


“O grau de civilização de uma sociedade pode ser medido pela forma como trata os seus animais” (Ghandi)

Se é verdade que não adianta chorar sobre o leite derramado, não é menos certo que devemos tirar lições dos erros cometidos, no passado, e isto só pode acontecer se os conhecermos e sem preconceitos refletirmos sobre os mesmos, sem qualquer necessidade de cruxificarmos os envolvidos.

Vem esta introdução a propósito da situação desumana e terceiro-mundista existente, até há pouco tempo, em Vila Franca do Campo, relativamente aos animais de companhia, mais concretamente aos cães.

Como era do conhecimento geral, em Vila Franca do Campo existia um espaço, sem quaisquer condições, que para os responsáveis não era um canil mas que na realidade funcionava como canil de abate.

Uma pessoa que conhecia bem o local, pois visitava-o com muita frequência para salvar animais, denunciou o facilitismo com que eram recebidos os animais sem qualquer penalização para os donos e a situação degradante em que esperavam a morte certa que se traduzia na sua colocação em cubículos minúsculos, por vezes mais do que um e o facto de viverem durante muito tempo sobre as próprias fezes.

Em 2011, o deputado da Assembleia da República do CDS-PP, João Rebelo, questionou as 308 Câmaras Municipais existentes em Portugal, perguntadno se as mesmas possuíam canis, qual a lotação das instalações, quanto tempo é que os animais ficavam nos canis, qual a percentagem de animais que acabavam por ser adotados, quantos regressavam aos seus donos, etc.

Tivemos acesso às respostas de várias autarquias, umas mais pormenorizadas, demonstrando transparência e preocupação com a situação que tinha tendência a agravar-se, pois os abandonos estavam a crescer ano após ano e outras nem tanto, procurando tapar o sol com uma peneira.

No caso de Vila Franca do Campo, a resposta da autarquia, datada de 12 de agosto de 2011, assinada pelo seu presidente, foi bastante elucidativa do modo como as questões do bem-estar animal eram tidas em consideração na altura.

Para memória futura, transcreve-se na íntegra o texto enviado, ao deputado João Rebelo, pela Câmara Municipal de Vila Franca do Campo:

“Em resposta ao vosso ofício, tenho a honra de comunicar a Vexas que este Município nunca teve nenhum gatil ou canil”.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30819, 29 de dezembro de 2015, p.13)

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

O Padre Ernesto Ferreira e os animais


O Padre Ernesto Ferreira e os animais

O Padre Manuel Ernesto Ferreira nasceu, em Vila Franca do Campo, a 28 de março de 1880 e faleceu na mesma localidade a 4 de janeiro de 1943.

Para além das atividades a que estava obrigado como sacerdote, primeiro nas Furnas e depois em Vila Franca do Campo, toda a sua vida foi dedicada ao jornalismo, ao ensino e ao estudo.

De acordo com o tenente-coronel José Agostinho, o seu campo de estudo foi “principalmente, a Ilha de S. Miguel, onde a natureza é pródiga em manifestações que prendem os sábios, e a vida assume aspetos que empolgam e fascinam - tanto a vida animal e vegetal, como a vida, muito mais interessante, dos seres humanos. A geologia, a botânica, a zoologia, mereciam por igual a sua atenção, a par da etnografia e da geografia humana.”

O seu trabalho foi elogiado por diversas personalidades, tendo a vila-franquense Dra. Lúcia Costa Melo escrito o seguinte: “A sua valiosíssima obra científica é um marco que nenhum investigador pode ignorar.”

De entre o muito que escreveu, destaco dois textos: “A viagem nupcial dos “eirós” dos Açores” que foi publicado no primeiro número da revista “Açoreana”, em 1934, e “The Gender Puffinus in the Azorean Islands”, em 1938, impresso em Vila Franca do Campo na tipografia do jornal “O Autonómico”. Dado o interesse do trabalho, uma tradução do mesmo foi publicada, em 1996, pela associação Amigos dos Açores, com uma nota explicativa da autoria do coronel António José Mello Machado

No seu livro “A Alma do Povo Micaelense”, reeditado em 1993, pela “Editorial Ilha Nova”, da Câmara Municipal de Vila Franca do Campo, os leitores poderão encontrar um interessante texto intitulado “Os animais na tradição”, onde o autor depois de chamar a atenção para a importância dos animais, apresenta algumas “graciosas lendas ou estultas crendices que apesar de absurdas, têm muito valor para a determinação das origens étnicas do povo.”

Para aguçar o apetite, terminamos o texto apresentando algumas relacionadas com as aves, as quais segundo o Padre Ernesto Ferreira “quebram a monotonia dos ares com curvas airosas de seus voos e a solidão das serras com a música dos seus gorjeios.”

Aqui vão elas:
- Galinha a espiolhar-se é sinal de chuva;
- O pio da coruja e o da cagarra, por cima de uma casa, prognostica morte próxima;
- O papinho (sant’antoninho) quando poisa perto de uma pessoa é sinal de boas notícias para esta.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30814, 22 de dezembro de 2015, p.14)

Récita da Lira Camponesa


Correio dos Açores, 21 de abril de 1921

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Notas sobre ouriços-cacheiros


Notas sobre ouriços-cacheiros

Em 1949, o tenente-coronel José Agostinho escreveu que os Açores “não receberam do Criador o castigo de quaisquer espécies de animais nocivas” e quando começaram a ser povoados não existiam animais prejudiciais ao homem.

Com o decorrer dos tempos voluntária ou involuntariamente, com consciência do ato ou “por falta de cuidados e precauções, muitas espécies tanto animais como vegetais têm sido introduzidas. Se algumas têm sido prejudiciais a quem cá vivia, na altura José Agostinho deu o exemplo dos ratos e da mosca inglesa, outras não têm causado qualquer dano ou poderão ser consideradas úteis, como será o caso do ouriço-cacheiro.

Sobre a sua introdução nos Açores temos poucas informações disponíveis. Com efeito apenas conhecemos dois textos em que o assunto é abordado, um publicado no jornal Correio dos Açores e outro no jornal “A União”.

Segundo o jornal Correio dos Açores de 21 de Julho de 1939, a introdução do ouriço-cacheiro na ilha de São Miguel foi voluntária, mas a sua disseminação pela ilha é que não, pois apesar de “inofensivos e tímidos, pouco dados a afoutezas românticas” aquela só aconteceu depois de “meia dúzia” deles se terem escapado “do Relvão há cerca de 15 anos”, portanto por volta de 1914.

Sobre a introdução na ilha Terceira, num texto publicado a 29 de outubro de 1975, o engenheiro Fernando Cordeniz Fagundes escreveu: “o ouriço-cacheiro foi introduzido nesta ilha de longa data e fixado, sobretudo nas zonas de Pico da Urze, S. Carlos, Terra Chã e Bicas”.

Injustamente considerados nocivos para o homem, entre nós, os ouriços-cacheiros foram desde sempre perseguidos e mortos, a golpe de foice ou de sacho, à paulada ou atropelados pelos veículos motorizados. Sobre isto, Fernando Fagundes escreveu: “Pelo que nos foi dado concluir, abeiramo-nos de uma insensatez, considerada involuntária por desconhecimento, dos condutores de veículos automóveis que, por os julgarem animais nocivos, propositadamente tentam e quase sempre conseguem, a sua destruição.

A importância do ouriço-cacheiro na agricultura é enorme, embora seja menosprezada pois está ativo de noite, não sendo portanto observada. De acordo com o livro “As Bases da Agricultura Biológica- Tomo I- Produção Vegetal”, editado em 2012 pela EdiBio, Edições, Lda, o ouriço-cacheiro come grande variedade de insetos, grande quantidade de moluscos e também se alimenta de ratos.

Alice Moderno (1867-1946) também se interessou pela situação dos ouriços-cacheiros e para evitar que os mesmos fossem mortos, em 1940, publicou um anúncio no Correio dos Açores, onde manifestou o interesse em os comprar, tendo aparecido pouco depois um indivíduo com dois que ela comprou e soltou no seu jardim.


Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30808, 15 de dezembro de 2015, p.14)

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

SOS eucalipto-limão de Vila Franca


A 18 de junho de 2014, num texto intitulado Jardins de Vila Franca do Campo, chamei a atenção para o estado de alguma degradação em que se encontravam os jardins Antero de Quental e Dr. António da Silva Cabral, que se traduzia, sobretudo, na existência de placas identificativas sem planta associada, a presença de plantas sem os azulejos com a identificação, a plantação de espécies em locais inapropriados e sinais de algumas podas mal executadas.

Hoje, apenas irei fazer referência ao Jardim Dr. António da Silva Cabral, localizado em frente à Igreja dos Frades que deve o seu nome ao presidente da Câmara Municipal de Vila Franca do Campo que “revolucionou” o concelho, tendo sido ele o responsável por muitos melhoramentos, com destaque para o traçado da entrada poente da Vila, com a Avenida da Liberdade e o Jardim, o mercado de peixe, o cemitério e a primeira instalação da luz elétrica pública nos Açores.

Das várias espécies presentes nesse jardim, distingue-se pelo seu porte monumental o eucalipto-limão (Corymbia citriodora) que infelizmente se encontra doente, precisando de ser devidamente tratado para que a incúria humana não seja responsável pelo seu desaparecimento prematuro.

Originário de regiões de clima temperado e subtropical do nordeste da Austrália, o eucalipto-limão encontra-se hoje espalhado pelas mais diversas regiões do mundo, estando presente em África, no Brasil, na China, na Índia, nos Estados Unidos e em Portugal, onde a sua presença é residual e quase circunscrita a jardins.

Não sabemos quem terá fornecido o eucalipto-limão à Câmara Municipal de Vila Franca do Campo, nem temos dados suficientes para apontar o nome de José do Canto como o introdutor da espécie na ilha de São Miguel. Contudo, sabe-se que José do Canto plantou-o no seu jardim, em Ponta Delgada, em 1867, vindo de França.
O eucalipto-limão adaptou-se bem, em São Miguel, de modo que em 1868 já fazia parte de uma listagem de plantas existentes no Jardim José do Canto para doação ou permuta. Esta questão suscita-nos uma interrogação: por que razão hoje o eucalipto-limão quase desapareceu em São Miguel?

O eucalipto-limão também conhecido por eucalipto-cheiroso é uma árvore de médio a grande porte, podendo atingir, atendendo às condições dos solos e climas, 50 metros de altura e 1,2 m de diâmetro à altura do peito, apresentando uma folhagem rala, com folhas estreitas e com um forte aroma a limão, daí uma das suas designações comuns.

A sua madeira, dura mas fácil de trabalhar, é muito utilizada na construção civil, no fabrico de móveis, na arborização de caminhos e estradas em áreas rurais, como combustível e no fabrico de carvão. As suas flores são melíferas e o óleo essencial dele extraído tem muito interesse em virtude de possuir um teor elevado em citronedal que é utilizado, tanto em perfumaria como repelente de insetos.

Para além do tratamento adequado que merece o eucalipto-limão, consideramos que à semelhança de outros exemplares existentes na Região Autónoma dos Açores, é urgente a sua classificação em virtude do seu porte e raridade e por constituir um monumento vivo que enriquece o património natural e paisagístico de Vila Franca do Campo.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30804, 10 de dezembro de 2015, p.15)

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Os animais também sentem


Os animais também sentem

Numa parceria entre duas direções regionais, a da Educação e a da Agricultura, em boa hora foi lançado o concurso escolar “Os animais também sentem” que se vai desenvolver no âmbito do Plano Regional de Leitura e da Campanha contra o abandono dos animais.

Destinado a alunos do 4º ano do ensino básico dos Açores, o concurso tem, entre outros, os seguintes objetivos:
- Sensibilizar os alunos para a defesa dos direitos dos animais e o combate ao abandono e a todas as formas de maus-tratos;
- Promover competências de literacia de leitura e de escrita;
- Fomentar o desenvolvimento de uma cidadania regional e local;
- Sensibilizar para a importância do tratamento digno devido aos animais;
- Divulgar e partilhar com a comunidade educativa os recursos educativos desenvolvidos nas várias escolas.

Embora esteja subentendida a abertura a “todas as formas de maus tratos”, os temas do concurso estão dirigidos para os animais de companhia, nomeadamente para as questões do abandono e das adoções responsáveis, como se pode concluir do seguinte texto do regulamento:

“… Adotar um animal implica estabelecer uma relação duradoira de cumplicidade e satisfação das necessidades do animal. Os cuidados que um bicho requer - alimentação adequada, consultas ao veterinário, passeios e carinho -, significam tempo, dedicação e investimento financeiro. Muitas vezes as pessoas cativam-se com a graciosidade dos filhotes e não se dão conta de que eles crescerão, tornando-se, para alguns, menos atrativos e até um fardo.

Do mesmo modo, e no momento da adoção, as pessoas ignoram o tempo de vida do animal - cerca de 12 anos para cães e 20 anos para gatos. Com o passar do tempo, e o avolumar dos problemas, a tentação de abandonar o animal à sua sorte aumenta. Os trabalhos devem, portanto, promover pelo menos uma destas questões: a adoção responsável, o combate ao abandono dos animais e /ou a todas as formas de maus tratos.

Infelizmente, a oportunidade poderia ter sido aproveitada para uma campanha que abrangesse um leque mais alargado de situações de que são vítimas outros animais e não apenas os de companhia. Assim, seria de todo o interesse chamar a atenção para o sofrimento de alguns animais ditos de produção, como bovinos que vivem parte do ano na lama, em algumas explorações pecuárias, os cavalos famintos e maltratados, os bovinos que são torturados nas diversas modalidades tauromáquicas, com destaque para as ferras desnecessárias, as cruéis tentas e as touradas de praça, que alguns insistem em chamar tauromaquia artística, os animais selvagens enjaulados em parques zoológicos, etc.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30803, 8 de dezembro de 2015, p. 14)

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Sobre golfinhos


A propósito de golfinhos

No passado mês de Outubro, a comunicação social deu a conhecer que o pioneiro na observação de cetáceos nos Açores, Serge Viallelle, havia decidido que a sua empresa sediada no Pico iria acabar com a prática da natação dos seus clientes com os golfinhos.

Na ocasião, Serge Viallelle denunciou que diversas empresas de observação de cetáceos não cumprem a legislação em vigor e que as autoridades que tutelam a atividade não fazem qualquer fiscalização no mar.

A louvável decisão de Serge Viallelle, que terá sido bem acolhida por alguns dos seus clientes estrangeiros, surge numa altura em que algumas organizações internacionais, como a Fundação FAADA criou uma campanha que tem como objetivos, entre outros, expor as problemáticas relacionadas com o uso de animais no setor turístico e que pretende oferecer alternativas éticas para turistas e profissionais do sector que queiram melhor conhecer os animais de forma responsável.

Longe vão os tempos em que alguns deputados regionais, sempre a tentar impedir o progresso civilizacional, não mexiam uma palha para acabar com a caça de que eram alvo os golfinhos, quando não arranjavam argumentos para que aquela se perpetuasse.

Dos grupos que se reclamavam da defesa do ambiente, lembro-me de terem levantado a sua voz pelo fim da caça o grupo “Luta Ecológica”, da ilha Terceira, o Grupo de Ecologistas de Santa Maria, o Núcleo Português de Estudos e Proteção da Vida Selvagem- Delegação dos Açores, sediado em Vila Franca do Campo e os Amigos da Terra (hoje Amigos dos Açores).

No caso dos Amigos dos Açores, recordo-me da edição de um desdobrável com informação sobre golfinhos e de uma brochura destinada às crianças, com textos da doutora Leonor Galhardo, com várias edições, que no total terão atingido mais de dez mil exemplares.

Fora do fraquíssimo movimento de proteção do ambiente, poucas, muito poucas, pessoas tiveram a coragem de dar a cara pelo fim do abate injustificado de golfinhos para a alimentação humana. De entre estas vozes que defenderam a evolução, recordo-me a do Dr. Luís Miguel R. Martins que escreveu um texto intitulado “Baleias e golfinhos, morte certa?”, publicado no jornal “A Ilha”, no dia 25 de junho de 1984.

No seu artigo, que também abordava a caça ao cachalote, o Dr. Luís Rodrigues a dado passo escreveu: “acho ser demasiado perigoso isto sob uma perspectiva política, pôr-se os problemas referentes ao património natural da região numa concepção económica, pois não é autorizando o massacre de alguns golfinhos que se vai pensar em solucionar os problemas económicos e sociais dos pescadores”.

Infelizmente a lógica dos decisores políticos de hoje continua a ser a mesma, isto é, tudo o que não se traduza em euros de nada vale.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30798, 1 de dezembro de 2015, p.16)

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Rómulo de Carvalho, a Cultura Científica e a Poesia



Rómulo de Carvalho, a Cultura Científica e a Poesia

Ontem, 24 de novembro, passou quase despercebido, entre nós, a comemoração do Dia Nacional da Cultura Científica, instituído para celebrar o nascimento de Rómulo de Carvalho (24 de novembro de 1906-19 de fevereiro de 1977) e homenagear o seu trabalho ímpar na divulgação científica e no ensino da ciência, mais concretamente da Física e da Química.

Por ocasião do seu nonagésimo aniversário Rómulo de Carvalho/António Gedeão foi homenageado a nível nacional, tendo recebido do presidente da república, Jorge Sampaio, a Grã Cruz da Ordem Militar de Santiago e Espada e visto ser atribuído o seu nome ao laboratório de Física do Liceu Pedro Nunes, escola onde fez o seu estágio, foi professor durante 14 anos e depois professor metodólogo do grupo de Físico-Químicas.

Na ocasião e por sugestão da minha colega Maria Leonor Bastos Rego Costa, o grupo disciplinar de Física e Química da Escola Secundária das Laranjeiras enviou um cartão de aniversário, tendo Rómulo de Carvalho acusado a receção nos seguintes termos: “agradece, muito reconhecido, os parabéns que o Grupo de Físico-Químicas da Escola Secundária das Laranjeiras, em Ponta Delgada, teve a amabilidade de lhe enviar”.

Com a sua morte, em 19 de fevereiro de 1997, Rómulo de Carvalho não caiu no esquecimento, pois as suas obras, tanto na área das ciências como na da literatura, continuam a despertar a curiosidade de muitos leitores e sobre ela têm sido publicados vários trabalhos. Mas, tal como escreveu A. Nunes dos Santos, a maior homenagem que se pode fazer é: “ler e reler a sua obra, é sentir o uso, a força e a excelência da sua linguagem, as imagens claras, a alacridade às novas ideias que converterão, sem dúvida, os leitores a apaixonarem-se pela ciência.”

Para quem quiser conhecer melhor a sua biografia recomenda-se a leitura das suas “Memórias”, livro que foi editado pela Fundação Calouste Gulbenkian e cujo título completo é: “Memórias que para instrução e divertimento de seus tetranetos escreveu certa pobre criatura que, entre milhares de milhões de outras, vagueou por este mundo na última centúria do seguindo milénio da era de Nosso Senhor Jesus Cristo”.

Neste livro, Rómulo de Carvalho, com muito humor, faz uma descrição do que foi a sua longa vida de 91 anos. De entre os vários episódios que ele relata recordo-me da ironia com que escreveu sobre o PREC, tendo ao mesmo dedicado alguns exercícios/problemas de cinemática “revolucionária”.

No final do livro e da vida, Rómulo de Carvalho, alvo de uma doença que o martirizou, escreveu: “O mundo é repugnante e a vida não tem sentido. É uma luta permanente e feroz em que cada um busca a satisfação dos seus interesses exatamente como outros quaisquer seres vivos, animais ou plantas, que se espreitam e atacam”.

Sobre a relação morte/vida, também escreveu. “A vida nunca me seduziu. Entre o viver e o morrer sempre preferi morrer. Se não tivesse nascido, ninguém daria pela minha falta. Reconheço que estou a ser indelicado com todos aqueles que gostam de mim, mas peço-lhes que me desculpem. É preciso ter vocação para viver…”

Discordamos destas últimas palavras de Rómulo de Carvalho/António Gedeão, já que a sua vida e obra foi riquíssima e sem o seu contributo o nosso país seria mais pobre. Sem ele não existia o magnifico poema que abaixo transcrevo:
Lágrima de preta

Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

Nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.

Teófilo Braga


(Correio dos Açores, 30793 de 25 de novembro de 1975 p.14)

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Divergências


Divergências na SMPA sobre a função de uma associação protetora de animais

A nota de hoje surge dada a necessidade de esclarecer que as associações protetoras dos animais agrupam pessoas com opiniões muito diversas sobre a vida em sociedade e mesmo sobre a proteção animal pelo que no seio delas a diversidade deve ser respeitada e ninguém deve submeter-se a qualquer pensamento único. Além disso, as associações não podem transformar-se em seitas, seguindo putativos “mestres”, devendo, pelo contrário, funcionar com o máximo de democraticidade interna, o que no mínimo exige a realização de assembleias gerais ordinárias anuais e extraordinárias sempre que a vida interna assim o exija.

Para além da democraticidade interna que implica a prestação de contas a todos os que de uma maneira ou outra contribuem para a manutenção das associações, não vejo qualquer problema no surgimento de mais associações ou grupos de afinidade já que assim será mais rico e diversificado o contributo para o combate para uma sociedade mais humana.

A questão sobre o que deve fazer uma associação e as divergentes respostas à mesma, não é de agora, tendo também surgido na SMPA-Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, onde apareceram duas opiniões diferentes, mas não incompatíveis, a de Alice Moderno e a do Marquês de Jácome Correia.

O senhor Marquês de Jácome Correia, tanto em alguns textos publicados no Correio dos Açores como numa reunião da direção da SMPA, defendeu que a proteção dos animais devia incidir na divulgação de práticas de preceitos higiénicos e sanitários, auxiliando assim as autoridades sanitárias locais.

Alice Moderno discordou, tendo afirmado que, embora não desmerecendo a iniciativa do Sr. Marquês de Jácome Correia, cujas qualidades ela por diversas vezes já tinha elogiado, a orientação da sociedade não poderia ser alterada sem que houvesse primeiro uma alteração dos seus estatutos.

E qual era, para Alice Moderno, a orientação da SMPA?

“Estabelecer um Posto Veterinário, para início do qual se encontram depositados 2000$00 escudos na Caixa Económica da Associação de Socorros Mútuos de Ponta Delgada, evitar que os animais domésticos sejam martirizados, desenvolver no público o sentimento da piedade para com os seres que não podem apelar para as leis que os protegem, porque não sabem falar nem escrever, deve, ser segundo o meu critério e de vários membros da Sociedade com quem tenho trocado impressões o fim da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, como é, aliás, a finalidade de todas as associações congéneres.

Apesar de ter sido escrito em 1937, continua atual.


Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30792, 24 de novembro de 2015, p.14)

quinta-feira, 19 de novembro de 2015



Assine aqui: http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=tcordanaoepatrimonio


Em Defesa das Crianças, do Bem-estar Animal e dos Açores - Tourada à Corda não é Património Cultural Imaterial

Para: UNESCO, Comité dos Direitos da Criança da ONU, Parlamento Europeu, Governo dos Açores, Governo de Portugal.

Está em curso, na ilha Terceira (Açores), uma tentativa de candidatura da tourada à corda a Património Cultural Imaterial da UNESCO.

Nós, pessoas individuais e coletivas, abaixo assinadas, entendemos que a tourada à corda não pode nem é digna de figurar como Património Cultural Imaterial pelas seguintes razões:

1- É uma tradição associada à crueldade contra animais que ao contrário do que é afirmado pelos promotores, frequentemente, se traduz em ferimentos e mesmo na morte dos mesmos. Assim sendo, é contrária a vários documentos internacionais que condenam os maus tratos aos animais e colide frontalmente com os princípios definidos na Declaração Universal dos Direitos dos Animais;

2- É uma prática que anualmente é responsável pela morte de alguns participantes humanos e de uma média de cerca de trezentos feridos, alguns com bastante gravidade;

3- A presença de crianças e adolescentes como participantes ou simples assistentes nas touradas à corda contraria a recomendação, de 2014, do Comité dos Direitos da Criança da ONU, que pede para afastar as crianças da tauromaquia e que, entre outras medidas, recomenda também a promoção de campanhas de informação sobre “a violência física e mental associada à tauromaquia e ao seu impacto nas crianças”;

4- É uma atividade não consensual na sociedade açoriana, e em todo o mundo, onde parte significativa da população açoriana não só não se identifica como repudia as diversas modalidades tauromáquicas, não sendo por isso “um elemento vivificador da identidade cultural comum”.

Face ao exposto, solicitamos a intervenção das várias entidades a quem é destinada esta petição de modo a ser rejeitada qualquer proposta de candidatura sobre este assunto, bem como que desenvolvam todos os esforços no sentidos de proteger as crianças açorianas e não permitir que uma prática violenta, bárbara e anacrónica seja classificada como Património Cultural Imaterial.


Proponentes

Regionais:
CAES - Coletivo Açoriano de Ecologia Social
GCAT - Grupo Central Anti-Tourada
MATP-DA - Movimento Abolicionista da Tauromaquia de Portugal - Delegação dos Açores
MCATA - Movimento Cívico Abolicionista da Tauromaquia dos Açores

Nacionais:
ABRIGO - Associação de Proteção à Fauna e à Flora (Vale do Paraíso-Azambuja)
ADAPO - Associação de Defesa dos Animais e Plantas de Olhão
AEZA - Associação Ecologista e Zoófila de Aljezur
AGIR pelos Animais
Alaar - Associação Limiana dos Amigos dos Animais de Rua
AMIAMA - Amadora
ANIMAL
Animais de Rua
Associação AGIR pelos Animais
Associacao dos Amigos dos Animais Abandonados de Loulé
Associação Cantinho dos Animais Évora
Associação Gato de Rua
Associação Patas Errantes
Campanha Esterilização Cães e Gatos
Cedar Center for Animals
Évora Anti Tourada
Mafranimal - Associação de Ajuda Animal
MAT - Marinhenses Anti Touradas
MATP - Movimento Abolicionista da Tauromaquia de Portugal
MIAR Évora (Movimento para a Integração de Animais de Rua)
MIAT - Movimento Internacional Anti-Touradas
Quebra do Silêncio (Blogue)
Senhores Bichinhos

Internacionais:
AnimaNaturalis - Ecuador
ARCA BRASIL - Associação Humanitária de Proteção e Bem-Estar Animal
ARCA - Fundacion Protetora de Animales – Equador
Asociación Potosina por la dignidad animal A.C. (APDA) - México
CAS International (Comité Anti Stierenvechten) - Holanda
Crac Europe
Perú Antitaurino
Plataforma La Tortura no Es Cultura - Espanha


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ESPAÑOL

En Defensa de la Infancia, del Bien Estar Animal y de las Islas Azores – Toros Ensogados no son Patrimonio Cultural Inmaterial

Está en curso, en la isla Terceira (Azores), un intento de candidatura de los toros ensogados a Patrimonio Cultural Inmaterial de la UNESCO.

Nosotros, personas individuales y colectivos, abajo firmantes, entendemos que los toros ensogados no pueden ni son dignos de figurar como Patrimonio Cultural Inmaterial por las siguientes razones:

1- Es una tradición asociada a la crueldad contra los animales que, al contrario de lo que es afirmado por los promotores, frecuentemente se traduce en heridas e incluso en la muerte de los mismos. Siendo así, es contraria a varios documentos internacionales que condenan los malos tratos a los animales y se opone frontalmente a los principios definidos en la Declaración Universal de los Derechos de los Animales;

2- Es una práctica que anualmente es responsable por la muerte ocasional de algunos participantes y por una media de trescientos heridos, algunos com bastante gravedad;

3- La presencia de niños y adolescentes como participantes o simples asistentes en los toros ensogados contraría la recomendación de 2014 del Comité de los Derechos del Niño de la ONU, que pide alejar a los niños de la tauromaquia y que además, entre otras medidas, recomienda la promoción de campañas de información sobre “la violencia física y mental asociada a la tauromaquia y su impacto en la infancia”;

4- Es una actividad no consensual en la sociedad azoreña, como en todo el mundo, y una parte significativa de la población no sólo no se identifica sino que repudia las diversas modalidades de la tauromaquia, no siendo por eso “un elemento vivificador de la identidad cultural común”.

Frente a lo expuesto, solicitamos la intervención de las varias entidades a quien se destina esta petición de modo a ser rechazada cualquier propuesta de candidatura sobre este asunto, bien como que desarrollen todos los esfuerzos en el sentido de proteger a la infancia azoreña y a no permitir que una práctica violenta, bárbara y anacrónica sea clasificada como Patrimonio Cultural Inmaterial.


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ENGLISH

In Defense of the Children, Animal Welfare and of the Azores – Street Bullfights can not be Immaterial Cultural Heritage

On Terceira Island (Azores) there is now an attempt to make street bullfighting an Immaterial Cultural Heritage of UNESCO.

We, individual and collective persons undersigned, believe that street bullfighting is not, nor can be worthy of being considered Immaterial Cultural Heritage for the following reasons:

1- It is a tradition of cruelty against animals that on the contrary to what is affirmed by the organizers frequently causes wounds and even the death of the same. This being so, it is contrary to many international documents that condemn ill treatment of animals and is totally opposed to all principles defined in the Universal Declaration of Animal rights;

2- It is a practice that is annually the cause of the death of some human participants and an average of about three hundred injured, some seriously;

3- The presence of children and adolescents as participants or watchers of street bullfights is contrary to the recommendation of 2014, of the Comity of Children Rights of the United Nations that recommends that children should be removed from bullfighting and also that campaigns for the promotion of information about physical and mental violence associated with bullfighting and its impact on children;

4- It is not a consensual activity in Azorean society and all over the world, where a significant part of the Azorean population not only repudiates but also condemns the various kinds of bullfights and therefore cannot be considered as a “living element of a common cultural identity”.

For these reasons, we request the intervention of the various entities to whom this petition is destined, to reject any proposal for candidature of this matter, to make every effort to protect the Azorean children and not allow a violent, barbaric and anachronic practice to be classified as Immaterial Cultural Heritage.


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FRANÇAIS

En Defense des Enfants, pour le Bien-Être des Animaux et des Azores - “Taureau à la corde” n’est pas un Patrimoine Culturel Immatériel

On essaye, à l’île Terceira des Açores, la candidature du " Taureau à la corde" de façon qu'elle puisse devenir patrimoine culturel immatériel de l'UNESCO.

Nous sommes des personnes individuels et colléctifs soussignés, et a notre avis la “tourada à corda” ne peut pas et ne mérite pas le classement comme patrimoine culturel immatériel, pour les raisons suivantes:

1- Il s’agit d’une tradition associée à la cruauté envers les animaux que, contrairement à ce qui est indiqué par ses promoteurs, se traduit souvent par des blessures et même la mort des taureaux . Par conséquent, il est contraire à plusieurs documents internationaux condamnant la maltraitance des animaux, et en collision frontale avec les principes énoncés dans la Déclaration Universelle des Droits de l'Animal;

2- Cette pratique est actuellement responsable de la mort de certains participants humains et environ trois cents blessés chaque année, dont certaines très graves;

3- La présence des enfants et des adolescents en tant que participants ou seulement comme des assistants dans les “touradas à corda” est contraire à la recommendation, de 2014, du Comité des Nations Unies sur les droits de l'enfant, dans le but de garder les enfants de la tauromachie et que, entre autres choses, recommande la promotion de campagnes d'information sur la «violence physique et mentale liée à la tauromachie et son impact sur les enfants»;

4- Il s’agit d’une activité non consensuelle dans la société des Açores, comme dans le monde, où une partie importante de la population n’est pas d’accord avec la tauromachie en général, q’elle rejette, et comme ça ce n’est pas vrai que cette activité puisse “vivifier la l'identité culturelle commune”.

Compte tenu de ce qui précède, nous demandons l'intervention des diverses entités à qui est destiné cette pétition afin d'être rejeté toute proposition de candidature sur ce sujet, ainsi que de faire tous les efforts dans le but de protéger les enfants des Açores, ne permettant jamais que une pratique violente, barbare et anachronique soit classé comme patrimoine culturel immatériel.


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Mais informação:
http://iniciativa-de-cidadaos.blogspot.pt/p/tourada-nao-e-patrimonio-cultural.html

quarta-feira, 18 de novembro de 2015


O intransigente Francisco Soares Silva

A 16 de junho de 1921, começou a publicar-se em Ponta Delgada o semanário “O Intransigente”, órgão do Centro de Ponta Delgada da Federação Nacional Republicana, agremiação política de muito curta duração. Com efeito, aquela organização apenas existiu de outubro de 1920 a outubro de 1921, tendo terminado com o assassinato do seu líder António Machado dos Santos, na noite sangrenta de 19 de outubro desse ano.

Foi seu diretor e editor Francisco Soares Silva, um irrequieto pintor de construção civil que também dirigiu, entre 1908 e 1912, o jornal anarquista “Vida Nova” e esteve envolvido em diversas iniciativas do movimento operário micaelense durante a Primeira República.

Pela consulta dos escassos números publicados facilmente se chega à conclusão de que o jornal era feito, quase na íntegra por Francisco Silva, já que são muito poucos os artigos assinados, sendo alguns deles do próprio Machado dos Santos.

Outra conclusão que se poderá tirar é que o pensamento de Francisco Soares Silva sofreu grandes alterações desde a altura em que dirigia o Vida Nova bem como uma escola para ensino de operários analfabetos. Com efeito, longe estava a época em que ele acreditava que a sociedade só melhoraria a partir da participação dos cidadãos esclarecidos e sem intermediários, distante estava das ideias que combatiam o clericalismo e o militarismo, ao defender um partido que segundo alguns autores combinava “ideias económicas avançadas com um programa conservador” e um líder que se bateu, pelo menos no fim da vida, “por uma república reformista autoritária, antipartidocrática, antiparlamentarista, nacionalista, federalista, colonialista, corporativista, protecionista, transigente em relação à Igreja Católica e de tendência presidencialista”.

Num texto publicado no primeiro número do jornal, Francisco Soares Silva justifica a sua adesão à Federação Nacional Republicana ou Partido Reformista e estar ao lado de Machado dos Santos “porque ele está ao lado do povo onde ele e nós sempre estivemos”. Sobre o mesmo assunto, pode ler-se que o jornal vem dar a conhecer o referido partido, “chefiado pelo fundador da Republica cuja bandeira jamais serviu ou servirá para encobrir latrocínios e negociatas vergonhosas que nos arrastaram ao abismo”.

Através do jornal também se fica a saber que Francisco Soares Silva não renegou completamente as suas ideias e manteve a sua preocupação com causas por que se bateu toda a vida.

A título de exemplo, refere-se a publicação de um texto de Kropoktin que pugnava por um mundo “sem violência e sem o poder do Estado e concebia a sociedade como uma cooperação voluntária entre pessoas livres”, onde o anarquista russo exorta a quem sente em si a força da juventude para ser forte, grande, enérgico em tudo o que faça e apela à ação nos seguintes termos: “Luta! A luta é a vida, e tanto mais intensa quanto aquela for mais viva…Luta para permitir que todos vivam esta vida rica e exuberante, e está seguro de que encontrarás nesta luta gozos tão grandes como não os encontrarás em nenhuma outra atividade”.

De entre as causas que abraçou, Francisco Soares Silva manteve-se fiel à da proteção dos animais, tendo no primeiro número d’“O Intransigente” chamado a atenção para a inatividade da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais nos seguintes termos: “Tanto que a imprensa local falou nesta benemérita associação para no fim de contas nada de útil se ter feito em benefício dos nossos irmãos irracionais” e acrescentou: “Maldito costume que temos nesta terra de começar com muito entusiasmo numa empresa e depois nem ao de leve nela se fala”.

Francisco Soares Silva não só no jornal que vimos referindo, mas também noutros, lutou contra a escassez crónica de artigos de primeira necessidade com que se debatiam os micaelenses. Assim, sempre que pode denunciou a escassez de milho, a falta de açúcar, o elevado preço do pão e as aldrabices feitas por algumas padarias que vendiam o pão com peso abaixo do que devia ter.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30787, 18 de novembro de 2015, p.16)

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

SOS Cagarro e a educação dos mais novos



A propósito da campanha “SOS Cagarro”

Desde 1993 que me encontro, com mais ou menos intensidade, envolvido tanto na campanha “SOS Cagarro” como na que lhe deu origem, a campanha “A Escola e o cagarro”, por ter sido na altura a pessoa que nos Amigos dos Açores mais contatava com o Eng. Luís Monteiro, do Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores, o criador de ambas.

Com a minha saída da direção dos Amigos dos Açores e sobretudo após a governamentalização da campanha, onde para além do número crescente de voluntários passou a existir a participação de funcionários públicos ou de empresas criadas pelo Governo Regional, achei que estava na altura de diminuir a minha colaboração, dando lugar a outros.

Mas como um ativista nunca está bem consigo próprio se ficar inativo, sempre que posso ou me é solicitado nunca nego o meu contributo, quer através da sensibilização dos mais novos, quer na recolha de cagarros e na sua devolução ao mar.

Tal como tem acontecido em anos anteriores, este ano, no passado dia 12 de novembro, voltou a cair um cagarro na Escola Secundária das Laranjeiras, o qual, tal como é habitual, me foi entregue para posterior libertação, no dia seguinte.

Não perderia tempo a relatar este caso se a presença do cagarro numa sala de aula não despertasse a curiosidade de alguns alunos que nunca tinham visto um, o medo de outros e a manifestação de muito desconhecimento acerca do seu comportamento, de que é exemplo a ideia, muito espalhada, de os cagarros não conseguirem ver de dia.

Na ocasião, alguns alunos informaram que ao tentarem fazer com que um cagarro voasse lançaram-no ao ar num lugar alto e ele acabou por cair e morrer e também fiquei a saber que outros achavam uma boa ideia a domesticação do cagarro.

Face ao exposto, achei que deveria utilizar cinco minutos da aula para dar a conhecer um pouco da campanha “SOS cagarro”, para explicar que seria um disparte domesticar um cagarro e para divulgar o que fazer quando se encontra um cagarro em terra e todos os passos a dar até à sua libertação.

Na ocasião também tive a oportunidade de referir que uma das formas de poluição é a luminosa e que esta constituiu uma grande ameaça para as aves marinhas, sendo a atração dos cagarros pela iluminação pública, dos campos de futebol, etc. uma das principais causas da queda dos cagarros em terra.

Espero que o que se perdeu em química se tenha ganho em participação cívica e que a semente lançada germine.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30786, 17 de novembro de 2015, p.16)

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Apontamentos para a história da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais (7)


Fedora Miranda


Apontamentos para a história da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais (7)

Tendo conhecimento de que a Junta Geral do Distrito Autónomo de Ponta Delgada ia “habilitar-se ao recebimento dos bens de que era usufrutuária o sr. Victor Moderno, há tempos falecido em New York”, a presidente da SMPA, Fédora Serpa de Miranda, redige a 6 de Março de 1954, um ofício dirigido ao Presidente da Comissão Executiva da Junta Geral, onde faz o ponto da situação e apela à construção do Hospital.
Dado o interesse da carta, aqui fica um extrato: “Está já edificado um pavilhão, destinado à recolha e tratamento de cães e gatos, mas faltam as instalações para outros animais e mesmo para consultas a dar pelos veterinários, e por esse motivo vimos respeitosamente patentear a V. Exª o nosso desejo de que, por essa Exma. Comissão Executiva, seja considerada a efetiva construção do Hospital Veterinário “Alice Moderno”, estabelecimento de grande interesse para esta Sociedade e para quantos cuidam da dignificação do homem, através do bom tratamento dos animais”.
Desconhece-se por quanto tempo Fédora Miranda esteve à frente dos destinos da SMPA, mas sabe-se que em 1954 ela teve de acompanhar o marido, o professor do Liceu Antero de Quental, Dr. Lúcio Miranda, que se exilou em Inglaterra, tendo, no seu regresso, em 1964, para assistir à morte da mãe sido presa no aeroporto de Santa Maria.
A 1 de fevereiro de 1963, a SMPA estava inativa como se pode ler pelo depoimento do Comandante dos Bombeiros Voluntários Roberto Zagalo Cardoso a propósito de uma descida ao Caldeirão para resgatar alguns cães que para lá eram atirados por desumanos. Segundo ele aquela ação surgiu na sequência de um apelo de Manuel Inácio de Melo e “à recordação de uma antiga vizinha deste Quartel- D. Alice Moderno – cuja campanha zoófila recordo ainda com enternecimento, pois fiz parte da antiga Associação Protetora dos Animais, infelizmente, julgo que extinta”.
Através do cartão de uma associada que nos foi apresentado, ficamos a saber que em agosto de 1982 era presidente da SMPA Victor Pedroso e à direção pertencia Gilberto Olegário Baptista que assinou o referido cartão pelo secretário da direção.
No final da década de oitenta do século passado, a sociedade possuía cerca de 600 sócios com as quotas em dia, tendo-se a partir daí assistido ao seu declínio.
Em maio de 1993, o jornal Correio dos Açores, num artigo intitulado “Para os matar?? Câmara à espera de cães vadios”, deu a conhecer a preocupação da Câmara Municipal de Ponta Delgada com o grande número de cães vadios existentes no concelho, tendo a autarquia informado que estava a tomar medidas “em sintonia com outros organismos, concretamente a Sociedade Protetora dos Animais e a PSP”.
A última aparição pública da SMPA terá sido em Maio de 2009, através de um comunicado a condenar “a iniciativa de alguns deputados regionais no sentido de introduzirem nos Açores as chamadas “corridas picadas”, uma vez que tal espetáculo, degradante e medieval, nada tem a ver com a nossa cultura e tradições, para além de constituir um péssimo cartaz turístico para a região”. No mesmo texto a SMPA apelava “aos senhores deputados para não aprovarem uma tal legislação, utilizando o seu tempo e energias na resolução de assuntos mais prementes para a maioria dos Açorianos”.
Desaparecidos os problemas associados ao transporte de cargas, hoje a atenção deverá recair sobre o abandono de animais domésticos, o tratamento dos animais de produção e o retrocesso civilizacional que se está a assistir com a tentativa de introduzir touradas onde não são tradição e de agravar a tortura dos touros bravos.
Face ao exposto e em virtude da prática demonstrar que as associações animalistas não têm capacidade de crescer, agregando mais vontades, e estender a sua atividade para outros animais para além dos de companhia não é descabido o ressurgimento ou a reativação da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais.
Com este texto e por falta de informações disponíveis, termino a série dedicada à Sociedade Micaelense Protetora dos Animais. Espero, um dia, voltar ao assunto.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, nº 30781 de 11 nov 2015, p.17)

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Dou a cara


Nasci na Ribeira Seca de Vila Franca do Campo no seio de uma família de camponeses e lavradores. Vivi a minha infância e juventude num meio bastante humilde, onde a pobreza extrema afetava algumas famílias que foram obrigadas a emigrar em busca de uma vida melhor.

Com 17 anos assisti ao 25 de Abril que, para além de ter determinado o fim de um regime autoritário, terá suscitado a esperança de uma vida melhor para todos.

Pertenci a partidos políticos, colaborei com outros como independente, nas eleições autárquicas votei na esquerda, no centro ou na direita. Neste momento encontro-me completamente desiludido, pois cheguei à conclusão de que os partidos servem essencialmente os seus dirigentes, que para além de procurarem protagonismo, usam o poder para encontrar soluções para os seus problemas pessoais, os da sua família ou os dos seus amigos.

Desde a minha juventude, participo no movimento sindical, cooperativo e associativo ambiental e animalista porque acredito que só com a participação cívica de todos é possível a construção de um mundo mais justo, limpo e pacífico.

Hoje, decidi apoiar a candidatura de Paulo Boges à Presidência da República porque embora acreditando na democracia direta acho que mesmo a representativa não deve nem pode ser exclusiva dos desacreditados partidos políticos ou de candidatos ligados a grandes interesses económicos.

Também apoio a candidatura de Paulo Borges porque, na generalidade, me identifico com a sua declaração de princípios, valores e objetivos.

Pico da Pedra, 22 de agosto de 2015

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Teotónio da Silveira Moniz, um vila-franquense desconhecido na sua terra


Teotónio da Silveira Moniz, um vila-franquense desconhecido na sua terra

Teotónio da Silveira Moniz, que se distingui como botânico, nasceu em Vila Franca do Campo, a 13 de dezembro de 1894, e faleceu na mesma localidade, a 5 de maio de 1953.

Após ter terminado os seus estudos no Liceu de Ponta Delgada, rumou à Suíça, onde terminou um curso superior na área da agronomia.

Como corolário das suas habilitações literárias e do seu saber em assuntos relacionados com as plantas, foi nomeado diretor da Secção de Botânica do Museu Carlos Machado, que havia sido criado em 1876, com a designação de Museu Açoreano, tendo-se dedicado à recolha e estudo de briófitos e organizado um herbário para aquela instituição.

Tal como outro vila-franquense, o Padre Manuel Ernesto Ferreira, Teotónio da Silveira Moniz foi, a 12 de março de 1932, um dos fundadores da ainda hoje ativa Sociedade Afonso Chaves - Associação de Estudos Açoreanos que tem por “objetivo de dar continuidade aos estudos sobre temática açoriana iniciados pelo coronel Afonso Chaves, nas áreas da Meteorologia, Geologia, Botânica, Zoologia, História, Etnografia e Artes Plásticas”.

Da sua autoria conhece-se dois trabalhos que publicou, o primeiro, em 1937, na revista Açoreana, da Sociedade Afonso Chaves, e o segundo publicado, em 1948, na Insulana, órgão do Instituto Cultural de Ponta Delgada.

No primeiro texto, intitulado “Flora briológica – Espécies novas para os Açores”, o autor não só apresenta uma listagem de novas espécies para o arquipélago, mas também apresenta “algumas omissões na lista do Prof. Luisier ou dúvidas que necessitam ser esclarecidas, esperando assim contribuir para o conhecimento verdadeiro dos nossos musgos e hepáticas”.

Uma parte das espécies citadas foram colhidas pelo autor, em Ponta Delgada, no Pico da Vara, na Lagoa do Congro, nas Sete Cidades, na Lagoa das Furnas, em Água de Pau, nas Lagoas Empadadas e em diversos locais não identificados. em Vila Franca do Campo.

No segundo texto, intitulado “Naturalistas Estrangeiros nos Açores- M. Adanson”, o autor escreve um curto texto biográfico sobre o botânico francês Michael Adanson (1727 – 1806) que entre outros trabalhos publicou “As Famílias das Plantas”, “História Natural da Bretanha e Normandia” e “História Natural do Senegal”. O texto termina com a tradução de um excerto desta última publicação, onde o naturalista francês faz um relato de uma visita à ilha do Faial.

Mas não foi só às ciências naturais que se dedicou. Segundo o professor. M. J. Andrade, Teotónio da Silveira Moniz “possuía uma invulgar cultura artística, tendo-se consagrado, desde muito novo, à arte musical e teatral, marcando, de maneira notável, na elaboração de espetáculos de amadores no meio micaelense”. Na vertente artística e em Vila Franca do Campo, Teotónio Moniz foi o responsável pelo arranjo arquitetónico da implantação do busto do Padre Ernesto Ferreira que como se sabe é da autoria do escultor Francisco Costa.

Teotónio da Silveira Moniz, ainda de acordo com M.J. Andrade, deixou o seu nome “ligado à causa pública de São Miguel, quer como Procurador à Junta Geral do Distrito Autónomo, quer na Direção do Grémio da Lavoura, quer, ainda, como Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Vila Franca do Campo”. A sua dedicação ao Hospital da Misericórdia, foi digna de registo de tal modo que, de acordo com uma nota publicada aquando do seu falecimento, era dado destaque ao mesmo, considerando a “obra a todos os títulos meritória”

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30775, 4 de novembro de 2015, p.17)

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Direitos dos animais


Os animais têm direitos?
Uma princesa inglesa afirmou, recentemente, que os animais não têm direitos porque não têm conta bancária, não votam e que só deve ter direitos quem paga impostos.
Entre nós, um acérrimo defensor da tauromaquia afirmou que não há qualquer problema em torturar os touros por não terem quaisquer direitos já que só deverão ter direitos quem for capaz de resolver o teorema de Pitágoras.
Esta última afirmação, tal como a anterior, é deveras preocupante pois se a estendermos aos humanos, bebés, crianças e todos os que nunca aprenderam o dito teorema ou os que já o esqueceram não deverão ser titulares de quaisquer direitos, podendo consequentemente ser vítimas de maus tratos, discriminados, torturados, escravizados, etc.
Não pretendendo discutir aqui a questão dos direitos dos animais, o nosso objetivo com este curto texto é dar a conhecer um livro, publicado recentemente, intitulado “Sim! Os animais têm direitos”, da autoria de André Nunes, licenciado em direito pela Universidade Católica Portuguesa, que, desde 2009, se dedica ao estudo dos direitos dos animais, quer sob o ponto de vista jurídico, quer filosófico.
Por muito que custe a algumas cabeças pouco abertas à evolução das mentalidades, é cada vez maior o número de pessoas que em todo o mundo se preocupam com a vida dos animais não humanos e lutam para que a sua situação melhore. Segundo Paulo Borges, autor do prefácio, ao referido livro, “a ética animal, a par da ambiental, é hoje uma das áreas de investigação mais florescentes nos estudos académicos e a questão dos direitos dos animais e da natureza tornou-se central ao debate filosófico-jurídico contemporâneo”.
O livro, de fácil leitura, possui cinco capítulos, sendo o primeiro mais teórico, onde o autor define “o limite a partir do qual devem os animais ser considerados eticamente”. No segundo capítulo, o autor responde às objeções feitas à defesa dos direitos dos animais, no terceiro é rebatida a argumentação “que se centra mais no mensageiro do que na mensagem argumento”, no quarto capítulo é desmascarada a estratégia “assente no rótulo do tratamento bom e humanitário” nas várias indústrias de exploração de animais. Por último, no quinto capítulo o autor propõe-se “encontrar uma resposta para a questão: como devemos tratar os animais não-humanos””
As opiniões do autor, que não aceita “que a espécie humana se coloque a ela própria num patamar à parte” da mesma maneira que não aceita que os animais sejam colocados “numa redoma inquebrável”, com certeza irão causar algum desconforto a quem não tem o espírito aberto a admitir ideias diferentes das suas ou a quem, por preguiça mental, não está habituado a refletir, sem preconceitos, sobre os mais diversos assuntos.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30768, de 27 de outubro de 2015, p.6)

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Ano Internacional da Luz

Fonte: http://parquedaciencia.blogspot.com/2014/03/isaac-newton-o-pai-da-fisica-moderna.html

O ano de 2015 foi proclamado, pelas Nações Unidas, como o Ano Internacional da Luz e das Tecnologias baseadas na Luz., como forma de reconhecimento da importância das tecnologias baseadas na luz na promoção do desenvolvimento sustentável e na busca de soluções para os desafios mundiais nas áreas de energia, educação, agricultura, saúde, etc.

Se na maior parte das vezes as comemorações dos diversos anos internacionais pouco adiantam em termos de resolução dos problemas concretos das pessoas, no caso em apreço, pelo menos nos Açores, não se conhece qualquer iniciativa para o assinalar, por mais simbólica que seja.

No texto de hoje, sucintamente, apresentarei alguns físicos que com as suas teorias e investigações contribuíram para um melhor conhecimento da luz e consequentemente tornaram possível diversas aplicações das tecnologias nela suportadas.

O primeiro físico que vamos mencionar neste texto é o inglês Isaac Newton (1643-1727), conhecido pela sua obra Philosophiae Naturalis Principia Mathematica, onde descreve a lei da gravitação universal e as três leis de Newton, que fundamentaram a mecânica clássica que é a que é ensinada, ainda hoje, nas nossas escolas, no terceiro ciclo do Ensino Básico e no Ensino Secundário.

Mas, para além do seu monumental contributo para a física, Newton também se dedicou à astronomia, à matemática, à filosofia natural e à teologia.

No que à luz diz respeito, Newton propôs a teoria corpuscular segundo a qual a luz é constituída por pequenas partículas que são emitidas pelas fontes luminosas. A teoria corpuscular explicava muito bem os fenómenos da reflexão e da refração.

Newton, também, explicou por que razão a luz branca pode ser decomposta em “luzes de várias cores”. Este fenómeno ótico que se denomina dispersão foi observado por ele em 1672 quando fez atravessar por um prisma um feixe de luz branca.

Newton, que segundo o físico português Carlos Fiolhais conseguiu ofuscar “a grande maioria dos seus opositores” não foi capaz de fazer sombra ao físico holandês Christiaan Huygens (1629-1695) que defendeu que a luz era uma onda que se propagava no éter, o qual, no final do século XIX, se provou não existir.

Depois do confronto entre as duas teorias, que durou muito tempo, a ondulatória de Huygens ganhou adeptos pois conseguiu explicar os fenómenos da difração e interferência da luz que a corpuscular não era capaz de o fazer.

Mas, uma questão permanecia por responder: afinal, o que é a luz?

A resposta foi dada pelo físico e matemático escocês, James Maxwell (1831-1879), cujo trabalho em prol da ciência foi considerado por Albert Einstein “o mais profundo e frutífero que a física descobriu desde Newton". Para ele a luz estava relacionada com a eletricidade e com o magnetismo, sendo, segundo Pierre Guaydier, uma onda luminosa representada “pela associação de um campo magnético e de um campo elétrico periodicamente variáveis com uma frequência muito grande, propagando-se estas variáveis à velocidade de 300 000quilómetros por segundo”.

Como é impossível fazer referência a todos os físicos que contribuíram para o estudo da luz, para terminar este texto, farei uma breve referência ao físico teórico alemão, naturalizado americano, Albert Einstein (1879-1955), que soube conciliar as duas teorias, a corpuscular e a ondulatória, dizendo que uma teoria explicava bem alguns fenómenos enquanto a outra explicava outros.

Para além disso, Einstein explicou, em 1905, o efeito fotoelétrico, o qual consiste em arrancar eletrões de uma superfície metálica quando sobre ela incide luz, o que lhe valeu, em 1921, o prémio Nobel da Física.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30763, 21 de outubro de 2015, p.13)

Garajaus


Foto: José Pedro Medeiros

Um espaço para os garajaus

Em Nota Zoófila anterior o tema foi a campanha SOS cagarro. Nesta, vou escrever sobre outras aves marinhas, os garajaus.

Para tentar explicar o que são os garajaus e sobretudo a diferença entre eles, transcrevo um excerto de um texto de apoio a uma sugestão para uma aula de educação ambiental cuja autoria é do Doutor Luis Monteiro:

“Os garajaus são aves marinhas coloniais, com caudas bifurcadas e de aspecto mais aerodinâmico do que as gaivotas. O garajau-comum apresenta as asas de um cinzento mais escuro do que as do garajau-rosado. A asa do garajau-comum é ligeiramente menor do que a do rosado e o bico é predominantemente vermelho (só a ponta é preta) enquanto o bico do garajau-rosado é predominantemente preto. No Verão o garajau-rosado apresenta o peito tingido com um tom róseo leve. Em voo nota-se que esta espécie é, de um modo geral, mais clara do que a outra”

Os garajaus, comum e rosado, foram, nos Açores, as primeiras aves marinhas a ser alvo de uma campanha de sensibilização, a qual foi lançada, em março de 1993, por iniciativa do Doutor Luís Monteiro, do Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores e que contou com a colaboração da associação ecológica Amigos dos Açores que, naquele ano e em anos posteriores, editou milhares de folhetos sobre as duas espécies, que foram distribuídos essencialmente nas escolas, e promoveu pequenas exposições, também em escolas e em sedes de juntas de freguesia.

Dois anos antes do início da campanha referida, o Doutor Luís Monteiro, numa comunicação apresentada no 2º Encontro de Ambiente, Turismo e Cultura, realizado, em Janeiro, na cidade de Angra do Heroísmo, realçou a importância dos Açores tanto para o garajau comum como para o rosado. Segundo ele, os Açores eram a área de nidificação mais importante para o garajau rosado, na Europa, e a população nidificante do garajau comum representava cerca de 4% da população existente, também, na Europa.

Em termos de números, nidificavam nos Açores cerca de 1000 casais de garajau-rosado, o que correspondia a dois terços da população europeia e 4000 casais de garajau-comum.

Um levantamento estatístico, recentemente divulgado, revelou que no ilhéu da Praia, na Graciosa, existe a segunda maior colónia europeia de garajau-rosado, com cerca de 600 casais e que nos Açores nidificam cerca de 50% dos garajaus rosados da Europa.

Face aos números expostos e a alguns problemas existentes nas colónias faz todo o sentido continuar a investigação e a tomada de medidas para evitar a perturbação pelo homem e a predação por roedores.


Teófilo Braga

(Correio dos Açores,30762, 20 de outubro de 2015, p.14)

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Para a história da SMPA


Apontamentos para a história da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais (6)

A 11 de Junho de 1938, o Correio dos Açores noticiou que em virtude de queixas apresentadas pela SMPA-Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, estavam presos um indivíduo das Calhetas que maltratou um cão e outro dos Fenais da Luz que havia atirado uma cabra do alto de uma rocha, provocando a morte do animal. Na mesma notícia é referido que o Secretário da SMPA havia feito “apreensões de aguilhões” e advertido “alguns condutores, cujos veículos eram deslocados por animais chagados” e que a SMPA havia fornecido ao posto zootécnico “vomitivos, clorofórmio e algodão hidrófilo”.
A 16 de Setembro de 1938, morre Alfredo da Câmara. A direção da SMPA, através de anúncio publicado no dia seguinte, no Correio dos Açores, convidou “todos os seus consócios a incorporarem-se no préstito fúnebre que acompanhará à sua última morada o seu prestante colega, sócio fundador da mesma agremiação”.
Em 1941, segundo o “Correio dos Açores”, de 8 de Março, com a devida autorização da Junta Geral e a solicitação da SMPA, o Posto Zootécnico de Ponta Delgada, passou a receber todos os animais feridos ou doentes encontrados na via pública que podiam ser entregues a qualquer hora do dia, pois no mesmo pernoitava um guarda.
A 14 de Maio de 1941, o Correio dos Açores, noticiava a abertura para breve de um Posto Veterinário que passaria a funcionar no Posto Zootécnico, dirigido pelo Dr. Vitor Machado Faria e Maia.
A SMPA colaborou com o referido posto através da oferta de medicamentos e da cedência de algum mobiliário.
Ainda de acordo com o que se pode ler na notícia referida, os tratamentos eram pagos, mas os sócios da SMPA tinham direito a desconto.
Em 1941, a SMPA subsidiava “monetariamente alguns animais abandonados, que tem sido necessário hospitalizar e a que é preciso fornecer alimento, enquanto não se lhes dá destino adequado”.
A 16 de Janeiro de 1944, realizou-se uma Assembleia Geral da SMPA, na sede da Associação dos Bombeiros Voluntários de Ponta Delgada, cedida para o efeito pelo seu comandante, o sr. Eduíno Geraldes Botelho.
De acordo com notícia publicada no Correio dos Açores de 24 de Janeiro de 1945, no ano anterior, 1944, o Posto Veterinário, que funcionava numa dependência do Posto Zootécnico, tratou 685 (seiscentos e oitenta e cinco) animais.
Ainda de acordo com a mesma notícia, a direção da SMPA encontrava-se a “reunir fundos suficientes para a construção de um Hospital Veterinário, e das quotas pagas pelos sócios fornecia os medicamentos solicitados pelo Dr. Vitor Faria e Maia para colmatar as necessidades do Posto Veterinário, para além de subsidiar o enfermeiro-veterinário em serviço no Posto, o sr. Moniz Berenguer. Estava a cargo da SMPA a recolha e o envio ao posto dos animais doentes ou feridos encontrados na via pública.
Em Agosto de 1945, ter-se-á realizado a última reunião assistida por Alice Moderno, com a presença de Olga Amélia Lima, Francisco Silveira Rodrigues, José Soares de Albergaria e Luciano Mota Vieira e Maria Evelina de Sousa, em representação de Oliveira S. Bento, na qual foi debatido o problema que preocupou a sociedade desde o início, o peso excessivo da carga que os animais eram obrigados a suportar.
Em 1948, quando entrou em funcionamento nas instalações do Posto Zootécnico o denominado Hospital Alice Moderno, faziam parte dos órgãos sociais Fedora Serpa Miranda, presidente da direção, Luciano de Rezende Mota Vieira, Francisco Silveira Rodrigues, Maria da Conceição Sequeira de Medeiros Gonçalves, Maria Eduarda Câmara Ataíde Mota, António de Lemos Alves de Sousa Gomes, Jacinto Viveiros, Victor da Silva Pedroso e Manuel Albano Botelho de Medeiros.

(Continua)

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30757, 14 de outubro de 2015, p.11)

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Oa animais têm partido?


Os animais têm partido?

Foi com surpresa que, na manhã de 5 de outubro, tomei conhecimento de que a Assembleia da República passaria a contar com um deputado de um novo partido politico, o PAN – Pessoas-Animais- Natureza, eleito curiosamente no Dia do Animal.
Se a eleição do deputado do PAN é uma vitória para os atuais dirigentes, pois não há muito tempo houve grandes divergências no seu interior que culminaram com a saída de vários membros, entre os quais o seu presidente, o professor de filosofia da Universidade de Lisboa, Paulo Borges, é, também, uma esperança para muitos defensores dos animais e para as associações animalistas.
A eleição do engenheiro civil André Silva, também, pode ser uma indicação do crescente peso da causa animal na sociedade portuguesa que supera, em termos de envolvimento cívico, o movimento ecologista/amboentalista que nunca conseguiu eleger, autonomamente um representante seu na Assembleia da República.
Sobre este assunto, relembro que até ao surgimento do PAN que também se diz ecologista, os partidos desta área, isolados, nunca conseguiram eleger um deputado. Com efeito, o Partido Ecologista “Os Verdes” tem estado representado, na Assembleia da República, integrado na Coligação Democrática Unitária e o MPT- Movimento Partido da Terra esteve lá presente através dos deputados Pedro Quartim Graça e Luís Carloto Marques, eleitos em listas do PSD.
Embora o PAN, que foi legalizado a 13 de janeiro de 2011 e que inicialmente chamava-se PPA- Partido pelos Animais, pretenda unificar as diferentes causas explícitas na sua atual designação “Pessoas- Animais- Natureza”, é a proteção dos animais a que mais mobiliza os seus filiados e simpatizantes, tal como mobiliza em todo o mundo milhões de pessoas a título individual ou agrupadas nas mais diversas associações.
Se se fizesse um inquérito a perguntar aos militantes da causa animal quais as suas orientações políticas e/ou filiações partidárias, não tenho dúvidas de que as respostas levariam à conclusão de que há quem seja do centro, da direita ou da esquerda e de que as filiações abrangeriam todo o leque de organizações partidárias existente em Portugal e outros, se calhar a maioria, não pertencem a qualquer partido político.
Em termos de síntese, se há partidos, uns mais do que outros, que abraçam a causa da proteção dos animais, estes não têm partido, precisando da compaixão e respeito de todos.
Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 30756,13 de outubro de 2015)

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Livros e livrarias


Ainda sobre livrarias e livros

Em texto anterior, escrevi sobre algumas livrarias que sempre que posso costumo visitar e adquirir as novidades que muitas vezes não chegam aos Açores. Hoje, faço referência a outra, à Feira da Ladra e a alguns livros adquiridos este ano.
Uma livraria que vale a pena visitar é a Fonte das Letras, localizada em Évora. Com 15 anos de existência, a livraria que é generalista dedica uma atenção especial às pequenas editoras e possui um programa cultural ao longo do ano.
De entre as aquisições que fiz, destaco o boletim “O Gorgulho”, boletim informativo sobre biodiversidade agrícola da associação Colher para Semear, a separata nº 1 do Gorgulho, intitulada “Pierre Rabhi em Nome da Terra”, com uma seleção de textos de Pierre Rabhi, um agricultor francês que é “um dos pioneiros da agroecologia”, sendo um dos “grandes vultos que têm vindo a desbravar o terreno conducente a uma agricultura respeitadora dos princípios vitais de existência na Terra”.
Um livro, necessariamente polémico, que adquiri foi “Fátima, SA”; A beatice, contra a Fé de Jesus; O Dinheiro, contra Deus Abba-Mãe; A mítica deusa, contra Maria, a mãe de Jesus”, da autoria do controverso presbítero e jornalista Mário de Oliveira. O autor do livro é o conhecido e polémico Padre Mário da Macieira da Lixa que durante o Estado Novo foi duas vezes preso pela Pide, tendo sido acusado de subversão pelo Tribunal Plenário do Porto.
Outro livro que mais do que leitura deve ser de consulta obrigatória é o Dicionário no Feminino (séculos XIX e XX), com 900 páginas e 3000 entradas, editado pela Livros Horizonte, sob a coordenação de António Ferreira de Sousa, Ilda Soares de Abreu e Maria Emília Stone.
Como no melhor pano cai a nódoa, o historiador José Pacheco Pereira considera que o mesmo foi uma oportunidade perdida, tendo notado várias ausências injustificadas. Sobre esse assunto, transcreve-se abaixo um excerto de um texto da sua autoria:

“Na área que conheço melhor, a da política oposicionista, o “Dicionário” é pouco útil apesar do seu título genérico e enganador, e a intenção expressa de retratar o “emergir das mulheres na vida da sociedade”. Lá vem uma lista detalhada de entradas sobre congregações religiosas, organizações republicanas e maçónicas mas muito pouco sobre organizações políticas de mulheres depois de 1926. Onde está o Movimento Democrático das Mulheres e os seus percursores? Onde está a Associação Feminina Portuguesa para a Paz, cujas listas são usadas, mas que não tem entrada autónoma como organização? Onde está a Obra das Mães para a Educação Nacional, ou o Movimento Nacional Feminino?
Um local onde se pode adquirir livros em segunda mão a bom preço é a Feira de Ladra, a mais antiga feira da cidade de Lisboa, que se realiza à terça-feira e ao sábado.
Este ano, comprei o Dicionário de Mulheres Rebeldes, editado, em outubro de 2006, pela Ela por Ela, a primeira editora feminista portuguesa, fundada e dirigida por Ana Barradas que é também a autora do livro.
No mencionado livro há referência a quatro mulheres açorianas ou com ligações aos Açores: Alice Moderno, Ana Sara Brito, Clarisse Canha e Fátima Sequeira Dias.
Sobre Alice Moderno o livro refere que foi uma “senhora de uma grande cultura geral… notada pelos seus conhecimentos de mitologia grega, a Bíblia, a história de Portugal e a história da Rússia”. Também refere que “manteve correspondência com Tolstoi, foi professora, jornalista, escritora e diretora de um jornal local, A Folha”.
Em relação a Ana Sara Brito que foi enfermeira e professora de enfermagem o livro menciona que “entre 1963 e 1965 esteve na direção do Programa de Proteção Materno-Infantil dos Açores”.
Acerca de Clarisse Canha, Ana Barradas escreve que foi militante católica antes do 25 de abril de 1974 e que “é membro da direção nacional da UMAR e da delegação nos Açores”.
Sobre Fátima Sequeira Dias, através da leitura do livro fica-se a saber que era professora universitária, foi membro da UMAR e colaborava na Revista Açorianíssima com artigos sobre a condição feminina.
Tal como a própria autora escreve no prefácio, a seleção apresenta “lacunas evidentes” e no caso dos Açores, nota-se a ausência da professora Maria Evelina de Sousa, de Ponta Delgada, e de Ana Augusta de Castilho, natural de Angra do Heroísmo.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30751, 7 de outubro de 2015, p.17)

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

SOS CAGARRO


Os cagarros estão quase de partida

As ações em defesa dos cagarros começaram em novembro de 1993, altura em que foi lançada a campanha “A escola e o cagarro” no âmbito da qual foi aplicado um inquérito, sobre a espécie, destinado a alunos das escolas, nomeadamente do 1º e 2º ciclos do ensino básico e distribuídos 10 mil folhetos informativos sobre a espécie.

Para a implementação da campanha, da iniciativa do Dr. Luís Monteiro, do Departamento de Oceanografia e Pescas das Universidade dos Açores e dos Amigos dos Açores, foi pedida a colaboração à Direção Regional da Educação, através da Dra. Ana Paula Pamplona Santos e da Dra. Ana Lúcia Gonçalves Almeida, respetivamente, Diretora de Serviços de Formação e Inovação e chefe de divisão de Inovação Educativa, que se responsabilizou pela distribuição dos materiais por todas as escolas dos Açores.

A campanha “SOS Cagarro”, por seu turno, foi criada dois anos depois também por iniciativa do Doutor Luís Monteiro, no âmbito do projeto LIFE “Conservação das comunidades de aves marinhas dos Açores”. Para a concretização do projeto a Direção Regional do Ambiente colaboraria com o DOP na coordenação e execução das ações de conservação direta e participaria nas ações de inventariação e monitorização de espécies. Por seu turno, os Amigos dos Açores apoiariam as ações de conservação direta, nomeadamente informação e sensibilização, tendo entrado com uma comparticipação de mil setecentos e sessenta escudos.

De então para cá, a campanha tem prosseguido anualmente, contando com a participação de muitos voluntários a título individual e com a colaboração de algumas organizações ambientalistas ou não, sendo, acreditamos, a campanha que mais pessoas mobiliza nos Açores.

Apesar do êxito em termos de participação cívica, a que não é alheio algum exibicionismo por parte de alguns autarcas que participam na mesma apenas simbolicamente, o trabalho que é feito anualmente é quase inglório pois a principal causa da queda em terra dos cagarros prossegue e pouco se faz para a alterar.

Sobre este assunto, em 2014, foi divulgado um texto intitulado MANIFESTO EM DEFESA DO CAGARRO, assinado pelos Amigos dos Açores - Associação Ecológica, pelos Amigos do Calhau - Associação Ecológica, pelo CAES - Coletivo Açoriano de Ecologia Social, e por 62 subscritores individuais onde era defendido “um compromisso para a redução efetiva da iluminação pública durante as duas semanas principais que dura a Campanha SOS Cagarro”, pois “mais da metade das aves que caem em terra tem por causa a exagerada iluminação pública de infraestruturas como portos de pesca, campos de futebol e estradas situadas junto ao litoral”.

Outra reivindicação do manifesto referido era a “construção de um Centro de Recuperação de Fauna (CRF) nas principais ilhas, com capacidade para acolher e tratar todos os cagarros feridos” e que também serviria, ao longo do ano, “para o tratamento de outras espécies de aves dos Açores e como depósito de animais apreendidos em situação ilegal, necessidade para a qual a própria GNR tem vindo a alertar repetidamente”.

Este ano, participe na campanha SOS Cagarro.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30750, 6 de outubro de 2015)

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Apontamentos para a história da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais (5)



Apontamentos para a história da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais (5)

Na reunião de 5 de maio de 1935 da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, também, foram eleitos os membros dos órgãos sociais cuja composição passou a ser a seguinte:
Direção- Presidente, D. Alice Moderno; tesoureiro, João Leocádio Oliveira; secretário, Gil Afonso de Andrade Botelho; vogais, Dr. Aires S. d’Albergaria Tavares Silva, Breno de Vasconcelos, Cícero de Medeiros, Dr. José Jacinto Pereira da Câmara, Dr. Manuel da Silva Carreiro, Francisco Paula Nogueira Reis e João Bento.
Direção (substitutos) – Presidente, D. Maria Evelina de Sousa; tesoureiro, Dr. Victor Machado Faria e Maia, secretário, Dr. Alberto Paula de Oliveira; vogais, Francisco Carlos da Silveira Martins, António da Costa, José da Câmara Velho Melo Cabral, Manuel Ferreira de Almeida, Dra. D. Maria Macedo e D. Olga Amélia Lima.
Assembleia Geral – Presidente, Aires Jácome Correia; vice-presidente, Ruy Tavares do Canto; 1º secretário, Horácio Teves; 2º secretário, Luís Quintino Berquó de Aguiar; 1º vice-secretário, José Joaquim do Couto Santiago; 2º vice-secretário, Francisco de Araújo.
Conselho Fiscal- Presidente, Urbano Carreiro; secretário, José da Silva Alves; vogais, Artur Frederico Silva, Dinis José da Silva e João da Costa Benevides.
Júri- Presidente, Eduardo Soares de Albergaria; Relatores, Alfredo da Câmara, Eugénio Botelho da Câmara, Dr. Fernando Marques Moreira, José Peres Maldonado Jr., João Maria Sequeira e Manuel Joaquim de Matos.
Através do jornal Correio dos Açores de 26 de setembro de 1935, o presidente da delegação da SMPA, de Rabo de Peixe, alertou a autoridade policial para o facto de na localidade continuarem “os maus tratos aos animais domésticos, transitando pela mesma numerosos pequenos veículos, tirados por animais das espécies caprina e ovelhuns, obrigados, sob grossa pancadaria, a deslocar pesos muito superiores às suas forças”.
A 5 de Janeiro de 1936, realizou-se a Assembleia Geral da SMPA, presidida por Alice Moderno, devido à ausência por motivos de saúde do presidente da Assembleia Geral, Marquês de Jácome Correia.
Na reunião, entre outros, falou Maria Evelina de Sousa que lamentou a ausência de muitos associados e propôs votos de louvor ao Sr. Comandante da Polícia Distrital, Manuel Magro Romão, ao sr. Breno Dias de Vasconcelos que substituiu como secretário o sr. Gil Afonso Botelho e aos diretores dos jornais “sempre prontos a coadjuvar, por meio da mais esclarecida propaganda, a ação da sociedade na defesa dos direitos dos nossos irmãos inferiores”.
Na referida reunião foram eleitos os novos corpos gerentes, cuja composição passou a ser a seguinte:
Direção (efetivos) - Presidente, D. Alice Moderno; Secretário, Breno de Vasconcelos, tesoureiro, D. Maria Evelina de Sousa; vogais, D. José de Oliveira San Bento, José Rebelo de Bettencourt, João Bento da Silva, Francisco Silveira Rodrigues e Manuel Inácio de Melo.
Direção (substitutos) – Presidente, Gil Afonso de Andrade Botelho; tesoureiro, D. Maria Luísa Soares de Albergaria Leite Ataíde, secretário, Dr. Clemente Soares de Medeiros; vogais, João Domingues Vieira de Faria, Clemente de Vasconcelos, Horácio Silveira, Manuel Soares Brandão, Raul Pons e Mariano Marcelino Cabral.
Assembleia Geral – Presidente, Aires Jácome Correia; vice-presidente, Ruy Tavares do Canto; 1º secretário, Diogo Ivens Tavares; 2º secretário, José Joaquim do Couto Santiago; 1º vice-secretário, Victor da Silva Pedroso; 2º vice-secretário, D. Hortense Morais.
Conselho Fiscal- Presidente, Capitão Luís Faria e Maia da Cunha; secretário, José Soares de Albergaria; vogais, Carlos Faria e Maia de Aguiar, Jaime Nobre de Oliveira e Dr.ª Maria de Macedo.
Júri- Presidente, Dr. Guilherme Fisher Berquó Poças Falcão; Secretário, D. Maria Evelina Faria e Maia de Aguiar; Relatores, Dr.ª D. Maria Joana de Freitas Peeira, D. Olga Amélia de Lima, Dr. Tito Pires Coelho, D. Maria José Caupers Faria e Maia, António Torres, Manuel José Martins e José Pacheco de Melo.
(Continua)

(Correio dos Açores, 30 de setembro de 2015)

Teófilo Braga