quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Serpentinas



SERPENTINAS

Quando era criança as pessoas, na Ribeira Seca de Vila Franca do Campo, davam o nome de serpentina a duas espécies de plantas diferentes, pertencentes à mesma família, embora com algumas semelhanças no que respeita às suas folhas.
As duas espécies em causa são a serpentina ou serpentina-mansa ou serpentinhola ou jarroca ou saprintina ou jarro (Arum italicum), nativa do Sul e Oeste da Europa, da qual se extraia uma “farinha” que era e ainda é usada na alimentação e o jarro ou serpentina-brava (Zantedeschia aethiopica), nativa do Sul de África, cujas flores eram e são usadas para ornamentar as casas, igrejas ou enfeitar os caminhos aquando das procissões.
O padre Ernesto Ferreira, no capítulo “Plantas Maravilhosas” do seu livro “A Alma do Povo Micaelense” menciona o facto de a serpentina ser usada para prever “se o ano agrícola será farto ou não”.
Segundo o referido sacerdote, para chegar ao resultado final eram seguidos alguns passos que a seguir se transcrevem:
“Tiram-lhe os aldeões a espata, em janeiro, quando a inflorescência deve ter atingido o seu maior grau de desenvolvimento, e o espadice dividem-no em três secções. Se a primeira, isto é, a inferior, está bem desenvolvida, haverá muita fava; se a segunda, ou a do meio, é que está bem desenvolvida, haverá muito trigo; e se é a terceira, ou a superior, haverá muito milho. Se é perfeito o estado das três secções, haverá muita fava, muito trigo e muito milho”.
Como o mês referido é janeiro e como, de acordo com a bibliografia consultada, a serpentina floresce nos meses de Abril e Maio, penso que o Padre Ernesto Ferreira terá feito referência ao jarro (Zantedeschia aethiopica), que floresce de Novembro a Junho, e não à serpentina (Arum italicum).
Em criança, também por várias vezes, comi as papas de serpentina (Arum italicum) cuja farinha era produzida por algumas pessoas na Ribeira Seca, de que me lembro as duas irmãs Almirantina “Trovoa” e Antónia “Trovoa”.
Muitos anos depois, cheguei a ir à Ribeira Chã, a uma das famosas feiras gastronómicas já realizada após o falecimento do Padre Caetano Flores, apenas para voltar a comer as papas de serpentina e pouco tempo depois comprei, também na Ribeira Chã, alguma farinha para usar em casa.
Passados cerca de 40 anos, em conversa com o Manuel Francisco, filho e sobrinho das pessoas mencionadas, e com meu primo José Fernando Araújo fiquei a saber que as minhas tias Laurentina e Maria do Carmo Braga também preparavam a farinha de serpentina e que ainda hoje há quem o faça na Ribeira Seca.
Vários autores têm ao longo do tempo feito menção à serpentina.
 Edmond Goeze, que foi diretor do Jardim Botânico de Coimbra e que se deslocou a São Miguel, em 1866, tendo aproveitado para levar para o jardim Botânico de Coimbra mais de 800 espécies, numa brochura editada em 1867, atualizou uma lista de plantas herbáceas da autoria do naturalista francês Morelet.
Da mencionada lista fazem parte a serpentina e o jarro. Da primeira planta escreve Goeze que da sua raiz se extrai uma ótima fécula e da segunda menciona o seu uso para alimento de porcos.
Em 1871, Acúrcio Garcia Ramos escreve que a serpentina “é muito vulgar nos logares frescos e húmidos  que se emprega na sustentação de animaes, e de cuja raiz de extrae uma fécula excelente”.
 Por sua vez Gabriel d’Almeida, em 1893, escreve que da “raiz” da serpentina se extrai fécula “que é empregada geralmente no sustento dos animaes” e enquanto o jarro “serve para sustentar porcos”.
Na pesquisa que efetuei na Ribeira Seca, várias das pessoas contatadas afirmaram que para alimentar os porcos, toda a planta dos jarros (caules, folhas e tubérculos), tinha de passar por uma cozedura.
Desconheço com quem o povo aprendeu, mas uma coisa é certa, sem o cozimento a planta seria extremamente tóxica para os animais.
Teófilo Braga

(Correio dos Açores, nº 2934, 30 de Outubro de 2013, p.16)

terça-feira, 22 de outubro de 2013



POR UMA MERECIDA HOMENAGEM AO
PROFESSOR EDUARDO CALISTO AMARAL

Durante vários anos o professor Eduardo Calisto do Amaral coordenou uma equipa de professores que foi pioneira na integração da Escola da Ribeira Seca com a comunidade onde esta se inseria.
De entre as inovações introduzidas, a título de exemplo, destacamos as Festas Anuais Escolares, as marchas de São João quando a Vila não as fez e a construção de uma “piscina” para a aprendizagem da natação. Digno de registo foi, também, a cedência das instalações da escola, sem exigências formais, a um grupo de jovens para a prática da atividade desportiva.
Atendendo a que:
1-      Não aceitamos que o patrono da nossa escola seja um professor que teve uma passagem fugaz pela mesma;
2-      O senhor professor Eduardo Calisto Amaral foi diretor da Escola da Ribeira Seca durante muitos anos;
3-      O senhor professor Eduardo Calisto Amaral, pelo seu trabalho, dedicação e maneira de ser marcou profundamente os seus alunos e pela sua facilidade em se relacionar com os outros granjeou a simpatia da comunidade que tão bem soube servir.

Nós, antigos alunos daquela escola, pais de alunos da mesma, moradores da Ribeira Seca e Vilafranquenses espalhados pelos quatro cantos do mundo, vimos apelar a Vossas Excelências para que revejam a imponderada deliberação tomada há alguns anos, atribuindo o nome de Eduardo Calisto do Amaral à escola do primeiro ciclo da Ribeira Seca.

Os primeiros signatários:

- Teófilo José Soares de Braga
- Maria Antónia Fraga
- Berta dos Anjos Cabral Raposo


domingo, 20 de outubro de 2013



Eleitores ladrões

Hoje é dia de eleições em Vila Franca do Campo e às urnas irão bons e maus cidadãos, gente honesta e desonesta, pessoas respeitadoras do património alheio e ladrões.
Ontem, quando me preparava para colher castanhas de uns castanheiros que tenho na Ribeira Seca, senti umas vozes que provinham do local onde eles se encontram. Como já havia sido ameaçado de morte por alguém que não consegui identificar e que estava a cortar uma criptoméria que me pertencia, por prudência decidi não me aproximar do local.
Assim, fiquei à espera para tentar identificar os amigos do alheio. Passados alguns minutos, vi que dois indivíduos que não têm propriedades na zona e que não consegui identificar traziam três sacos de plástico com castanhas.
Na tentativa de os identificar, deixei-os passar na esperança de que fossem identificados pelos populares que normalmente se encontram no Canto da Cruz e ao fim de alguns minutos desci até ao centro da freguesia e qual não foi o meu espanto quando os vi entrar numa moradia na rua da Cruz.
Depois de um deles ser identificado, fiquei a saber que é filho de “boas famílias” e que é casado com uma senhora que também é filha de “boas famílias”.
Mas como nem sempre o ditado “tal pai tal filho” é para ser levado à letra fiquei a saber por uma pessoa da família que um deles era um malandro, um drogado, que vivia à custa de dinheiro do estado e já agora, também, do meu.
Hoje, vão comemorar a eleição do presidente da Câmara de Vila Franca do Campo, comendo as minhas castanhas e bebendo à custa dos meus impostos.
São coisas desta falsa democracia permissiva, onde quem não come à custa dos outros tem a vida dificultada.
Sou roubado pelos de cima (Estado) e sou roubado pelos de baixo que contam com a complacência daqueles.
Teófilo Braga
Nota- Não quero ofender a gente honesta da rua da Cruz, mas se colocasse aqui o número da porta era capaz de ser processado por ofender o “bom nome” que qualquer ladrão acha que deve ter.