terça-feira, 27 de setembro de 2016

A Ulmeiro e os Açores


A Ulmeiro e os Açores

Tal com tem acontecido ultimamente, sempre que por algum motivo me desloco a Lisboa, visito a Livraria Espaço Ulmeiro que foi fundada em 1969.

Desta vez, para além da aquisição de revistas, que nunca tiveram circulação nos Açores ou que chegaram cá apenas para meia dúzia de interessados, e de livros de autores açorianos ou sobre a nossa terra que se encontram esgotados, procurava informações sobre o conceito de Escola Comunitária que terá sido implementado em Portugal na década de 60 do século passado.

Der acordo com informação colhida até ao momento, nos Açores, terão funcionado algumas Escolas Comunitárias no Faial, em São Jorge, na Terceira, em São Miguel e em Santa Maria. Do grupo central “dirigente” das Escolas Comunitárias fez parte a faialense Yolanda Corsépius e como colaborador figurava José Antunes Ribeiro então ligado à ITAU e hoje editor e livreiro da Livraria Espaço Ulmeiro.

No que diz respeito à ligação entre a Ulmeiro e os Açores tomei conhecimento de que a mesma editou, entre outras, algumas obras de Antero de Quental, como “O que é a internacional (1980), “Tendências Gerais da Filosofia na Segunda Metade do Século XIX” (1982) e “Causas da decadência dos povos peninsulares” (1987), de Teófilo Braga editou “História do Romantismo em Portugal” (1984), de Álamo de Oliveira editou “Triste Vida Leva a Garça”(1984) e de Ivone Chinita editou “Peste Malina” (1983).

Durante a minha visita à Livraria descobri a revista “Pensamento” que, em 1932, no terceiro ano da sua publicação se apresentava como órgão do Instituto de Cultura Socialista, sendo propriedade do Grupo Editor “Pensamento” e mais tarde, em 1938, se anunciava como “revista quinzenal de divulgação social e científica, arte e literatura”, sendo seu proprietário António Martins., embora mantivesse a mesma linha editorial.

O número 27 da revista trazia, entre outros artigos, um extrato das Conferências do Casino, de Antero de Quental, e o número cento e quatro um texto de Júlio de Almeida Carrapato intitulado “Em torno da arte social de Antero”.

Neste texto, o autor escreve que, segundo Antero de Quental, “não é de Poesia que a humanidade precisa: é de ideias” e cita “Afinal, aquilo de que o mundo mais precisa, nesta fase de extraordinário obscurecimento da alma humana, é de ideias, é de filosofia”…”e a Poesia, voltando a adormecer nos recessos mais misteriosos do coração do homem, tem de ficar à espera até que o novo símbolo se desvende e novas Ideias lhe forneçam um novo alimento, lhe insuflem nova vida… e então voltará a cantar.”

Em Antero há quem queira destacar o santo. O autor referido escreve, citando o próprio Antero, que o grande homem vale mais do que o santo” e também refere: “Para a mocidade, creio-o profundamente, a faceta de mais interesse na complexa personalidade de Antero não é a do schopenhauriano pessimista mas outrossim a do revolucionário e herói altruísta e profundo”.

Nesta minha visita, que é quase uma peregrinação periódica, também fiquei a saber que a Ulmeiro manteve relações com a cooperativa Sextante. Esta foi fundada em 1970 por Eduardo Pontes, Jorge Lopes e Manuel Barbosa e foi extinta em 1971, segundo a historiadora Irene Pimentel, por decisão do Conselho Superior de Segurança Publica, por proposta da Direção Geral de Segurança, acusada, tal como as restantes que também foram obrigadas a fechar a porta, de “instigação a desobediência coletiva às leis”.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31049, 28 de setembro de 2016, p.18)

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Thomaz Hickling e a proteção às aves (II)


Thomaz Hickling e a proteção às aves (II)

Neste texto, continuarei a apresentar as razões que levaram Thomaz Hickling a não estar de acordo com o combate aos chamados “pássaros daninhos”.

Depois de ter citado um autor norte-americano, Thomaz Hickling menciona o agrónomo
Bernardino de Saint Pierre que depois de referir que os insetos daninhos podem arruinar os grãos e os frutos e as próprias pessoas acrescenta que “os pássaros dos bosques são suficientes para limpar os campos, contanto que se proíba os passarinheiros apanhá-los”

Thomaz Hickling na segunda parte do seu texto, apresenta, por ordem decrescente as dez principais causas dos prejuízos agrícolas, na ilha de São Miguel, que são as seguintes:
1- O Homem, que corta e arranca e não replanta;
2- A alforra;
3- A seca;
4- As chuvas;
5- Os ventos;
6- O rocio;
7- Os bichos (insetos);
8- Os ratos;
9- A ignorância, considerada dez vezes mais prejudicial do que os pássaros;
10- Os pássaros.
Thomaz Hickling, não negando os danos causados pelos pássaros, não admite “a impropriedade d’eleger um mal maior para evitar um menor” e acrescenta que não conhece nenhum meio tão eficaz como os pássaros “para a extinção de bichos e insetos”.

Por último, Thomaz Hickling lançou o seguinte desafio, que terá caído em saco roto:

“Á vista de todo o sobredito, quisera eu que se convocassem de dez até vinte lavradores de todos os pontos da ilha perante uma Comissão formada d’alguns Senhores Membros da Associação Agrícola Micaelense, para responderem separadamente, e sem uns ouvirem os outros, aos dez quesitos apontados, insistindo-se com especialidade no décimo, e exigindo d’eles que declarem em suas consciências, se entendem que o mal produzido pelos pássaros é ou não extenuado por alguma utilidade. Por este modo ou será confirmada a Sentença contra os pássaros, ou serão absolvidos, poupando-se tanto trabalho e tantas despesas.”


Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31048, 27 de setembro de 2016, p.18)

Fotografia: Diogo Caetano

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

A ilha Verde de Maria Lamas


A ilha Verde de Maria Lamas

Acabei de ler o romance “A Ilha Verde” da autoria da escritora Maria Lamas, bem como extratos do seu livro “As mulheres do meu país”. Em ambas as obras a autora, que conheceu muito bem os Açores, onde foi sempre muito bem recebida, fala da nossa terra como uma açoriana que sente orgulho na sua terra, não ignorando aquilo que merece ser melhorado.

Antes de fazer algumas referências ao citado romance, apresento uma breve nota biográfica da autora.

Maria da Conceição Vassalo Lamas foi uma escritora, tradutora, jornalista e uma cidadã que interveio quer cívica quer politicamente tanto durante o Estado Novo quer após o derrube deste. Nasceu em Torres Novas, a 6 de outubro de 1893 e faleceu aos 90 anos, em Lisboa, a 6 de dezembro de 1983.

De acordo com João Mário Mascarenhas, antigo diretor da Biblioteca-Museu República e Resistência, Maria Lamas foi “uma Mulher que nunca vacilou na defesa dos direitos humanos e políticos em Portugal e se bateu – de forma energética – pela plena assumpção da igualdade de oportunidades – num Portugal retrógrado que penalizava os seus melhores e perseguia politicamente com o exílio, o desterro e a prisão aqueles que ousavam levantar a sua voz contra a guerra, as torturas, as indignidades, o analfabetismo e a discriminação social, sobretudo das mulheres”.

Tendo vivido intensamente o 25 de abril de 1974, depois daquela data aderiu ao PCP. Foi presidente honorária do Movimento Democrático das Mulheres, desde 1975, e dirigiu a revista “Mulheres”, criada em 1976. A 25 de abril de 1980 recebeu, das mãos do presidente da República, General Ramalho Eanes, a Ordem da Liberdade.


O livro “A Ilha Verde”, editado em 1938, pela Editorial “O Século”, para além de ser “um romance de amor intenso que decorre no cenário maravilhoso da ilha de S. Miguel” é um autêntico roteiro do património cultural e natural, onde a autora refere os principais pontos turísticos da ilha, menciona algumas tradições e aborda, ao de leve, alguns aspetos da sociedade micaelense, como a pobreza, a emigração, a relação entre os “senhores” da ilha e os restantes habitantes, etc.

Sobre os Açores, Maria Lamas escreve: “ilhas de fantástica beleza, adormecidas ainda na serenidade do mistério inicial, quási ignoradas do grande turismo que tudo vulgariza”.

Os romeiros são, segundo a autora, “figuras primitivas, arrancadas a velhos retábulos, evocações vivas dos peregrinos de antanho, a correr mundo em romagem de penitência e humildade”.

A procissão dos enfermos do Vale das Furnas é também descrita com pormenor. Sobre o assunto, Maria Lamas escreve: “Cada morador toma a seu cargo a extensão de rua correspondente à casa em que habita, e as azáleas de todas as cores, que mal desponta abril, transformam o Vale das Furnas em jardim magnífico, vêm, aos braçados, cobrir o chão por onde há-de passar Aquele que, um dia, ensinou aos homens o sentido universal da palavra irmão”.

Muito mais poderia mencionar neste texto, como a procissão do Senhor Santo Cristo, um império do Espírito Santo em Rabo de Peixe ou uma subida à Lagoa do Fogo de burro, a partir de Água de Pau, mas por razões de espaço termino com a seguinte referência ao ilhéu de Vila Franca do Campo: “A caldeira circular, que lhe fica no interior e onde a água do mar tem a serenidade e a transparência de um lago, tudo suplanta. O entusiasmo foi geral. Mais bela piscina natural ninguém tinha visto”.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31043, 21 de setembro de 2016, p.18)

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Thomaz Hickling e a proteção às aves (I)



Thomaz Hickling e a proteção às aves (I)

Em texto anterior fiz referência à iniciativa da Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense (SPAM) de combater os “pássaros daninhos”. Na altura, o Padre João José do Amaral divulgou, no jornal daquela organização “O Agricultor Micaelense”, dois textos de publicações estrangeiras contra aquela prática.

No mesmo jornal, também, se manifestou contra Thomaz Hickling que apresentou vários argumentos para justificar a sua opinião baseada em reflexões pessoais “corroboradas com autoridades não suspeitas”.

Depois de afirmar que tinha “por indubitável que, em vez de deverem reputar-se “Praga” os habitantes do ar, a eles somos devedores da maior, e até da melhor parte de nossas colheitas”, Thomaz Hickling sintetiza as suas razões no texto seguinte:

“Os pássaros, além da deliciosa harmonia dos seus gorjeios, em que desde a primavera até certo tempo nos enlevam, e mimoseiam, parecendo proclamarem as obras maravilhosas da criação, e a glória excelsa do Criador, ocasionando ao homem a elevação da sua alma à contemplação das cousas Divinas, alimpam os campos da inumerabilidade d’insetos, e vermes, que os infestam; compensando d’esta arte, e mui abundantemente, o insignificante mal, que produzem, o qual nunca é tanto como o que d’ outras causas é proveniente”.

O primeiro perito na matéria citado por Thomaz Hicking é o americano Jorge Emerson que refere que os pássaros são aliados do homem, nos seguintes termo: “Há muitas espécies de pássaros, cujo auxílio é indispensável à subsistência humana, e aos quais, por nossa ignorância, e perversidade, fazemos guerra, como se fossem nossos inimigos”.


Outro autor norte-americano, cujo nome não é referido, depois de afirmar que “se não houvesse aves, que refreassem esses enxames d’insetos vorazes, que nos circundam, é crível que seria inabitável o nosso país”.
(continua)

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31042, 20 de setembro de 2016, p.18)

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

A propósito das pragas no século XIX


A propósito das pragas no século XIX

Há diferentes definições para o vocábulo praga. Caroline Faria na página brasileira InfoEscola escreve que “Praga biológica é um termo que pode ser utilizado para designar organismos que, quando se proliferam de forma desordenada ou fora de seu ambiente natural, podem causar algum tipo de dano ao ambiente, às pessoas ou à economia”.

Entre nós, no século XIX, o termo praga, segundo Francisco Maria Supico era usado para designar “as aves daninhas à agricultura”. Francisco Supico no jornal “Persuasão”, publicado no dia 4 de setembro de 1895, refere que a Câmara Municipal de Ponta Delgada, em 1839, “premiava com razoável quantia quem lhe apresentasse cada dúzia de bicos daquelas aves, que se inutilizavam cuidadosamente para evitar burlas”. Ainda de acordo com a mesma notícia, em 1895, a praga já não eram as aves mas os ratos.

Através da “Persuasão”, de 8 de julho de 1896, fica-se a saber que a perseguição às aves já se fazia no século XVIII, existindo uma postura em cuja certidão, passada a 13 de maio de 1792, obrigava a “que todos os lavradores hortelões, ou quaisquer outras pessoas sem exceção que cultivarem terras, quintas, vinhas ou matas, ou sejam próprias ou por arrendamento, tragam à Câmara duas cabeças de pássaros por cada um alqueire de propriedade que assim lavrarem ou cultivarem, até ao fim do mês de junho de cada um ano, com pena de pagarem 10 reis por cada uma das cabeças com que faltarem até à quantidade de dois moios de terra, ou de qualquer outra propriedade que tiverem por sua conta”.

Muitas posturas se seguiram até ao último ano em que a Câmara de Ponta Delgada cobrou o imposto de praga. De acordo com Supico, tal ocorreu no ano de 1875-1876, sendo o valor recebido de 296554 reis.

Mas, que aves eram incluídas na categoria de praga?

Ainda de acordo com a mesma fonte, no século XVIII todas as aves “eram condenadas ao extermínio”, na postura de 1824 não eram abrangidas “as codornizes, galinholas e perdizes, “para caça da mocidade que devesse dar-se a esse entretenimento nobre”” e na última, a de 1842, eram perseguidos o canário, o melro-negro e o tentilhão.

Em relação ao número de aves mortas, em Ponta Delgada, o Açoriano Oriental estimava que “para mais de 40 000 cabeças de praga daninha foram entregues às chamas”, em 1851. Em 1854, foram queimados, em Ponta Delgada mais de 100 000 “bicos de praga daninha” e no ano seguinte só entre 1 de janeiro e 23 de fevereiro foram queimados 39 067 bicos.

Mas os massacres não ocorreram só em Ponta Delgada, por exemplo em Vila Franca do Campo no ano de 1834 foram mortas 32 968 aves, em 1835, 18 109, e em 1836, 39 247.

Francisco Maria Supico, na Persuasão do dia 14 de setembro de 1898, menciona o “brutal e perigoso emprego de veneno”, arsénico, para ajudar no combate às aves durante alguns anos. Segundo ele “a selvajaria do emprego do arsénico para matar pássaros, não continuou. Desde logo se lhe reconheceriam os grandes perigos”.

A perseguição às aves não mereceu a unanimidade da sociedade micaelense, não tendo merecido a aceitação por parte do Padre João José do Amaral e de Tomaz Hickling.

A propósito da contestação ao combate à praga, Francisco Maria Supico escreveu:

“Tantos anos decorreram e tantas gerações se sucederam a praticar estes dois males: matar inocentes e cercear interesses agrícolas.

Porque afinal veio a conhecer-se que é menor o mal causado pelos pássaros do que o benefício que eles produzem nutrindo-se da bicharada que se desenvolve nos terrenos”

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31037 de 14 de setembro de 2016, p. 16)

terça-feira, 13 de setembro de 2016

A Tração animal no século XIX


A Tração animal no século XIX

Durante séculos, algumas pessoas e associações lutaram contra o abuso de que eram vítimas os animais usados para puxar carroças, muitas vezes famintos e doentes.

Entre nós, a Sociedade Micaelense Protetora dos Animais fundada, entre outros, por Alice Moderno e Maria Evelina de Sousa, dedicou os primeiros anos da sua existência a procurar melhores condições para sobretudo bois e cavalos, quer alertando as autoridades para os maus tratos de que eram vítimas, quer combatendo o uso da aguilhada, quer propondo a melhoria dos caminhos por onde passavam os veículos de tração animal.

Hoje, apesar da evolução dos meios de transporte, os animais continuam a ser usados para transporte de cargas, muitas vezes superiores às suas forças, pelo que algumas organizações continuam o combate pela sua libertação da exploração e maus-tratos.

Outras entidades, entendem que os animais não-humanos não devem ser objeto de posse nem de propriedade pelo que, por princípio, recusam o seu uso para qualquer fim, como é o caso da tração animal, circos, touradas, etc.

No século XIX, a situação era um pouco diferente. Assim, se lermos “O Agricultor Micaelense”, de 1844, concluiremos que para além da questão dos caminhos também se defendia a construção de carros mais adequados. Assim, enquanto uns diziam que “carros d’outra qualidade…não podem resistir a caminhos tão maus; nem os bois tinham forças par os puxar por uns pisos tão descompostos e bravios”, outros argumentavam “que é um errado pressuposto o cuidar-se, que não se haveriam melhor com os caminhos ruins os carros bons do que os maus”.

A terminar, o autor do texto defende “que antes e primeiro de tudo, nós nos devemos arremessar aos carros e obriga-los por todo os modos, pela persuasão e pela força, a transformar-se e civilizar-se para interesse comum dos viandantes e transportes; e até para benefício dos bois, de seus condutores e de seus donos”.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31036, 13 de setembro de 2016, p.16)

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Maria Machado uma açoriana resistente ao Estado Novo


Maria Machado uma açoriana resistente ao Estado Novo

Maria Machado (1890-1958), que usou o pseudónimo de Rubina, foi uma professora primária natural da ilha de São Jorge, tendo sido, de acordo com Pedro Benjamim, um dos mais destacados dirigentes do PCP – Partido Comunista Português, oriundo dos Açores, durante o Estado Novo.

Maria Machado nasceu na Vila da Calheta, a 25 de Fevereiro de 1890, tendo-se destacado, segundo o jornal Avante, de 26 de fevereiro de 2015, “desde muito cedo pelo seu empenhamento no combate contra a ignorância e o obscurantismo, que grassava não só nos Açores como por todo o País. Assumindo o ensino como ferramenta essencial para a aquisição de consciência social e cultura integral, Maria Machado funda uma biblioteca para os alunos da escola, que logo abre à restante população”

De São Jorge Maria Machado ruma a Lisboa onde nas escolas onde trabalhou utiliza os mesmos métodos inovadores baseados nos princípios da «Escola Activa» que já utilizava na sua terra.

Foi detida pela PVDE pela primeira vez a 1 de agosto de 1936 por ser professora de Português na Liga dos Esperantistas Ocidentais, que segundo as autoridades era “considerada um baluarte do PCP e das Juventudes Comunistas”. Esteve presa na Cadeia das Mónicas entre Setembro e Dezembro daquele ano.

Depois de ter viajado para os Açores em 1937, no ano seguinte instala-se em Paris onde desempenha tarefas no Comité da Frente Popular Portuguesa e foi delegada do PCP junto do PCF – Partido Comunista Francês.

Regressou a Portugal em 1942, tendo a partir de então ficado ligada às tipografias clandestinas do Avante.

Maria Machado é conhecida na história do PCP pelo facto de ter conseguido queimar toda a documentação existente na casa onde estava instalada uma tipografia clandestina do órgão oficial daquele partido, o jornal Avante, na localidade de Barqueiro, perto de Alvaiázere.

No assalto à tipografia que ocorreu em 1945, Maria Machado sacrificou-se, permitindo que, para além da destruição de documentos comprometedores, se salvassem outos dois militantes clandestinos.

De acordo com Ana Barradas, Maria Machado no seu percurso até ao posto da GNR aproveitou para informar as pessoas que não eram gatunos, mas gente amiga do povo e honrada. Durante o interrogatório, recusou-se a prestar declarações “por dever de comunista e por respeito à sua própria pessoa”.

Fernando Gouveia, no seu livro “Memórias de um inspector da PIDE 1. A organização clandestina do PCP”, que desvaloriza a importância de Maria Machado, afirmando a dado passo que era uma “senhora já com boa idade para ter juízo”, não nega que ela enganou o cabo da GNR, permitindo assim a fuga de dois militantes.

Na sequência deste caso, Maria Machado foi no ano seguinte, 1946, condenada a vinte e dois meses de prisão.

Para além desta prisão, Maria Machado voltou a ser presa em dezembro de 1953, sendo libertada em janeiro de 1954, tendo ocorrido o mesmo em Abril de 1954, tendo sido libertada em outubro do mesmo ano.

Proibida de ensinar, para sobreviver teve de se empregar como governanta numa casa particular e bordar tapetes de Arraiolos.

Faleceu a 4 outubro de 1956, depois de ter visto a sua saúde muito debilitada como resultado de privações e torturas.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31031 de 7 de setembro de 2016, p.16)