terça-feira, 9 de agosto de 2016

Francisco de Amaral Borges e o vegetarianismo


Francisco de Amaral Borges e o vegetarianismo


Depois da fase do incentivo ao consumo de carne e de outros produtos extraídos dos animais, nos últimos tempos tem crescido o número de pessoas que, por razões de saúde, por motivações ambientais ou por preocupações com o tratamento e abate de animais, tem alterado os seus hábitos alimentares, quer reduzindo, quer eliminando todos os alimentos de origem animal.

O vegetarianismo que começou por ser condenado pelas entidades oficiais, passou a ser olhado de outra maneira a partir do momento em que a Direção-Geral de Saúde editou o manual “Linhas de Orientação para uma Alimentação Vegetariana Saudável”, isto é em julho de 2015.

O surgimento de uma associação vegana em São Miguel é fruto da divulgação entre nós das várias correntes do vegetarianismo e da procura de um novo estilo de vida e não tem qualquer relação com as pessoas que no passado optaram por viver e alimentar-se fugindo ao que era mais comum.

De entre as pessoas que temos conhecimento e que de algum modo foram precursoras do que hoje está a acontecer destaco o Dr. Francisco Amaral Borges que foi professor de inglês na Escola Secundária Antero de Quental.

Em 1972, o “Circulo de Amigos da Lagoa” promoveu uma palestra intitulada “O naturismo como ideal ao serviço da saúde” que foi proferida pelo Dr. Francisco Amaral Borges e transcrita na íntegra em dois números do jornal “Açores”.

Através da leitura do texto da palestra, a primeira conclusão que se tira é a de que uma das motivações para a prática do naturismo é a saúde, como se pode ver através do seguinte extrato:

“Se uma nação só é verdadeiramente rica quando possui cérebros lúcidos e geniais capazes de tornarem uma sociedade feliz em todos os domínios, somos levados a concluir que a profilaxia das doenças crónicas e a prática de uma alimentação racional só poderão fazer-se ensinando a vier com saúde”

O que era para o Dr. Francisco Borges viver com saúde?

Viver com saúde é viver tendo em conta os perigos das bebidas alcoólicas, do tabaco, da poluição, dos erros de dietética e da vida sedentária, entre outros.

No que diz respeito à alimentação, o palestrante defendeu que o naturismo “ensina a respeitar a existência de todos os seres e como tal condena a alimentação cárnea, considerando-a criminosa pelo atentado que isso representa contra a vida dos animais, que, pertencendo, como nós, à mesma escala de evolução, lhes assiste também o direito de um lugar devido”.

Depois de passar grande parte da palestra a demonstrar os malefícios da carne e a desmontar a ideia de que a proteína animal era superior à vegetal, o Dr. Francisco Amaral Borges socorreu-se da espiritualidade/religião para apoiar as suas ideias, afirmando que Cristo “pertencia à seita dos Essénios, que eram estritamente vegetarianos”.

Homem de convicções fortes, o Dr. Francisco Amaral Borges terminou a sua palestra demonstrando uma confiança inabalável num futuro diferente, como se pode ler pelo seguinte extrato:

“A defesa de uma causa - quando justa - é sempre difícil e demorada. E são sobretudo as causas que visam o interesse geral e coletivo as que mais dificuldades oferecem. Elas requerem, para serem sustentadas, muita persistência, tenacidade e confiança, durante muitos anos, tantos que uma existência, só, não basta para as impor à luz da razão. Mas a fé move montanhas, como sói dizer-se, opera prodígios, porque os que a possuem nunca desanimam e confiam ainda na natureza boa do Homem”.

A palestra não deverá ter deixado ninguém indiferente, o mesmo aconteceria se fosse proferida hoje. Também, considero que há pontos de convergência entre o pensamento do Dr., Francisco Amaral Borges e o dos vegetarianos de hoje, sendo o principal a fé na possibilidade de haver um mundo novo melhor para todas as criaturas.

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 31007, 10 de agosto de 2016, p.16)

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

MARCONI


MARCONI, O CIENTISTA QUE VISITOU O FAIAL

Na minha qualidade de professor de Física e Química, sempre que lecionava a disciplina de Física ao 12º ano de Escolaridade organizava visitas de estudo às instalações da Companhia Portuguesa Rádio Marconi.

As visitas tinham sempre dois objetivos principais: fazer com que os alunos entrassem em contacto com engenheiros eletrotécnicos e mecânicos, ficando a conhecer uma das possíveis saídas profissionais e contatar aplicações práticas de conteúdos lecionados nas aulas, nomeadamente os relacionados com lançamento de satélites, o movimento destes e as comunicações à distância.

Fruto da evolução científica e tecnológica, a funções desempenhadas pela referida empresa deixaram de ter importância em termos de comunicações e as instalações foram sendo progressivamente desativadas. Por tal motivo, penso que uma das últimas visitas que fiz foi em 2002 com alunos da Escola Secundária da Ribeira Grande.

Mas, quem foi Marconi e que contributo deu para a ciência?

Guglielmo Marconi foi um físico e inventor italiano que nasceu em Bolonha a 25 de abril de 1874 e faleceu, subitamente, em Roma a 20 de junho de 1937.

Depois de o seu trabalho ter sido contestado nos Estados Unidos da América, nomeadamente por não ter descoberto nenhum aparelho, o seu mérito acabou por ser reconhecido, tendo, em 1909, recebido o Prémio Nobel da Física, juntamente com o físico alemão Karl Ferdinand Braun que descobriu os semicondutores e a quem se deve o aperfeiçoamento dos transmissores de Marconi.

O que fez então Marconi para ver reconhecida a sua obra científica?


Utilizando e aperfeiçoando instrumentos criados por outros cientistas e fazendo recurso de conhecimentos de outros, nomeadamente de Heinrich Hertz, físico alemão, que produziu pela primeira vez ondas eletromagnéticas em laboratório, Marconi realizou um conjunto de experiências que tornaram possível o estabelecimento de comunicações entre dois pontos distantes não ligados entre si por fios condutores.

Assim, em 1895, Marconi conseguiu estabelecer comunicações entre dois pontos distantes de 3 km, em1897, estabeleceu a comunicação entre La Spezia e um navio de guerra italiana que estava a 18 km de distância, em 1899 fez a transmissão entre a França e Inglaterra, distanciadas entre si de cerca de 50 km, em 1901, estabeleceu a primeira comunicação intercontinental, entre a Inglaterra e o Canadá e, em 1924, conseguiu a transmissão “da palavra humana” entre a Inglaterra e a Austrália.

Viajando no seu iate, Marconi, em 1922, esteve na ilha do Faial. No dia antes da largada daquela ilha, a Câmara Municipal da Horta prestou-lhe uma grande homenagem, tendo-o proclamado como cidadão honorário.



Teófilo Braga