segunda-feira, 27 de maio de 2013

José Feitor



José Feitor foi um pequeno lavrador, que nasceu na Ribeira Seca de Cima (Boca da Canada)e viveu durante muitos anos na denominada Estrada Nova, caminho que liga a Ribeira Seca à Ribeira das Tainhas.

Foi dos últimos que conseguiu com uma pequena lavoura viver honestamente. A integração de Portugal na comunidade europeia para além de alguma modernização levou a que muitos criadores de gado bovino tivessem que se desfazer das suas explorações pecuárias de tal modo que, na Ribeira Seca, hoje são muito poucos os que ainda as possuem.

domingo, 26 de maio de 2013

António Raposo



A divulgação desta fotografia por sua filha, Berta Raposo, fez-me regressar ao passado quando vivia em casa de meus avós, Maria Verdadeiro e Manuel Soares na Rua do Jogo.

Era eu uma criança e os vizinhos mais próximos eram a "tia" Sofia "Melro-Negro", a "tia" Leopoldina e o marido e o António Raposo e irmãs, que todos conhecíamos por "Cidade". Em frente à nossa casa moravam os dois irmãos, que haviam cegado no início da idade adulta, os "tios" João e Maria Amaral.

O António Raposo, que mais tarde morou na rua da Calçada,deixou-nos há vinte e nove anos.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Brincadeiras e maldades de rapazes e de adultos



Brincadeiras e maldades de rapazes e de adultos

Antes de ir viver para Ponta Delgada para poder compatibilizar os meus estudos no Instituto Universitário dos Açores com o meu trabalho de professor provisório na Escola Preparatória Roberto Ivens, onde lecionei Matemática e Ciências da Natureza, sempre morei na Rua do Jogo, na Ribeira Seca de Vila Franca do Campo.
Para justificar o nome da rua, que era térrea, era nela que tanto rapazes como raparigas brincavam. Eram os desafios de futebol, com as balizas assinaladas com duas pedras, era o jogo do pião e era o do berlinde que para ser jogado necessitava de três “coveletas”, pequenos buracos escavados no solo.
Na altura, tanto eu como os meus colegas, discordávamos da substituição da terra da rua pelo alcatrão, pois com este algumas das nossas brincadeiras deixariam de poder continuar. Esquecíamo-nos de que com o progresso, as brincadeiras também evoluíam e as tradições também definhavam e acabavam por desaparecer.
Um dos jogos que se faziam eram as corridas de carros de duas rodas de madeira que poucos possuíam. Os restantes em vez de rodas de madeira usavam pedaços de carrilhos de milho – espigas, depois de tirados os grãos.
Para além dos carros de duas rodas, existiam também carros de uma só roda que se movia, na maior parte dos casos, num eixo que era colocado numa cana, planta que servia para fazer sebes e que era usada para suporte das vinhas.
Tinha eu os meus sete ou oito anos, vivia na rua o senhor João A. que estava de relações cortadas com a senhora D. a qual por sua vez tinha, em casa, um familiar que estava gravemente doente ou mesmo, como se costuma dizer, às portas da morte.
Para fazer arreliar a senhora D. ou para abreviar a vida ao doente, o senhor João lembrou-se de ser generoso com todos os rapazes que viviam perto da sua casa e decidiu oferecer aos mesmos um carro de uma só roda, com a particularidade desta ser dentada de tal modo que, ao bater num pedaço da cana que era flexível, produzia um ruido que se não matava uma pessoa saudável devia ser deveras incómodo para quem estava a sofrer.
Mas, a maldade era tanta que a oferta só era válida se fosse cumprida uma condição que era, nem mais nem menos, a de as corridas terem de se realizar num troço pequeno da rua que incluía o da localização da casa da senhora D. e dos seus familiares.
No início da década de sessenta do século passado, não havia saneamento básico e todas as águas pluviais e outras como as das cozinhas, as de lavar roupa ou mesmo as dos currais de porco, eram canalizadas para a rua por onde corriam em valetas que ficavam em ambos os lados daquela.
Nas valetas mais modernas, que eram de cimento, surgiam limos que eram ótimos para facilitar a vida aos rapazes que costumavam deslizar em cima de cascas de melancia. Terá sido esta brincadeira que mais tarde deu origem às corridas de patins ou ao surf?
O outro entretimento dos rapazes e de algumas raparigas era o de amesquinhar alguns dos moradores da rua, nomeadamente os que, por uma razão ou outra, eram mais pobres, possuíam alguns vícios ou doenças, nomeadamente o alcoolismo, ou algum defeito físico.
Um dos casos que irei mencionar era o do senhor A. I., ex-emigrante que vivia só, numa casa que estava a cair e que era alimentado, não sei se por esmola, por uma familiar. O senhor A. gostava de beber a sua pinga numa das três tabernas existentes e quando regressava trôpego a casa era perseguido e às vezes apedrejado por rapazes que gritavam: “A. I, bye, bye. caganitas para o teu pai”.
Outro caso era o de um senhor que foi um grande artista na arte de trabalhar o vime e que sofria de doença psiquiátrica. Lembro-me dele sentado às portas de algumas casas lá na rua, sendo também apedrejado por alguns rapazes que também arranjaram uma rima para o irritar.
Anos mais tarde, era já eu quase adulto encontrei-o na Praça Bento de Gois, muito bem vestido e a conversar com outras pessoas. Curioso, aproximei-me para tentar perceber se ele estava curado ou não e assisti a uma explicação sua sobre a chegada do homem à Lua, onde ele misturava um pouco da realidade com uma grande dose de imaginação, de tal modo que se não o conhecesse diria que ele havia lido a Viagem ao Centro da Terra, de Júlio Verne.
Por último, havia uma família de gente muito humilde e trabalhadora que vivia numa casa arrendada e que passava por muitas dificuldades, tal como muitas outras.
Ainda hoje não sei a verdadeira razão da sua escolha para vítima das muitas rimas que a ela eram dedicadas, mas possivelmente terá sido devido ao facto da sua casa ser um pouco metida dentro de modo que propiciava uma aglomeração dos mais novos que com o seu barulho incomodavam sobretudo a pessoa mais idosa da família que, de vez em quando, vinha à porta afugentar quem lá estava. Quando tal acontecia choviam as “canções” de protesto, a mais inocente das quais era:
Maria A.
Folha de couve
Foi comprar sapatos
Para oferecer ao noivo
TB
(Correio dos Açores, nº 2797, 15 de Maio de 2013, p. 9)