segunda-feira, 17 de abril de 2017

A Terceira Morte de Alice Moderno



A terceira morte de Alice Moderno

Se é verdade que ninguém sozinho consegue alterar seja o que for, também é verdade que há pessoas que pelo seu empenho e capacidade de liderança são capazes fazer com que outros se motivem para agir em prol de ideais sejam eles quais forem.

Alice Moderno foi uma das pessoas que, para além de apoiar os seus semelhantes mais desfavorecidos, dedicou grande parte da sua vida à causa animal, através da sua dedicação à Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, de que foi uma das fundadoras e sua presidente durante décadas.

A professora doutora Conceição Vilhena, aquando do incêndio que deflagrou na Universidade dos Açores, em 1989, e destruiu o seu espólio, escreveu uma pequena nota, no Correio dos Açores, intitulada “Alice Moderno morreu pela segunda vez”, onde afirmou:

“Alice Moderno morreu hoje, pela segunda vez. Uma grande mulher: forte, inteligente, culta, trabalhadora, bondosa. Que a casa do Gaiato de S. Miguel, comprada com o seu dinheiro, a não esqueça. Que todos aqueles que condenam a crueldade para com os animais, continuem a sua obra a favor dos mais fracos. Que todas as mulheres lhe prestem homenagem, conservando-a bem viva na sua memória.”

A terceira morte de Alice Moderno, esta a ocorrer todos os dias. Hoje a casa do Gaiato, nas Capelas já deu lugar a outro projeto, o Hospital Alice Moderno também já desapareceu e durante muito tempo não serviu para os fins destinados por Alice Moderno no seu testamento, a Assembleia Legislativa Regional depois de lhe prestar homenagem aprovou uma lei que, por um lado reconhece que o abate dos animais nos canis não é o método adequado para o seu controlo mas, por outro lado, adia a entrada em vigor para 2022.

Penso que este prazo dilatado não faz qualquer sentido se as entidades governamentais e as autarquias começassem a trabalhar a sério em campanhas de sensibilização e de esterilização de animais ditos de companhia.

Além disso, uma Região que apregoa ser pioneira na implementação de várias medidas não pode alegar que não é possível acabar com os abates sistemáticos quando a nível nacional aqueles serão proibidos definitivamente a partir de 2018.


Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31208, 18 de abril de 2017, p.17)

sexta-feira, 14 de abril de 2017

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Ladrões em Vila Franca do Campo e não só


Através de um texto publicado no jornal “A Crença”, no passado dia 24 de fevereiro, fiquei a saber que infelizmente não sou o único a ser vítima de roubos de fruta. Com efeito, segundo Pedro Costa, autor do texto referido, muitos agricultores o têm procurado no sentido de se juntarem e agirem contra os amigos do alheio.

No que me diz respeito tenho duas situações que denuncio: o roubo de fruta em quantidades que creio que não seja para consumo próprio e a destruição de plantações sobretudo de fruteiras por parte de cabras cujos donos, sem terrenos para as pastar, usam e abusam da propriedade alheia, sem que, até hoje, todas as denúncias efetuadas tenham feito com que a situação se alterasse.

No passado, todas as denúncias feitas às autoridades resultaram em represálias, como destruição de ordenhas, roubo de rolos de erva e morte de animais, pela calada da noite, pelo que o apelo de Pedro Costa para que as pessoas apresentem queixa, embora correto, pois ninguém deve fazer justiça pelas próprias mãos, poderá não ser seguido por muitos que já conhecem bem a impunidade que têm gozado os larápios. Igualmente é de repudiar o dito medo dos compradores de fruta roubada em denunciarem os vendedores da mesma pois nalguns casos trata-se de conivência com o roubo, pois dá-lhes jeito comprar fruta mais barata ou quase dada.

No que diz respeito aos prejuízos causados pelas cabras, estamos perante a ausência de medidas por parte das entidades oficiais conducentes à proibição da existência de rebanhos por parte de pessoas que, não tendo terrenos para as mesmas pastarem, vivem à margem da lei. Com efeito, não respeitando o trabalho dos outros colocam os rebanhos em pastagens ou em quintas, onde comem a erva destinada às manadas dos proprietários e rendeiros ou destroem pequenas árvores, quer comendo as folhagens quer roendo as cascas das mesmas.

A situação que se vive não é inédita, tendo, em 1999, sido denunciada pela Associação Agrícola de São Miguel e pelo extinto Partido Democrático do Atlântico. De acordo com o PDA, naquele ano, as explorações caprinas onde existia qualidade sanitária não atingiam 5 por cento da produção de queijo de cabra produzido em São Miguel.

Para Joaquim Cabral, dirigente do referido partido, a forma de resolver o problema passava pelo seguinte: “Basta procurar junto dos pastores qual é o seu efetivo de cabras, quanto pasto é necessário para alimentá-las durante o ano e quantos alqueires possuem seus ou de renda. Depois, procurar junto dos lavradores e proprietários de terras ou quintais as razões das queixas. Por fim, obrigar ao abate de todas as cabras cujos cabreiros não tenham possibilidade de as alimentar nos seus pastos”.

No início de 1928, o Correio dos Açores denunciava situações semelhantes às de hoje e nos seguintes termos: “Com uma inaudita audácia, os cabreiros a tudo chamam seu, destruindo os tapumes, fazendo comer as ervas e as arvorezinhas, ameaçando aqueles que pretendem velar pelo que lhes pertence, exercendo represálias sobre quanto respeite àqueles que promoveram o justo castigo…”

Hoje, embora não tenha dados oficiais, penso que haverá muito menos rebanhos ilegais, o mesmo acontecendo com produtores de queijo desrespeitadores das leis em vigor, pelo que bastava que fossem punidos severamente e pagassem todos os prejuízos causados para pensarem duas vezes antes de colocarem os animais, que não têm culpa nenhuma das bestas dos donos que têm, em terrenos que não lhes pertencem.

Mas, tão ou mais grave do que a destruição do património vegetal é a persistência no fabrico e venda de queijo, desconhecendo-se as condições higiénicas em que o mesmo é feito e se os animais estão ou não saudáveis.

Espero que este texto seja lido por quem de direito e que sejam tomadas as devidas providências para bem de todos.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31204, 12 de abril de 2017, p. 14)