segunda-feira, 20 de junho de 2011

Escola da Ribeira Seca vai fechar?



Secretaria da Educação nega ter conhecimento de protesto

Em reacção ao protesto veiculado à comunicação social pelo alegado encerramento da Escola e Jardim de Infância Professor Teotónio Andrade, aSecretaria Regional da Educação e Formação recusou pronunciar-se sobre o assunto por não ter conhecimento oficial da queixa. Fonte da Secretaria adiantou que não deu entrada nenhum protesto de pais ou encarregados de educação dos alunos da escola da Ribeira Seca. A mesma fonte avança que dentro de alguns dias vai ser divulgada publicamente a reorganização de recursos do sistema Regional de Ensino no concelho de Vila Franca, e ainda que a reorganização de recursos tanto em Vila Fanca como em todo o arquipélago destina-se a uma melhor oferta pedagógica aos alunos do sistema de ensino
regional • fc/pf

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Cereais



1 - A propósito do trigo

A leitura da “História do Povo Açoriano”, da autoria do Doutor José Maria Teixeira Dias, trouxe-me à memória alguns “episódios” relacionados com o cultivo do trigo e do milho na Ribeira Seca de Vila Franca do Campo.
A cultura do trigo, no final da década de 50 e na década de 60 do século passado, não se destinava, na maior parte dos casos, ao consumo local, pois a grande parte da produção destinava-se a ser vendido. O pão de trigo para muitas famílias só era comido em dias especiais, sendo a base de alimentação o pão de milho.
Na mesma altura, muitas crianças sobretudo das famílias mais carenciadas eram “contratadas” para vigiar a praga dos pássaros. O seu trabalho consistia em estar nas terras e quer com gritos, quer fazendo mexer alguns espantalhos evitar que os pássaros estragassem as sementeiras.
O transporte do trigo para a debulha já começava a ser mecanizado, mas ainda era feito pelos últimos carros de bois existentes na localidade. Os rapazes muitas vezes aproveitavam a boleia, pendurando-se nos carros, e deslocavam-se para as duas debulhadoras que se localizavam na Estrada Nova. Tanto na debulhadora do “Cabo do Mar”, como na do “Inácio” formavam-se grandes montes de palha que eram usados para as brincadeiras das crianças, nomeadamente para darem grandes saltos.
Para além do referido, há duas coisas que, de vez em quando, me vêm há memória: uma máquina a vapor e o trigo que era destinado ao Dr. Simas.
Se as debulhadoras mencionadas já funcionavam com um tractor acoplado, isto é o combustível utilizado já era o gasóleo, antes desta na Figueira do Casquete existiu uma que funcionava com uma máquina a vapor. Esta foi a única que vi na minha vida em funcionamento e talvez tenha sido o fascínio que tenho por velharias que me levou, com a ajuda do Sr. Mário Melo, a pôr em funcionamento uma miniatura de uma máquina a vapor existente na Escola Secundária Antero de Quental.
Estando uma vez numa das debulhadoras, verifiquei que nem todo o trigo de alguns produtores era-lhes entregue. Com efeito, observei que uma parte pequena era posta de lado e segundo me disseram era para o Dr. Simas. Não tenho a certeza se era directamente para o referido médico, se se destinava ao hospital ou à Santa Casa da Misericórdia, mas uma coisa é certa, funcionava como um “seguro” de saúde.

2 - Escudo ou maçaroca
de milho?

O meu avô Manuel Soares era uma dos habitantes da Ribeira Seca que cultivava o milho para o fabrico do pão e para alimento das galinhas e da égua. As vacas e os dois bois de trabalho ficavam com a gavela (folhas) e com o galho (espigas).
Para a farinação do milho passavam pelas ruas vários moleiros, mas a minha avó preferia que o trabalho fosse feito pelo irmão, Manuel Verdadeiro e, mais tarde pelo seu filho Ângelo Verdadeiro, que tinha uma moagem eléctrica na Rua Nova.
O milho, para além de alimento, era também a “moeda” usada por alguns habitantes. Era com milho que se pagavam algumas compras, como o peixe que os vendilhões vendiam pela rua e até o vendedor de gelados, trocava um por meia dúzia de maçarocas.
Naquela época de dificuldades para a maioria da população, o que fazia com que as mesmas fossem minimizadas era a ajuda mútua entre as pessoas. De entre os exemplos que poderia apresentar, deixo aqui os relacionados com a apanha do milho.
Sempre que chegava um carro com milho e o despejava à porta de um dos moradores, os vizinhos (e os rapazes e as raparigas, que se encontravam na rua a brincar) imediatamente se uniam para ajudar no transporte do milho para o interior das casas. E a ajuda não ficava por aqui, aos serões as mulheres iam também para a casa das vizinhas mais próximas auxiliar a amarrar o milho, isto é agrupar um conjunto pequeno de maçarocas, usando para tal um fio de espadana, de modo a tornar possível a sua colocação nas arribanas a fim de o guardar e secar.
Hoje, ultrapassada (?) a miséria de então, parece que a solidariedade deixou de ser espontânea, profissionalizou-se.

8 de Junho de 2011
Autor: Teófilo Braga
Fonte: Correio dos Açores