sexta-feira, 29 de novembro de 2013
quinta-feira, 21 de novembro de 2013
quarta-feira, 20 de novembro de 2013
Pelos Animais de Companhia
PELOS ANIMAIS DE COMPANHIA
"Chegará o dia em que todo homem conhecerá o íntimo dos animais. Nesse dia, um crime contra um animal será considerado um crime contra a própria humanidade." Leonardo da Vinci
Por iniciativa de Céu Simas e Fátima Cerqueira Rocha, promotoras do evento a nível nacional, realizar-se-ão em frente a algumas Câmaras Municipais de todo o país cordões humanos “pela adoção e esterilização- não ao abate”.
Nos Açores, o evento ocorrerá no próximo domingo, dia 24 de Novembro, pelas 15 horas, em Angra do Heroísmo, Ponta Delgada, Ribeira Grande e Vila Franca do Campo, estando prevista a entrega de um manifesto aos presidentes das respetivas câmaras e assembleias municipais no próprio dia ou em data a acordar posteriormente.
Em todos os concelhos a iniciativa é coordenada por uma ou duas pessoas ligadas ou não às associações de proteção de animais existentes. No que se refere à ilha de São Miguel não temos conhecimento da existência de nenhum membro dos órgãos executivos das associações envolvidas na organização do evento e a nível nacional sabemos que algumas associações não se quiseram envolver, alegando terem receio de “represálias” por parte das autarquias com as quais alegadamente dizem manter boas relações.
Esta atitude é, do meu ponto de vista, incompreensível, pois o cordão humano/manifestação é uma das formas que as pessoas têm, em democracia, de manifestar a sua opinião, de comunicar os seus anseios a quem de direito ou expressar a discordância com a política que está a ser seguida para com os animais de companhia.
No caso presente, para além do exposto, é também uma forma de alertar os cidadãos para a necessidade de abandonarem a passividade e participarem ativamente numa causa que cada vez mobiliza mais pessoas e uma forma de sensibilizar os autarcas recentemente eleitos. Por último, o evento pode e servirá, não tenho dúvidas, para juntar pessoas que não se conhecem, para troca de contactos com vista a futuras atuações em conjunto.
Na maioria dos concelhos será utilizado um manifesto nacional, mas em Vila Franca do Campo os coordenadores acharam por bem adaptá-lo à realidade local. Neste manifesto, entre outras medidas, defende-se:
1- A criação de um Centro de Recolha Municipal de Acolhimento e Proteção dos Animais onde os animais abandonados, errantes e em risco possam ser recolhidos, recuperados, tratados, identificados, esterilizados e encaminhados para adoção responsável, com uma política de não-abate.
2- A criação de um Regulamento Municipal de Proteção dos Animais, no qual se definam, de harmonia com a legislação nacional em vigor, normas municipais mais estritas e mais firmes de proteção dos animais, com um sistema contraordenacional e coimas correspondentes, verdadeiramente eficazes para dissuadir/punir eventuais infrações às disposições desse Regulamento e à legislação em vigor de proteção dos animais.
3- A abertura do Centro de Recolha aos serviços de voluntariado de associações e de grupos de amigos dos animais, nomeadamente aos fins de semana, de modo a garantir o acompanhamento dos animais que ali se encontrem e a poder facilitar contactos com promitentes adotantes.
Esta iniciativa, que esperamos tenha a adesão de muitas pessoas, surge numa altura em que por parte da Assembleia Regional dos Açores há uma abertura para que seja implementada uma nova política que se traduzirá na esterilização de animais errantes e no estabelecimento de “parcerias que visem uma utilização pública do espaço do Hospital Alice Moderno, em moldes que se mostrem adequados a todas as partes e que respeitem a memória da referência, neste contexto, que é Alice Moderno”
Sobre o assunto do hospital Alice Moderno, o Secretário Regional dos Recursos Naturais, em declarações à Comissão Permanente dos Assuntos Sociais da Assembleia Legislativa Regional dos Açores, também afirmou que “não veria problema de maior em que se tornasse um hospital público” e abordou a “possibilidade do Governo Regional efetuar algum tipo de protocolo com alguma associação”.
Pelos vistos a “bola” está do lado das associações. Quem dá um passo em frente?
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 2952, 20 de Novembro de 2013, p.16)
terça-feira, 19 de novembro de 2013
segunda-feira, 18 de novembro de 2013
domingo, 17 de novembro de 2013
sexta-feira, 15 de novembro de 2013
quarta-feira, 13 de novembro de 2013
Alice Moderno
ALICE MODERNO E A PROTEÇÃO DOS ANIMAIS EM VILA FRANCA DO CAMPO
Já por diversas vezes tive a oportunidade de escrever sobre o papel de Alice Moderno (1867-1946) na luta pela proteção dos animais no arquipélago dos Açores, nomeadamente na fundação e dinamização da atividade da Sociedade Micaelenses Protetora dos Animais, na denúncia persistente dos maus tratos infligidos aos animais de companhia e aos usados no transporte de mercadorias e, por último, no seu contributo, através da sua herança, para a construção de um hospital para tratamento dos animais doentes.
Numa altura em que um, ainda pequeno, grupo de vilafranquenses sensíveis à causa animal está a preparar uma ação de sensibilização com vista a minorar o sofrimento dos animais de companhia que são vítimas de maus tratos e de abandono, acabando por ir parar aos canis onde na sua maioria são abatidos, achei por bem dar a conhecer, através dos relatos de Alice Moderno, o que se passava no início do século passado e fazer o confronto com o que se passa hoje.
Começo por recordar que o jornal “O Autonómico”, que se publicou em Vila Franca do Campo, foi um grande defensor dos animais, quer saudando a criação de associações de proteção, quer exigindo o cumprimento do código de posturas municipal, quer denunciando os abusos cometidos.
A este propósito, Alice Moderno, a 13 de Outubro de 1912, denunciou no seu Jornal “A Folha” a existência “na pátria de Bento de Góis” de “um vendilhão de peixe, surdo-mudo de nascença, que espanca o pobre burro que lhe serve de ganha-pão com uma ferocidade inaudita e revoltante”. Segundo ela, que presenciou o episódio, “o pobre burro” foi alvo de “enormes bordoadas” por parte de um “ferocíssimo aborto” que estava “armado de um grosso cacete”.
Hoje, os animais de tiro quase desapareceram e com o seu desaparecimento terão acabado (?) os maus tratos de que eram vítimas e que cheguei a presenciar, na Ribeira Seca, durante a minha infância e juventude.
Ainda recentemente, tive a oportunidade e a tristeza de observar, em Água d’Alto, um cavalo que estava debilitado, fruto de um alimentação insuficiente e possivelmente de falta de tratamento veterinário adequado.
No que diz respeito ao melhor amigo do homem, o cão, Vila Franca do Campo tem, por um lado, exemplos de pessoas que têm sabido dedicar algum do seu tempo à sua proteção e, por outro, tem exemplos de gente de coração empedernido que trata os animais como se calhaus fossem.
Em 1945, Alice Moderno denunciou, no Diário dos Açores, o facto de “Vila Franca das Flores” se distinguir “pela guerra feita ao mais fiel amigo do homem, o pobre cão”.
No texto referido, intitulado “Envenenamento de um cão”, Alice Moderno menciona as denúncias que tem recebido por parte de vários vilafranquenses, entre os quais o Dr. Urbano Mendonça Dias, relativas ao “lamentável espetáculo que oferecem, expostos nas ruas, cadáveres de cães a que foi propinada estricnina por mão incógnita e impiedosa”.
Por último, Alice Moderno menciona um caso de abandono, muito comum nos dias de hoje, que mostra a crueldade de alguns e a humanidade de outros. Aqui fica o relato:
“Ultimamente deu-se mais um destes casos: um continental saiu da vila abandonando o um pobre cão que possuía.
Uma gentil criança, filha do sr. Manuel Cabral de Melo, residente na rua da Vitória, tomou o desamparado quadrúpede sob a sua proteção, e todos os dias lhe fornecia um repasto que lhe garantia a existência.
Pessoa de mau coração - parece que moradora na mesma rua e muito embora o infeliz animal fosse absolutamente inofensivo, entendeu eliminá-lo da circulação envenenando-o cruelmente com grande mágoa do seu jovem protetor, cujo excelente coração é digno de maiores elogios.
Felizmente, parece que semelhantes casos não se repetirão por muito tempo visto que no continente da República há quem esteja eficazmente ocupando dos direitos dos irracionais e do dever que assiste ao Estado de os proteger”.
Infelizmente, quase setenta anos depois, o flagelo do abandono de animais de companhia ainda não foi debelado. Até quando continuará o crime sem castigo?
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, nº 2946, 13 de Novembro de 2013, p.16)
segunda-feira, 11 de novembro de 2013
quinta-feira, 7 de novembro de 2013
terça-feira, 5 de novembro de 2013
A SERPENTINA EM VILA FRANCA DO CAMPO E EM SÃO JORGE
Em
texto publicado, no passado dia 30 de Outubro, fiz referência à utilização das
duas espécies que têm o nome comum de serpentina. Nesta edição do jornal,
limitar-me-ei a escrever sobre a serpentina-mansa (Arum italicum), nomeadamente sobre o seu uso para o fabrico de uma
farinha na Ribeira Seca de Vila Franca do Campo e nas Manadas, ilha de São
Jorge.
Na
ilha de São Jorge, a serpentina é também designada por jarroca. De acordo com
uma recolha efetuada há alguns anos pelo Centro de Jovens Naturalistas de São
Jorge, junto da família Raposos da localidade das Manadas, a soca era apanhada
nos meses de Abril e de Maio.
Depois
de colhidas as socas eram lavadas e raspadas com uma faca para retirar a “pele”
e a seguir eram moídas num moinho de carne. A polpa obtida era colocada num
alguidar com água que era mudada durante três dias. Em seguida, era escorrida e
colocada num tabuleiro até secar bem.
Para
além de ser usada no fabrico de papas, a farinha de serpentina era tida, em São
Jorge, como bom remédio para “a diarreia de pessoas e animais”.
Ainda
de acordo com a mesma fonte, a farinha de serpentina também era usada para
fazer goma, procedendo-se do seguinte modo: “Para tal, dissolve-se, em água
fria, a farinha de jarroca, junta-se água a ferver e, enquanto morna, molha-se
a roupa que se põe a secar. Ainda húmida passa-se o ferro até enxugar”.
Por
último, na mesma nota que vimos referindo e que foi da autoria da senhora Maria
José Silveira Azevedo, das Manadas, ficamos a saber que “em tempos de fome, o
povo ia pelos “biscoitos” e matas procurar a soca de jarroca e a soca de feto
para fazer farinha com que preparava uma massa que era cozida em bolos, no
tijolo”.
Na
Ribeira Seca de Vila Franca do Campo, na década de 70 do século passado, alguns
homens, sobretudo camponeses sem terra, dedicavam-se à recolha da serpentina
para compensar a falta de trabalho em alguns meses do ano. Lembro-me de ver
alguns deles com sacas às costas e a deixá-las na casa da senhora Antonina
“Trovoa” que morava na rua do Jogo.
Segundo
Manuel Francisco, sobrinho de Antonina “Trovoa”, grande parte da farinha
produzida na Ribeira Seca era vendida para Ribeira Grande, presumivelmente para
Ezequiel Moreira da Silva que chegou a fazer a sua exportação para Lisboa.
Na
altura, era muito fácil encontrá-la na Ribeira Seca ou nas localidades
vizinhas, enquanto hoje a bibliografia menciona a sua abundância sobretudo na
Ribeira Chã e nos Arrifes. Nas minhas caminhadas pela ilha de São Miguel,
tenho-a encontrado um pouco por toda a parte, sendo muito fácil encontrá-la no
Pico da Pedra.
Em
conversa recente com Madalena Oliveira, moradora na rua da Cruz, na Ribeira
Seca de Vila Franca do Campo, talvez a única pessoa que ainda mantém viva a
tradição no concelho, confirmei tudo o que havia tomado conhecimento através de
diversa bibliografia consultada, a qual não incluía o livro recentemente, e em
boa hora, editado pela Junta de Freguesia da Ribeira Chã “Serpentina Uma
Tradição de Raiz”, da autoria de Teresa Perdição.
Madalena
Oliveira que, aprendeu com sua mãe, Maria dos Anjos Salema Carreiro, e sua avó,
referiu que a recolha dos rizomas é feita antes de a plantas espigarem,
sobretudo nos meses de Fevereiro e Março, mês em que obteve melhores
resultados.
Como
principais instrumentos usados na transformação dos rizomas em farinha,
Madalena Oliveira mencionou um ralador adaptado para o efeito, uma peneira de
milho, uma dorna de madeira e panas de plástico que substituíram os alguidares
de barro. Longe vão os tempos, referidos por Silvano Pereira, em 1947, em que
os rizomas eram desgastados “pela fricção contra uma pedra ou tábua de lavar”.
Numa
altura em que está difícil a vida para quem vive do seu trabalho, a recuperação
e valorização de conhecimentos e práticas antigas deve merecer o carinho de
quem tem nas suas mãos a gestão da coisa pública, a começar pelas Juntas de
Freguesia que são quem está em contato direto com as populações.
No
passado, escreveu Silvano Pereira, o fabrico de farinha de serpentina
constituiu “uma pequena indústria rural” que deu origem a “um comércio de certa
importância”. Hoje, poderá ser um complemento ao rendimento de algumas
famílias.
Teófilo
Braga
(Correio
dos Açores, nº 2940, 6 de Novembro de 2013, p.16)
sábado, 2 de novembro de 2013
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