domingo, 30 de dezembro de 2018

José Henrique Borges Martins, o Ferreirinha das Bicas e o Bravo



José Henrique Borges Martins, o Ferreirinha das Bicas e o Bravo

Neste último texto da rubrica que intitulei “Com os pés na terra”, que foi publicada no Correio dos Açores, entre 13 de abril de 2011 e 9 de outubro de 2018, e depois desta data no meu blogue “Pois alevá…diário de um professor”, em virtude de naquele jornal, sem qualquer explicação, não ter sido publicado um texto sobre Paulo Freire, farei uma singela homenagem ao poeta terceirense José Henrique Borges Martins e a dois improvisadores da ilha Terceira que ele tão sabiamente acarinhou e de algum modo os imortalizou, Francisco Ferreira dos Santos (o Ferreirinha das Bicas) e Manuel Borges Pêcego (o Bravo).

José Henrique Borges Martins que comigo esteve presente em diversas reuniões, onde um grupo de cidadãos preparou a criação, em Angra do Heroísmo, de um jornal independente dos poderes instalados, o “Directo”, que foi dirigido pelo meu colega da Escola Secundária Padre Jerónimo Emiliano de Andrade, António Neves Leal, foi um poeta de mérito e um destacado investigador da cultura popular, tendo elaborado, entre outos, e publicado trabalhos sobre os cantadores e improvisadores populares e sobre crendices e feitiçarias.

Para além de dar o seu contributo ao “Directo”, Borges Martins, que combateu o Estado Novo com a sua poesia, colaborou com o extinto jornal “A União” e com o “Jornal da Praia”.

Com os livros “Cantadores e improvisadores da ilha Terceira”, de 1984, e “Improvisadores da Ilha Terceira. suas vidas e cantorias”, de 1993, Borges Martins homenageou alguns heróis do povo, os cantadores populares.

De entre eles, destacamos o Ferreirinha das Bicas que terá sido, segundo alguns, o maior de entre eles, e o Bravo que foi um homem livre e que por isso teve problemas com as autoridades por dizer verdades que as incomodavam.

O Ferreirinha das Bicas nos seus improvisos mostrou preocupações sociais e denunciou as desigualdades e a sociedade hipócrita onde vivia.

As duas quadras abaixo ilustram bem o pensamento do seu autor:

Vai preso quem rouba um pão
Por sua necessidade,
Mas quem rouba meio milhão
Passeia pela cidade

Eu conheço falsos sábios
Que pregam religião
Que mostram Cristo nos lábios
E o diabo no coração

A temática das desigualdades sociais, também, foi por diversas vezes abordada por Manuel Borges Pêcego. Para além de ilustrar a sua condição social, a quadra abaixo revela o seu espírito crítico:
Fui pagar a contribuição,
Mas não foi com dinheiro falso,
P’ra calçar tanto ladrão
Que por mim, ando descalço

O Bravo teve problemas com a polícia que o mandou internar na casa de saúde de São Rafael. A causa terá sido uma quadra dita em frente à cadeia, onde denunciou as injustiças deste mundo:
Oh, como esta vida é feia
Presos, meditai a fundo.
Só nunca vão à cadeia
Os maiores ladrões do mundo.

Pico da Pedra, 31 de dezembro de 2018
Teófilo Braga

sábado, 29 de dezembro de 2018

Polygonum capitatum Buch.-Ham. ex D. Don


Polygonum capitatum Buch.-Ham. ex D. Don
Nome comum: Tapete-inglês, Polígono de jardim
Família: Polygonaceae
Origem: Himalaias e E Ásia
Local: Ribeira Seca de Vila Franca do Campo, São Miguel
29 de dezembro de 2018

Presépio



DE um vilafranquense com imagens da sua terra, com detaque para o Espírito Santo da Ribeira Seca

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Em defesa do Parque Ecológico do Funchal


DEZ 25, 2018 - 11:24:59 PMHENRIQUE CORREIA

Açoriano e mestre em Educação Ambiental lidera abaixo-assinado contra regresso do gado ao Parque Ecológico do Funchal, Associação avança com Providência Cautelar

Henrique Correia, 25 de dezembro de 2018

Teófilo Braga, açoriano, professor, mestre em Educação Ambiental, fundador da Associação Ecológica Amigos dos Açores, é o primeiro subscritor de um abaixo-assinado que visa pressionar a atual gestão da Câmara do Funchal, liderada por Paulo Cafôfo, contra o eventual regresso do gado ao Parque Ecológico.
Ontem, a Associação dos Amigos do Parque Ecológico do Funchal, presidida por Raimundo Quintal, já tinha tornado público que interpôs “uma Providência Cautelar, no Tribunal Administrativo do Funchal, visando a suspensão imediata da eficácia da decisão da Câmara do Funchal de autorizar a criação de gado no Parque Ecológico”.
Hoje, Teófilo Braga dá conta que está já a circular o abaixo-assinado no sentido de contrariar essa decisão, O primeiro subscritor já visitou o Parque Ecológico por diversas vezes e participou, como voluntário, numa jornada de plantação de espécies nativas”.
No texto do abaixo-assinado, refere que “foi com alguma estranheza que tomámos conhecimento de que a Câmara Municipal do Funchal autorizou, recentemente, a criação de gado no Parque Ecológico do Funchal. Como a realidade dos factos demonstra, após a retirada do gado, em 1995, foi possível verificar, no Parque Ecológico do Funchal, a recuperação da biodiversidade, a qual a par da água e do solo são recursos vitais para a Madeira, apesar do revés provocado pelo incêndio de origem criminosa ocorrido em agosto de 2010”.
O mesmo texto que suporta o documento que está já a circular, aponta que “a medida agora tomada, a concretizar-se, será um duro golpe no trabalho que tem sido feito até agora, isto é a reflorestação com vista à recuperação das formações vegetais primitivas, à redução da erosão, à diminuição dos efeitos das cheias e ao reforço das nascentes. Estamos solidários com os trabalhos desenvolvidos ao longo de cerca de vinte anos pela Associação dos Amigos do Parque Ecológico do Funchal e apoiamos a tomada de posição daquela contrária ao regresso do gado ao Parque Ecológico”.
Face ao exposto, refere, “apelamos ao bom senso do senhor Presidente da Câmara Municipal para que volte atrás na sua decisão, respeitando o que é afirmado na página 83 do Plano de Gestão do Parque Ecológico do Funchal: “Não estão identificadas quaisquer áreas com a função de silvo pastorícia, nem se vislumbra considerar esta atividade como um objetivo futuro para estas áreas”.
Fonte: Notícias do Funchal
https://funchalnoticias.net/2018/12/25/acoriano-e-mestre-em-educacao-ambiental-lidera-abaixo-assinado-contra-regresso-do-gado-ao-parque-ecologico-do-funchal-associacao-avanca-com-providencia-cautelar/?fbclid=IwAR2qi_2zGNTmuGl5h_Yhio1hnr6B6qSoeivEJEEgdfgwte7IKo7gfpUa7TU

Reis Magos


Diário dos Açores, 27 de dezembro de 2018

domingo, 9 de dezembro de 2018

Maçonaria


A Maçonaria nos Açores

Muito pouco se tem escrito sobre a presença da Maçonaria nos Açores pelo que sobre a mesma apenas conhecemos um excelente livro da autoria de António Lopes, intitulado “A Maçonaria Portuguesa e os Açores (1792-1935)”.

Instituição respeitável, como todas as outras está infiltrada por pessoas que se aproveitam para fins diversos dos da organização, nomeadamente para benefício pessoal ou de familiares e amigos.

Sendo uma organização secreta, que não se justifica nos dias de hoje, pouco se sabe acerca dela, nomeadamente nos Açores. Uma importante fonte para ficarmos a conhecer algumas “trafulhices” feitas por alguns dos seus membros é o livro publicado em 2013 pela Esfera dos Livros, intitulado “Segredos da Maçonaria Portuguesa” da autoria de António José Vilela.

O livro, entre outras informações, dá a conhecer “o vasto património da maçonaria, quem são os maçons eleitos para o Parlamento do GOL-Grande Oriente Lusitano, o que dizem as atas confidenciais das sessões, onde, entre outros assuntos, já se votou a criação de serviços de inteligence e as ligações do espião Jorge Silva Carvalho aos altos graus da maçonaria e ao atual ministro Miguel Relvas”.

Em relação aos Açores há pouca informação, mas dado o interesse ou o desconhecimento por parte da maioria dos açorianos, vamos divulga-la, abaixo.

Na página 235, pode ler-se que Ricardo Rodrigues, atual presidente da Câmara Municipal de Vila Franca do Campo, partilhava o templo da Loja Maçónica Abade Correia da Serra, nº 69, com Adelino Cunha, José Gomes Ferreira e com os deputados do PSD Carlos Páscoa e José Manuel Canavarro.

Na página 121 há a referência à Loja “Renascer “, de Ponta Delgada, que tinha como venerável mestre António Joaquim Rodrigues Lopes.

Na página 259, há um quadro com os dirigentes da Loja do GOL em Angra do Heroísmo. Assim, a Loja “Vitorino Nemésio” tinha em 2006 os seguintes dirigentes:
Dimas Costa Lopes- Venerável mestre
Jorge Paulos Bruno – Representante e primeiro vigilante
Júlio Dinis Lopes da Silva-Representante (suplente) e segundo vigilante
Francisco Jorge Silva Teixeira – Primeiro experto

José Sousa
Açores, 8 de dezembro de 2018

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

O dia 13 de junho de 1974 na história de Vila Franca do Campo


O dia 13 de junho de 1974 na história de Vila Franca do Campo

Sobre o assalto à Câmara Municipal de Vila Franca do Campo conhecemos algumas versões do que terá ocorrido, todas elas ligadas a pessoas que estiveram de um ou do outro lado da barricada, isto é, dos que defendiam a substituição do executivo em exercício por um uma comissão ligada ao Movimento Democrático (MD) ou por outra que estava ligada ao Partido Popular Democrático Açoriano (PPDA).

Sobre este assunto já escrevi um texto que foi publicado no Correio dos Açores, no dia 24 de abril de 2013, com base em informações que possuía, oriundas de um livro do Dr. Manuel Barbosa, em dados recolhidos junto de pessoas que presenciaram o ato e de documentos, sobretudo folhetos, que recolhi na altura e do que presenciei, pois assisti ao referido assalto.

Volto ao tema, não para fazer juízos de valor sobre ninguém, mas porque recentemente tive acesso ao Processo sobre os acontecimentos que foi instruído pelo Governo Civil do Distrito Autónomo de Ponta Delgada.

Antes de fazer referência ao assalto propriamente dito, apresento os nomes das personalidades envolvidas no processo de “assalto ao poder” na Câmara Municipal da Vila.

O executivo municipal em exercício de funções quando se deu o 25 de Abril de 1974 era composto por Orlando Augusto Borges Brandão, António dos Santos Botelho e António Daniel de Carvalho e Melo.

Para substituir as pessoas referidas que, como era de esperar, estavam ligadas ao Estado Novo, o Movimento Democrático, apresentou uma comissão que tinha a seguinte composição: Raúl Eduardo do Vale Raposo Borges, Armando Botelho Henrique, Alfredo Moniz Gago da Câmara, Elias Pimentel Costa e João José Sardinha.

Curiosamente tal como acontece sempre que há mudanças de regimes ou mesmo mudanças de partidos no poder há sempre os adesivos ou lapas que mudam de opinião para se manterem na mó de cima. No caso em apreço na comissão referida há um elemento que sete meses antes era apresentado num jornal vila-franquense como como membro da Ação Nacional Popular, o partido que suportava o Estado Novo.

Insatisfeitos com a comissão proposta pelo Movimento Democrático foi apresentada aos vila-franquenses no dia 11 de junho, elementos do Partido Popular Democrático Açoriano no dia 13 pretenderam apresentar uma alternativa no mesmo local, o Jardim Antero de Quental.

Foram escolhidos para o efeito Eduíno Simas e Eduardo Calisto, que estando numa “Janela da “Construtora” não chegaram a dar a conhecer a equipa porque gritaria e o barulho feito com latas velhas e outros objetos pela multidão concentrada no local não o permitiu.

Relativamente aos responsáveis pelo boicote à sessão, através da leitura dos relatórios da PSP e do presidente da Câmara Municipal em exercício não restam dúvidas de que eram partidários da Comissão proposta pelo Movimento Democrático. Assim, enquanto Orlando Brandão culpa diretamente o MD e estranha a presença de Manuel Barbosa e Renato Resendes, acusando-os de por meio de apaniguados trazerem pessoas de Água d´Alto e de Ponta Graça, o relatório da PSP refere que três autocarros de passageiros trouxeram pessoas daquelas localidades para boicotar a sessão e refere que um dos filhos de Alfredo Gago da Câmara e o filho de Elias Pimentel da Costa andaram pelas casas pedindo latas e panelas velhas e que o chefe dos Correios de Vila Franca assumiu a responsabilidade dos rapazes terem ido para a rua perturbar a manifestação.

Sobre quem assaltou o edifício da Câmara Municipal o Relatório da PSP, através do depoimento do subchefe João Gomes, identificou as seguintes pessoas:

“O FILHO DE ELIAS PIMENTEL DA COSTA, que foi o primeiro da entrar com ANTÓNIO DA SILVA, vendedor de peixe, UM FILHO DESTE empregado comercial, que trabalha com o Laurindo, OS DOIS FILHOS do Alfredo Moniz Gago da Câmara, UM TAL DIONÍSIO, chefe dos Correios, que esteve na varanda, O FILHO DA PENICA (Laiola), o MANUEL ou JOSÉ RAINHA, pescador e ADELINO PIMENTEL CASIMIRO, que foi visto sair da Secretaria do Tribunal acompanhado de um rapaz”.
Teófilo Braga

5 de dezembro de 2018

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Encontro com uma profissão de Eduardo Calisto de Amaral (2)


Encontro com uma profissão de Eduardo Calisto de Amaral (2)

“A vida só é bela quando é uma empresa em benefício de outros homens e do mundo” (Agostinho da Silva)

Hoje, divulgamos a segunda parte da nota introdutória que fizemos ao livro “Encontro com uma profissão” da autoria do professor Eduardo Calisto de Amaral.

Embora por vezes contando a colaboração da Direção de Obras Públicas e da Câmara Municipal de Vila Franca do Campo, todas as melhorias feitas na Escola da Ribeira Seca não seriam possíveis sem o muito trabalho voluntário de professores, contínuos e alunos, de muitos donativos e de receitas obtidas através de várias iniciativas.

Para além da lição que dá às presentes gerações e às futuras, o de contar sempre com as próprias forças, outra lição se pode tirar do que foi feito na Escola da Ribeira Seca e que mostra o pioneirismo e a ousadia de quem lá trabalhava, isto é, tendo sempre em conta o supremo interesse da educação e dos direitos das crianças, como sempre aconteceu, por vezes houve necessidade de desobedecer, como ocorreu quando foi decidido fechar os alpendres para “ver as crianças abrigadas em dias de chuva e vento” e fazer e manter uma ligação entre os recreios masculino e feminino, apesar de um vereador da Câmara Municipal de Vila Franca do Campo ter dito que tal era ilegal e afirmado: “Vocês têm de fechar isso novamente”.

O professor catedrático Rogério Fernandes escreveu que depois do 25 de abril o professor deveria não só ser um transmissor de conhecimentos, mas também um dinamizador cultural do meio onde estava inserido. Sobre as funções dos professores, quer pela leitura do texto, quer pelo conhecimento pessoal, já que fui aluno da Escola da Ribeira Seca e morador na localidade, confirmo que o professor Eduardo Calisto não esperou pela instalação do regime democrático, nem pela nomeação do ministro Veiga Simão, onde segundo ele “tudo começaria a mudar, nesta altura, quer a nível pedagógico, quer até de ordenado”, para dinamizar o desporto e a cultura nas escolas e comunidades por onde passou. Com efeito, no Porto Formoso dinamizou o teatro e o voleibol, em Ponta Garça, colaborou nos ensaios “cujos números eram apresentados em Festas Escolares no salão ao lado da Igreja”, e na Ribeira Seca, através de uma peça de teatro e um ato de variedades que esteve em cena, para além do ensaio geral destinado às famílias, cinco vezes.

Não sei se o professor Eduardo Calisto alguma vez leu algum texto do pedagogo Álvaro Viana de Lemos, mas por aquilo que fez nas escolas e nas comunidades sou levado a concluir que para ele ser professor era muito mais do que ensinar a ler, a escrever e a contar pelo que seria capaz de subscrever a frase que aquele um dia proferiu: “A educação é tudo; a instrução quase nada!”

Para além da educação para a responsabilidade e para o gosto em cultivar e amar a terra, o professor Eduardo Calisto refere no seu livro que o prazer das crianças era tanto que preferiam “o amanho da terra”, esquecendo-se de “toda a sorte de brincadeiras” e acrescenta que “um dos pequenos, de nome Teófilo Feitor de Andrade chegava em férias a ir sozinho arranjar os terrenos, sem que para tal tivesse sido mandado por alguém”. Este relato lembra-me um dos grandes objetivos de quem quer verdadeiramente educar, que é o de promover a autonomia das crianças e recorda-me a frase de Rui Grácio: “os mestres são os que criam, ou libertam, a autonomia dos discípulos”.

Recomendo a leitura deste livro que é importante para a história do ensino na nossa Vila e apelo a todos os seus colegas para que também partilhem as suas memórias.

Depois de, por duas vezes, ter lutado para que o professor Eduardo Calisto Soares de Amaral fosse homenageado por tudo o que fez pela sua terra, destacando a obra realizada na minha freguesia, a Ribeira Seca, termino, reafirmando a minha profunda admiração pelo cidadão, pelo educador e pelo humanista que estará sempre entre nós.

Teófilo Braga

sábado, 3 de novembro de 2018

Ferro Quente


Ferro Quente

É um jogo de um contra todos os outros, em número que pode variar.

Depois de escolhida um marco ou base que podia ser uma árvore, uma parte de uma parede que passa a chamar-se ferro quente um dos participantes que também passa a designar-se por ferro quente fica encostado e conta até um número combinado previamente.

Terminada a contagem o ferro quente corre com o objetivo de apanhar os outros que por sua vez tentam chegar ao marco sem serem apanhados, ganhando assim a imunidade. Quando um deles é apanhado vai substituir o ferro quente, prosseguindo assim o jogo.

Na Ribeira Seca um dos locais escolhidos para ferro quente era o Arco.

terça-feira, 30 de outubro de 2018

“Encontro com uma profissão” de Eduardo Calisto de Amaral (1)



“Encontro com uma profissão” de Eduardo Calisto de Amaral (1)


Embora apresente na capa a data de 2017, foi editado este ano um livrinho, da autoria do professor Eduardo Calisto Soares de Amaral, intitulado “Encontro com uma profissão”.

Com uma tiragem pequena e com uma distribuição restrita, o que é uma pena, o último trabalho daquele professor que marcou não só os seus alunos, mas todos os que com ele conviveram, merecia, pelos ensinamentos que dele se poderá extrair, uma maior divulgação. Contudo a decisão da família não foi esta e deve ser respeitada.

A pedido da família, o que muito me honrou, escrevi uma nota introdutória que achei por bem dar a conhecer aos leitores do Correio dos Açores. Dada a sua extensão, nesta semana divulgo a primeira parte e na próxima a segunda.

Este livro, tal como sugere o seu título, aborda parte da vida do professor Eduardo Calisto Soares de Amaral, com destaque para o período que vai desde 1955, ano em que iniciou a sua carreira profissional, na Escola Velha da Ribeira Seca, na Calçada, até 1992, ano em que se aposentou, estando também colocado na mesma localidade, mas no edifício do Plano dos Centenários.

Nesta nota introdutória, que escrevo com todo o gosto a pedido da sua família, é-me impossível fazer referência a todos os assuntos que o professor Eduardo Calisto aborda no seu livro, como o serviço militar que teve de cumprir por duas vezes, a aquisição e as alterações sofridas na sua casa, onde acabaria por habitar ainda antes de chegar a luz elétrica, a frequência de um curso de Orientação Pedagógica, as romarias à Senhora da Paz, as visitas de estudo anuais, o cantar à Estrelas, as festividades em honra de São João, etc., etc.. Assim, apenas destacarei as questões relacionadas com a educação.

Embora o professor Eduardo Calisto nunca esqueça, ao longo do texto, todas as pessoas que com ele cooperaram, com destaque para a sua “companheira de toda a vida”, a professora Adelaide da Conceição Soares, e para o seu cunhado, o professor Valter Soares Ferreira, que possuía uma destreza tal que era capaz de “reparar, melhorar, construir tudo e qualquer coisa que pudesse, de certo modo, melhorar o nível do ensino, no aspeto prático e visualizado”, esta pequena obra é muito mais do que uma despretensiosa autobiografia. Com efeito, através da sua leitura atenta é possível conhecer um pouco do estado da educação em dois regimes políticos diferentes, o Estado Novo, distinguindo-se dentro deste o período que foi até 1970, ano em que o Professor Catedrático José Veiga Simão assumiu o cargo de Ministro da Educação Nacional, e o regime democrático instituído a 25 de abril de 1974.

No que concerne às escolas, as descrições do Prof. Eduardo Calisto mostram que, sobretudo antes do Plano dos Centenários (1941-1969), que surgiu para, entre outras razões, acabar com o mau estado das instalações existentes nas várias escolas e para suprir a falta de salas para a separação dos sexos, não eram as mais dignas tanto para os docentes como para os alunos. A título de exemplo refiro o caso da Escola Velha da Ribeira Seca onde numa das salas “o professor, se sentado, não tinha visibilidade nenhuma para uma parte da sala” e as retretes sobretudo a masculina onde “por vezes as fezes chegavam a sair pela porta fora”.

Mas mais importante do que a apresentação do estado lastimável em que encontravam as instalações escolares, o mérito do Professor Eduardo Calisto está em não se ter conformado com a situação e, quer com ajuda exterior, quer recorrendo aos próprios meios, isto é, ao seu trabalho, ao dos colegas, e ao dos alunos, como no caso da escola referida, transformou o recreio desprezado num “belíssimo campo de mini-futebol “e “num pequeno jardim rústico”.

Relativamente à Escola Nova da Ribeira Seca, embora o edifício já apresentasse melhores condições, ao longo do tempo foi sofrendo melhoramentos, dos quais destaco o arranjo da latada da frente, a construção do tanque-piscina, o fecho dos alpendres, a instalação de alto-falantes e de intercomunicadores nas diversas salas, as alterações na cozinha e no refeitório e a construção dos anexos com duches e vestiários, etc. etc.

Teófilo Braga

sábado, 20 de outubro de 2018

Jogos infantis (1)

Ahhhhh Rolha!

Trata-se de um jogo de equipas, em que uma delas fica num determinado local de olhos fechados para não observar os movimentos da outra que se vai esconder num determinado local.

O objetivo da equipa que se escondeu é chegar com todos os elementos ao sítio onde a outra esteve e o desta é apanhar os elementos da outra equipa, bastando para tal apanhar um.

Na Rua do Jogo, o local que servia de base era a chamado “Cimento da Amélia”, zona cimentada que ficava em frente à casa de uma senhora já idosa chamada Amélia e os locais preferidos para esconderijos eram os terrenos situados no Canto da Ponta Garça.

Não encontrámos qualquer referência bibliográfica a este jogo que tem semelhanças com o Ferro Quente, pelo que o nome que escolhemos é o do grito que a equipa que se escondia dava para dar sinal que o jogo podia começar, isto é, já podia ser procurada.

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

A Casa Azul de Natividade Ribeiro


A Casa Azul de Natividade Ribeiro

Depois de alguns anos de procura, foi no passado mês de julho que, na Ilha da Madeira, consegui adquirir o livro “A Casa Azul” da autoria da minha conterrânea Natividade Ribeiro.

Tal como muitos outros jovens vila-franquenses, Natividade Ribeiro estudou no antigo Externato de Vila Franca, tendo mais tarde ido para Lisboa, onde se licenciou em Filosofia. Foi durante muitos anos professora de português em Macau e depois lecionou (ou ainda leciona?) em Lisboa.

Da autora, para além do livro que abordo neste texto, já tive a grata oportunidade de ler “Os Três Lugares de uma Mulher” que também recomendo.

Neste livro que, também, pode ser considerado autobiográfico, Natividade Ribeiro retrata a vida em Vila Franca do Campo no final da década de 60 e início da de setenta do século passado.

Estando por escrever a história da Vila daquele período, este livro, embora de carácter literário, dá a conhecer a vida de um camponês com terra e da sua família, retrata a vida de jovens estudantes pertencentes a um estrato social médio e aborda ainda que levemente a política nos últimos anos do fascismo e o entusiasmo nos primeiros anos após o 25 de abril de 1974.

Para além das pessoas da família da autora, penso que não será difícil identificar os seus professores no Externato de Vila Franca e o ex-professor que era um “bufo amigo”.

O livro apresenta outra originalidade que é a descrição de vários locais onde a autora fazia piqueniques com os colegas estudantes e outros amigos. Assim, através da sua leitura fica-se a conhecer um pouco a geografia do concelho, como o Ilhéu, a Lagoa do Fogo, a Vinha d’Areia, a Lagoa do Congro, etc..

Sobre o Externato de Vila Franca, Natividade Ribeiro recorda o professor de Francês que “adorava fazer chamadas individuais a alunos que não tivessem estudado, quase como um prazer sádico”, o de Matemática que dizia que nos testes ninguém copiava pois ele sabia sempre mais uma cábula do que o aluno e o de “Ciências que tinha a mania que só os testes difíceis provavam a sua competência” e que fazia perguntas sobre conteúdos que não tinha ensinado, estando as respostas “nas notas de rodapé, em letra muito miudinha, nos manuais dos nossos irmãos mais velhos”.

Não se tratava do mero uso da pedagogia tradicional, para a qual foram treinados. Eram verdadeiros atos de malvadez de pessoas que, acabaram por ser, injustamente, homenageados em Vila Franca do Campo como grandes professores. Enfim, deviam ser reconhecidos por outros serviços prestados à comunidade, se os prestaram, e não como pedagogos.

A propósito da Casa Azul, hoje em ruínas, que era um mirante, Natividade Ribeiro apresenta as preocupações dos agricultores. Era a elevada produção de batata que não tinha venda, era a produção do vinho que não era boa, era a preocupação com a vinda de açúcar do continente que poderia prejudicar a cultura da beterraba que era “uma cultura que continua a ser rentável e pouco trabalhosa”.

Sobre a cultura do ananás os agricultores preocupavam-se com a eventual proibição da apanha de leiva. Sobre este assunto pode-se ler: “Dizem que já há picos muito devastados. Mas hão-de arranjar um substituto que não prejudique tanto a natureza”.

No capítulo intitulado “Piquenique na Vinha d’Areia”, a autora recorda que a mesma era conhecida por “Praia das Francesas”, que “fora comparada por umas francesas extravagantes que faziam nudismo nas varandas, para grande escândalo dos naturais”. Sobre as alterações sofridas pode-se ler: “A Vinha d’Areia actual é outra praia. É uma praia do progresso, do consumo. Igual a tantas outras que se foram descaracterizando pela construção do parque automóvel, balneários, bares, “Aqua Park”, marina.”

Muito ficou por dizer, daí que recomendo uma leitura e valia a pena uma reedição.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31640, 4 de outubro de 2018, p. 22)

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

A propósito do nome da Escola da Ribeira Seca de Vila Franca do Campo


A propósito do nome da Escola da Ribeira Seca de Vila Franca do Campo

O edifício escolar existente na Ribeira Seca de Vila Franca do Campo foi construído ao abrigo do chamado Plano dos Centenários, implementado pelo Estado Novo entre 1941 e 1969, tendo entrado em funcionamento em 1962.

Hoje fechado, por razões demográficas e devido à política de concentração de alunos para poupar uns trocos para os gastar em coisas supérfluas, como festas e festivais, sem retorno financeiro e de duvidoso interesse cultural, se nada for feito acabará por ruir como já aconteceu com outros.

Sob a direção do professor Eduardo Calisto Soares de Amaral, a Escola foi a única entidade que dinamizou a Ribeira Seca, então integrada na freguesia de São Miguel. A título de exemplo recordo a organização de uma récita escolar, a criação da cantina, a construção de uma piscina, a organização das festas de São João, quando foram interrompidas na sede do concelho, e das marchas de São João nos restantes anos.

Ao contrário do que se esperava na localidade, os responsáveis políticos, como de costume sem ouvir a população, decidiram atribuir o nome da escola a um professor que esteve na localidade apenas um ano letivo, o docente Teotónio Machado de Andrade.

A proposta de nome que terá sido cozinhada em Vila Franca, foi feita pela Direção Escolar de Ponta Delgada que, depois de ouvir a Câmara Municipal, a submeteu à tutela. Como argumentos para a escolha do nome de Teotónio Machado de Andrade foram apresentados os seguintes: pedagogo, investigador do concelho, dinamizador de movimentos culturais, iniciador das primeiras instituições de assistência social escolar, autarca, delegado escolar do concelho e cultor de plantas ornamentais.

A proposta foi aceite pela Secretaria Regional da educação e Cultura que pelo Despacho D/SREC/94/16, de 1 de maio de 1994, determinou que o edifício deixasse de ter a designação Escola nº 3 de Vila Franca do Campo e passasse a denominar-se Teotónio Machado de Andrade.

A primeira reação pública contra aquela decisão governamental terá sido a minha, pois no jornal “A Vila” do dia 23 de junho daquele ano publiquei um texto onde sem retirar o mérito a ninguém argumentei que o professor Teotónio já havia “recebido as merecidas homenagens”. Na ocasião, para justificar o nome do professor Eduardo Calisto de Amaral, escrevi o seguinte:

“Por tudo o que fizeram por aquela escola, pela promoção sociocultural, recreativa e desportiva da comunidade que com muita dedicação serviram, à Ribeira Seca ficarão para sempre ligados os nomes dos senhores professores Eduardo Calisto de Amaral, Valter Soares Ferreira e suas esposas.
Pelas razões apontadas e por muitas outras que poderia referir, proponho que seja revista a decisão agora tomada e que na fachada da minha escola fique para sempre gravado o nome do professor Eduardo Calisto de Amaral”.

No mesmo ano, foi redigido um abaixo-assinado que, depois de recolher 200 assinaturas, foi enviado ao Presidente do Governo Regional dos Açores e ao Secretário Regional da Educação e Cultura. Se não me falha a memória, nenhuma das entidades se dignou acusar a receção!

Três anos depois, em agosto de 1997, uma comissão de moradores da Ribeira Seca composta por Emanuel Medeiros, Vitorino Furtado, João Norberto Salema, José Manuel Salema e João Alberto Pacheco, organizou um abaixo-assinado, que recolheu 310 assinaturas, com o fim de requerer ao Presidente da Câmara Municipal de Vila Franca do Campo a alteração do nome da escola para “Escola EB/J Prof. Eduardo Calisto de Amaral”.

Por unanimidade, a 21 de setembro de 1998, a Câmara Municipal de Vila Franca do Campo deliberou satisfazer a pretensão dos moradores da Ribeira Seca, tendo suportado a sua decisão numa deliberação tomada pela Assembleia Municipal no dia 30 de junho do mesmo ano.

A 27 de outubro de 1998, o presidente do Conselho Diretivo da Área Escolar de Vila Franca do Campo informou o Conselho Diretivo da Área Escolar de Ponta Delgada que “a Escola EB/JI Professor Machado de Andrade passa a designar-se EB/JI Professor Eduardo Calisto Amaral”.

Para não afirmar outra coisa, o mínimo que se pode dizer é que em Vila Franca do Campo andavam todos distraídos, pois havia legislação que atribuía ao Secretário Regional com a tutela da Educação a fixação da denominação dos estabelecimentos de educação e de ensino públicos não superior.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31632, 25 de setembro de 2018, p.17)

Doce de uva

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Sobre o livro de memórias do mestre Dinis


Sobre o livro de memórias do mestre Dinis

Foi com estranheza que pessoa conhecida me informou que o mestre Dinis, da Ribeira Seca de Vila Franca do Campo, havia escrito um livro que foi lançado durante as festas do Bom Jesus da Pedra. Tal facto só pode acontecer por parte de quem foi educado num sistema de ensino e numa sociedade que sobrevaloriza o trabalho intelectual e que menospreza o trabalho manual.

Sobre esta falsa dualidade, o professor Agostinho da Silva escreveu que se todos os homens pensam, então todos são intelectuais.

Relativamente aos que por terem decorado passagens de alguns livros enquanto andaram pelas escolas e universidades, convém lembrar que mais importante do que o saber livresco é a honestidade e o carácter e que, tal como escreveu Agostinho da Silva “, para uma pessoa se educar não é necessário haver escola, como instituição, sendo a melhor escola a escola da vida”.

Numa poesia sobre “A Educação” o mestre Dinis escreveu:

“Na vida se for credível
É porque tem honestidade
Assim será possível
Viver em sociedade”

Depois desta um pouco longa introdução, vamos dar a conhecer um pouco o mestre Diniz e o seu livro, ignorando qualquer apreciação literária, pois não estamos habilitados para tal.

Quem é o mestre Dinis?

Natural do concelho de Vila Franca do Campo, Dinis Furtado Brum, nasceu no dia 27 de junho de 1944, sendo filho de João Furtado Brum e de Maria da Glória Travassos.

Viveu, uma parte importante da sua vida, na rua da Cruz, na Ribeira Seca, onde trabalhou na oficina de ferrador de seu sogro, o mestre Viriato Madeira. Com a substituição dos animais na agricultura, a oficina de serrador deu lugar a uma serralharia, tendo o mestre Dinis feito um estágio na empresa Technal.

Como hobby, o mestre Dinis dedicou-se à música, tendo sido executante da Banda Lealdade e é um exímio cantador ao desafio conhecido em toda a ilha de São Miguel.

O livro serviu de pretexto para a escrita deste artigo tem por título “Um pouco da minha vida… com amizade e serenidade”, sendo essencialmente de carácter biográfico, apresenta, entre outros, também, dois capítulos de temática religiosa, um sobre a Vila e outro de cariz etnográfico.

Por razões de economia de espaço, apenas farei uma breve referência a alguns temas que mais me impressionaram enquanto criança, também residente na Ribeira Seca, e às artes e ofícios que, fruto do progresso técnico, desapareceram.

Em criança, algumas vezes dei uma escapadela de casa e fui ver o trabalho na oficina do mestre Viriato. Lá, o que mais me impressionava, talvez por não ser um trabalho tão rotineiro, era o trabalho na funda, onde eram colocadas ferraduras nos bois. Sobre este trabalho , o mestre Dinis escreveu:

“E o boi que trabalhava
Na carroça canga dura
Na funda se amarrava
Para pregar a ferradura”

No capítulo “Artes e Ofícios” há referência, entre outras, às seguintes profissões já desaparecidas: galocheiro, lenhador, arrieiro, barbeiro, cesteiro, tecedeira, albardeiro, moleiro, vendilhão de peixe.

Termino com uma quadra sobre o cesteiro:

“O animal que trabalhava
Para o dono ganhar o pão
Muita coisa transportava
Através do seu ceirão”

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31626, 18 de setembro de 2018, p.17)

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Teresinha Braga Pimentel


A morte chega cedo

A morte chega cedo,
Pois breve é toda vida
O instante é o arremedo
De uma coisa perdida.
O amor foi começado,
O ideal não acabou,
E quem tenha alcançado
Não sabe o que alcançou.

E tudo isto a morte
Risca por não estar certo
No caderno da sorte
Que Deus deixou aberto.

Fernando Pessoa